Costa Rica na Covilhã
Uma mulher que vem do céu

No seguimento do X Ciclo de Teatro da Beira Interior, a proposta da Universidade da Costa Rica para o dia 21 de Março foi “La mujer que cayò del cielo”. A peça conta a história real de Rita, uma índia que vai sofrer as consequências de entrar num mundo que não é o seu.


Por Helena Mafra

O grupo de teatro da Costa Rica apresentou o seu trabalho no Teatro-Cine

Quando alguém ousa atravessar as barreiras da sua própria cultura, dificilmente a sua alma se apraz com a alma de outrem. Rita foi esse alguém. Provinda da tribo Tarahuara, quis o destino que a encontrassem a três mil quilómetros de distância do seu povo, em Kansas, nos Estados Unidos. Nesta terra, do outro lado do mundo, a diferença falou mais alto. Incompreendida na sua linguagem, é considerada louca. E os loucos se internam no manicómio. É numa cela deste hospício que passa os doze anos seguintes. E aqui se desenrola a acção de “La mujer que cayò del cielo”.
A obra de Vítor Hugo Rascón Bando, adaptada pelo teatro da Universidade da Costa Rica, conta a vida de Rita a partir do momento em que é internada na casa de loucos. Os tradutores não entendem o seu dialecto. Os médicos tão menos compreendem os seus gestos. Rita não se consegue fazer entender. Doze anos de experiências e drogas traduzem o que lhe fora diagnosticado: loucura; esquizofrenia.
A sua história transforma-se numa lenda. Ao acaso, Miguel Angel, emigrante mexicano, ouve falar de Rita. Tarahuara não lhe era um nome estranho e foi ao encontro da mulher. Ficou indignado com aquele espaço, com tamanha ignorância dos médicos, com tanta crueldade. A partir de então, indagou, procurou e descobriu a verdade daquela “louca”. Ela era tão-somente uma pessoa de uma cultura diferente. Diferente na língua, sobretudo. A índia da tribo Tarahurara saiu, por fim, do manicómio. Graças àquele homem – o seu salvador.
A vida de Rita não é, hoje, melhor. Apesar de Miguel Angel ter processado o hospital, esqueceu-se de que o dinheiro não fazia sentido para ela. No fim de contas, a índia vive, hoje em dia, na Sierra, sozinha, abandonada. Ao que dizem, realmente louca. Foram tantos anos de drogas.
Num enlace entre a realidade e a dramaturgia, “La mujer que cayò del cielo” é a verdadeira representação da Torre de Babel. Uma peça que “tocou, em especial, pela veracidade dos factos”, relatou Miriam Viegas, uma das cerca de meia centena de pessoas que assistiram à história da Rita. No palco, Maria Bonilla, Manuel Ruiz, José Montero e Abelardo Vladich foram os actores que deram vida às personagens do drama.