Paulo Serra

Reflexão em forma de diálogo


O diálogo que se segue tem, como intervenientes, um Pai de 79 anos, que vive na aldeia, e um Filho, de 49 anos, que vive na cidade. Decorre na aldeia em que mora o primeiro, durante o jantar, e enquanto ambos assistem ao noticiário da televisão.


PAI: Ontem, em Lisboa, rebentou uma conduta de água em Santa Apolónia. Foi cá uma inundação…

FILHO: Pois foi, foi um problema. Até arrastou carros e tudo!

PAI: E o que aconteceu no Iraque? Parece que morreram mais três soldados americanos com uma bomba.

FILHO: É uma chatice, aquela situação. Não há meios de acalmar. Já morreram mais soldados em tempos de paz do que durante a guerra.

PAI: O Sporting lá ganhou ao Benfica, hem? Assististe ao jogo? Os benfiquistas ficaram cá com uma cabeça…

FILHO: Pois é. Quem deve ter ficado triste é o Joaquim Santos. Já falaste com ele?

PAI: O Joaquim Santos? Já não sei dele há muito tempo.

FILHO: O filho dele, que estava doente, já está melhor?

PAI: Francamente, não sei. Não tenho passado lá para o fundo do povo, e ninguém me tem dado novas dele.


O diálogo anterior não encerra uma moral, mas uma teoria e uma política da comunicação. Essa teoria e essa política dizem que o que importa não é o que os meios de comunicação fazem das pessoas, mas o que as pessoas fazem dos meios de comunicação. O que as pessoas fazem dos meios de comunicação é, no essencial, encará-los como espelhos da realidade social. E esse espelho tende a mostrar uma realidade social que é, cada vez mais, a que está longe e, cada vez menos, a que está perto.
Durante os últimos seis anos, e fazendo plenamente jus ao seu nome, o Urbi et Orbi tem procurado contrariar essa tendência, trazendo a cada um dos seus leitores não só o que está longe mas também o que está perto; o que se refere ao Iraque e a Lisboa, mas também à nossa “aldeia”. Que esse desiderato tem sido atingido com sucesso mostra-o, também, a audiência que na Universidade, na Cidade, no País e mesmo no Mundo não tem parado de crescer.
Não menosprezando o esforço de todos aqueles que, ao longo deste tempo, têm contribuído para que o Urbi seja uma realidade todas as terças-feiras, de todas as semanas, de todos os anos, fica aqui uma palavra especial para o António Fidalgo, a Anabela Gradim, o João Canavilhas, a Catarina Rodrigues e o Eduardo Alves.