GICC e Quarta Parede assinalaram o Dia Mundial do Teatro
Dia Mundial do Teatro
Porque o mal não compensa

Os mais pequenos deliciaram-se, os adultos maravilharam-se. A peça “Elixir dos Desejos”, do imaginário infantil e juvenil, consciencializou para problemas ambientais ao mesmo tempo que encheu a plateia de sorrisos.


Por Liliana Ferreira


Num desordenado mundo como o nosso, onde poluição, epidemias, guerras e corrupção coabitam, a consciencialização deve surgir desde bem cedo. Com esse propósito, este sábado, 25 de Março, o teatro tomou posse do seu papel "despertador de mentes" e levou a palco a peça "Elixir dos Desejos", adaptação de Isabel Bilou da obra homónima de Michael Ende.
Em vésperas do Dia Mundial do Teatro o espectáculo, que faz as honras de abertura aos festejos relativos à efeméride, foi inteiramente dedicado aos mais jovens. A sala de espectáculos do Teatro das Beiras esteve praticamente cheia para se assistir a uma peça onde imaginário infantil e problemáticas sociais e ambientais bem reais fizeram as delícias de pequenos e graúdos. "Elixir dos Desejos" pretende ser, segundo Isabel Bilou, "um pequenino beliscão na adormecida passividade de quem consente, na indiferença de quem vê e cala".
Em cena juntam-se um feiticeiro cientista e uma bruxa do dinheiro. Estes "simbolizam de uma forma directa e transparente o jogo de interesses de quem sem escrúpulos pactua com o próprio diabo, vendendo-lhe não só a alma mas também as cinzas do nosso velho planeta contaminado". Em contraposição aos vilões da história, encontram-se o corvo, Jacob Rabisco, e o gato, Maurízio de Mauro. Dois agentes secretos infiltrados que "unidos na cumplicidade e na coragem conseguem superar todos os obstáculos, rasgar a teia de enganos e mentiras e assim evitar o terrível holocausto" que aconteceria na festiva noite de S. Silvestre.
Uma peça produzida tendo em consciência a grave situação ecológica do planeta terra, que alia, num mesmo cenário de conto de fadas, o fantástico e o real, a luta eterna entre o bem e o mal. No fim, a plateia elogiou o bom trabalho dos actores, contente com o desfecho da trama. Afinal, "tudo está bem quando acaba bem".

Refletir o teatro a pensar no público

Outros eventos marcaram as comemorações do Dia Mundial do Teatro. Para além da peça "Elixir dos Desejos", o Teatro da Beiras e a Quarta Parede (Associação de Artes Performativas da Covilhã) desenvolveram outras actividades que propunham uma reaproximação do público com o teatro e as suas múltiplas dimensões.
Domingo, 26 de Março, foi dia de aliar cinema e teatro num mesmo espaço. No grande ecrã apresentou-se o filme "MaratSad", de Peter Weiss, com encenação de Peter Brook. Baseado em factos verídicos, o filme retrata a estadia do Marquês de Sade num manicómio. Durante esse período, os médicos responsáveis encenavam peças com os internados como forma de os reabilitar. Peter Weiss inventou um enredo em que o Marquês de Sade escreve uma peça que dramatiza o homicídio de um dos líderes da Revolução Francesa.
A carência de público contamina actualmente a actividade teatral. Como tal, o Dia Mundial do Teatro foi também um dia de reflexão. "Programação e Formação de Público" foi o tema escolhido para um debate que contou com a presença de Américo Rodrigues (Teatro Municipal da Guarda), Miguel Nascimento (IPJ de Castelo Branco), Graça Passos (CENTA), Fernando Sena (Teatro das Beiras) e Rui Sena (Quarta Parede).
"Falta de apoios e motivação das várias entidades são hoje os grandes entraves postos ao teatro", disseram os conferencistas. No fundo, como defende Rui Sena, "há que questionar o próprio espectáculo. O que é preciso fazer para o dinamizar, dar-lhe um toque cativante de originalidade".
Para encerrar o programa de comemorações alusivas ao dia, a Quarta Parede apresentou "Stracciatella". Um espectáculo de performance que "procura a corporalidade das memórias corpo de experiências revisitadas, da qual o próprio visitante é parte inerente. Habitantes e Visitantes são o elo de ligação entre o que é memória e o presente".