José Geraldes

Covilhã sem maternidade? Nunca


A questão das maternidades está, de novo, em discussão. Trata-se de um problema sensível, pois o nascimento faz parte da identidade de cada um de nós. O lugar do nascimento acompanha-nos durante toda a vida e determina as nossas referências geográficas, familiares e psicológicas.
Dizer o local onde nascemos estabelece logo à partida cumplicidades afectivas e de ligação a pessoas que até nem podemos conhecer mas que sabendo da nossa origem nos passam a considerar quase como família.
Todos já experimentámos situações deste género em que o mesmo local de nascimento concretiza laços de amizade e de intimidade para toda a vida.
Um estudo feito há 20 anos põe em questão o número de maternidades existentes no País. Recentemente foi entregue um relatório ao Governo com a indicação de maternidades a encerrar. Ou seja, os lugares de nascimento passam a ser programados.
Em vez de se nascer na sua cidade, vai-se nascer noutro concelho ou distrito ou mesmo ao estrangeiro. Temos o exemplo de Elvas, uma das maternidades condenadas e cujas parturientes passam a ser encaminhadas para Badajoz em Espanha.
Os argumentos utilizados fundamentam-se em despesas acrescidas e melhoria dos serviços. Não se nega esta evidência. Mas o caso da Beira Interior tem especificidades a ter em conta.
O ministro Correia de Campos evitou tomar uma decisão e atribui o veredicto ao futuro Centro Hospitalar da Beira Interior constituído pelos hospitais da Covilhã, Guarda, Fundão e Castelo Branco. Será o Conselho de Administração deste organismo a dar o veredicto final até Dezembro.
Jorge Branco, presidente da Comissão de Saúde Materna e Neonatal, a propósito da localização da sala de partos, invoca “a especificidade da neve” como factor para a decisão. Politicamente isto quer dizer que a Covilhã pode não ficar com a sala de partos e o fecho da maternidade um acto consumado. Mas invocar a “neve” revela pobreza de argumentos.
O Hospital da Covilhã sem a maternidade não faz qualquer sentido nem tal se deve admitir. Cabe na cabeça de alguém um hospital universitário sem maternidade? A cidade da Covilhã é a que tem melhor situação geográfica em relação à Guarda e a Castelo Branco.
O presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar da Cova da Beira, João Casteleiro, com a sua autoridade, diz a verdade incontestável: “ É a Covilhã que tem as melhoras condições”. Haverá ainda lugar para dúvidas? Só se houver intenções reservadas.
Se a Covilhã ficar sem a maternidade, não é pois por argumentos irrebatíveis. É, apenas, por decisão política. Claro como água.
Toda a população da Covilhã deve estar informada e mobilizada sobre este assunto. Não se trata de uma simples atitude de bairrismo. Mas de uma tomada de posição fundamentada solidamente.
Uma questão como esta não pode ser resolvida por jogos de bastidores. Por isso, a posição da Câmara Municipal é de realçar e merece o apoio sem limitações. Igualmente a moção de repúdio aprovada pelo Executivo.
Se é necessário, que se faça mobilização popular como o presidente da autarquia anunciou, contra o fecho da maternidade na Covilhã. E se tomem outras iniciativas no mesmo sentido.
A Covilhã não, nunca, pode ficar sem a maternidade. “Haja o que houver”, como diz a canção dos Madredeus.