Sindicato da Zona Centro ajuda docentes
“Para quem fica mal colocado é um problema”

Querem tirar dúvidas e preencher correctamente os impressos, para não serem excluídos por um pormenor. Até ao final do mês muitos professores passam pelos sindicatos durante o concurso a uma colocação. Quanto às alterações introduzidas, não poupam críticas ao Governo.


NC / Urbi et Orbi

Este ano o concurso de ingresso vai valer por três períodos lectivos

“A colocação dos professores por três anos não vai nada trazer estabilidade. Só se ficarem bem colocados, porque senão é um problema a multiplicar por três”, diz uma das docentes presentes no Sindicato dos Professores da Zona Centro, para tirar dúvidas sobre o concurso para a colocação, que decorre este mês.
Professora do ensino especial, defende, como os colegas com quem troca impressões na sala de espera, que a alteração não beneficia os professores e que não tem lógica, por ter um carácter de obrigatoriedade, sem a alternativa de o professor poder voltar a concorrer no ano seguinte no caso de ter ficado descontente com a colocação.
O nome prefere não revelar, mas lamenta que o concurso não pense nos professores e lembra que os docentes também são pais e têm família. No seu caso, recorda, já foi parar a locais como Alcochete e Figueira de Castelo Rodrigo, neste caso quando estava em estado avançado de gravidez. Um risco que Filomena Marques, de 46 anos, já não corre, mas que lhe aconteceu há quatro anos, quando teve de deixar na região a filha e o marido e ir para Bragança.
Excepto para os professores que têm vínculo ao quadro de uma escola, a possibilidade de serem colocados longe de casa está sempre presente. Para uns mais que outros. Porque até os professores afectos ao chamado Quadro de Zona Pedagógica, que corresponde mais ou menos à área geográfica do distrito, apesar desses limites, tanto podem ficar em Belmonte como na Sertã ou Oleiros.

Vão ao sindicato tirar dúvidas

A aguardar que os impressos da sua candidatura sejam vistos, António Pinheiro, professor do primeiro ciclo de 40 anos, diz-se um optimista. Numa pose mais descontraída que a maioria das pessoas que passam por ali, e num tom irónico, diz que a classe anda “anestesiada” com as alterações. “A situação está a mudar tanto que não sabemos o que vem por aí”, sublinha.
Residente em Belmonte, está a dar aulas no Teixoso. E apesar dos 18 anos de serviço há dois foi colocado na Sertã. Valeu-lhe uma permuta e a sorte de encontrar um colega daqueles lados colocado aqui que queria trocar.
A candidatura é entregue pela Internet. No entanto, opta por passar sempre pelo Sindicato. “É mais fácil. Não tenho de estar a ler toda a legislação e é para isso que pago quotas”, salienta. E acrescenta que é necessário ter todo o cuidado no preenchimento, porque “por qualquer erro, qualquer desatenção, excluem as pessoas”.
Carlos Costa, responsável pela delegação do Sindicato, diz que com a generalização das candidaturas via Internet muito menos professores vão ao apartamento da Rua Mateus Fernandes preencher os formulários. Mas frisa que continua a ser muito procurados. Presencialmente, por mail ou telefone. As dúvidas mais frequentes prendem-se com a legislação aplicável. Noutros casos para colocarem questões práticas sobre as possíveis consequências das alterações introduzidas.

“Mais vagas é mentira”

Segundo este dirigente sindical, os professores estão preocupados se, mesmo com a durabilidade do concurso por três anos, as escolas podem usar o estratagema da vaga guardada na gaveta ou que as escolas, relativamente aos contratados, venham a ter “reacções clientelares ou de amiguismo” e caso não tenham horário completo no ano seguinte digam que não precisam dos seus serviços. Porque são os conselhos executivos que decidem nesses casos se o professor fica ou não, independentemente da colocação por três anos, alerta Carlos Costa.
Ilda Cerqueira, de 36 anos e há 14 educadora de infância contratada, veio esclarecer outra dúvida. A alteração foi “feita este ano mas não divulgada”. Ficou a saber que, apesar de já ter tirado a licenciatura, não vai poder concorrer com esse grau mas apenas com o bacharel de sempre. Porque é contratada e ao contrário do que acontece com quem está na mesma situação mas tem vínculo ao quadro ou escola.
“Sinto-me revoltada e discriminada por ser contratada, depois dos sacrifícios que fiz. Quase que tenho vontade de deixar o ensino e deixar de passar por estas coisas”, diz, nervosa, logo após constatar o seu impedimento.
“Depois dizem que vão ter mais vagas, ainda por cima com tanta escola a fechar. É mentira, uma falácia. Onde é que elas estão? Vão buscar é vagas criando estas situações, impedindo outros de concorrer”, frisa, indignada, Filomena Marques, enquanto tenta reconfortar a colega.
Um dia como outros no sindicato. Apesar de a carreira de professor não criar cabelos brancos a uns, outros não podem dizer o mesmo e, após anos a cheirar pó de giz, continuam a ver instabilidade no horizonte, embora o Governo quês garante que não.