José Geraldes

Saúde mental e solidão


Todos os anos a nível internacional o dia 11 de Fevereiro de cada ano é dedicado ao doente. Trata-se de uma iniciativa lançada pelo saudoso papa João Paulo II, em 1992, e que colheu a adesão imediata não só das comunidades cristãs mas também da sociedade civil.
Numa sociedade marcada pelo egoísmo, o doente deve ocupar um espaço próprio. Ninguém pela natureza do ser humano está imune à doença. Que nos pode atingir de um momento para outro. Daí o interesse e atenção a dedicar a este dia.
O doente é um ser humano que se vê fragilizado e com o maior bem da vida que é a saúde, com problemas. Nesta altura não é só o doente que sofre mas também a família e os amigos sentem mágoa e dor. E a doença é oportunidade de enriquecimento humano.
Teilhard de Chardin, grande cientista, em expedição na China, escrevia à sua irmã Margarida amarrada a uma cadeira de rodas: “Margarida, irmã minha, enquanto eu entregue às forças positivas do universo, percorria os continentes e os mares, tu imóvel, transformavas silenciosamente em luz, no mais fundo de ti mesma, as piores sombras do mundo. Aos olhos do Criador, diz-me: qual dos dois terá tido a melhor parte?”
A situação da doença gera grandes solidariedades que se devem acalentar e desenvolver. E muitas vezes reconcilia o doente com ele próprio nas contradições da sua vida. Também suscita revolta. Mas a aceitação da doença acaba por gerar uma certa paz interior.
O cientista via bem o problema. Um doente na sua condição pode transformar-se a si próprio e “ ser luz para as piores sombras do mundo”. Um exemplo de como o estar doente pode ter tanto valor em relação a feitos importantes.
Este ano foi escolhido como tema a “saúde mental e física durante toda a vida”. Em Portugal, tomou-se como lema deste dia “promover a saúde mental, acolhendo a pessoa doente”.
Os doentes mentais são os mal-amados da sociedade de hoje. Com o culto do corpo e do sucesso imediato transformados em valores, quem não estiver nesta onda, é marginalizado. Ora impõe-se remar contra esta tendência a todo o custo.
Um dos obstáculos a vencer é a solidão. O doente mental sem apoio da família e da Comunidade vê agravar o seu estado, julgando-se um inútil.
Bento XVI, na mensagem escrita para este dia, aborda claramente a possibilidade das exclusões: “O contexto social nem sempre aceita os enfermos da mente com as suas limitações”. E sublinha a necessidade de integrar “terapia adequada” e “nova sensibilidade frente á dificuldade” para que “se permita, aos agentes do sector, sair com mais eficácia ao encontro dos enfermos e das famílias que, por si só, não têm a capacidade de seguir adequadamente os seus familiares em dificuldade”.
A crise dos valores morais tem influências negativas. Escreve o Papa: “Em muitos países, os especialista reconhecem com origem de novas formas de transtorno mental, a influência negativa da crise de valores morais. Isto aumenta o sentido da solidão”. E como tal acontece? A explicação é clara: “Perturbando e mesmo desagregando as tradicionais formas de coesão social, começando pela instituição da família e marginalizando os doentes sobretudo os mentais”.
O doente começa a ser considerado um peso para a família e para a Comunidade.
Para que isto não aconteça, o dia mundial do doente pode transformar-se numa jornada que inicie uma mudança de mentalidade a respeito dos doentes mentais que merecem uma solidariedade sem falhas.