Congresso Ibérico na UBI
Pensar o futuro de África

Durante três dias, a Universidade da Beira Interior vai receber investigadores, políticos, artistas e interessados nas questões africanas. O V Congresso de Estudos Africanos no Mundo Ibérico, tem como objectivo compreender trajectos e olhar o futuro de África. O evento que decorre entre os dias 4 e 6 de Maio reúne investigadores ibéricos de todas as áreas.


Por Eduardo Alves

José Carlos Venâncio, docente da UBI, é um dos organizadores do evento

O próximo Congresso de Estudos Africanos no Mundo Ibérico a ter lugar em terras lusas visa “interrogar a direcção e as condições de desenvolvimento de África”, explica José Carlos Venâncio, presidente da Comissão Organizadora e docente na UBI. Durante três dias, cerca de 120 pessoas vão estar na Covilhã com o intuito de analisar a África Subsariana em diversos domínios: económico, social, político e cultural.
Uma discussão “que se pretende abrangente” e que vai reunir toda a comunidade de africanistas da Península Ibérica. De entre os membros já confirmados nas diversas sessões, destaque para personalidades como Adriano Moreira, Boaventura Sousa Santos e Aginaldo Jaime, este ministro-adjunto do primeiro-ministro do Governo de Angola e um reputado especialista em questões financeiras e económicas. Portugal e Espanha juntam assim “pessoas que têm vindo a defender uma atitude optimista em relação à África”, refere José Carlos Venâncio. O presidente do Departamento de Sociologia da UBI adianta que esta convenção vai pensar “as relações económicas e internacionais dos Estados Ibéricos com África, mormente com a de língua portuguesa”. Isto é, os trabalhos que vão ser desenvolvidos ao longo de três dias na UBI “abordam várias áreas de forma mais alargada, passando por falar em questões ligadas à sociedade e também ao património cultural”. Venâncio mostra-se algo crítico em relação à forma como muitas vezes se abordam estas questões. Isto porque, o campo cultural e social nem sempre é devidamente atendido. O docente da UBI chega mesmo a dizer que “as relações no âmbito da CPLP e da Lusofonia não existiam já se não fosse o fundo cultural e linguístico que une os países da organização”.
Um dos objectivos deste congresso organizado pelo Centro de Estudos Sociais da UBI, com a colaboração de docentes e investigadores portugueses e espanhóis da Rede Ibérica de Estudos Africanos passa pois “por dar uma maior visibilidade e mostrar que a aposta deve ser também nas questões culturais”, sublinha Venâncio. Esta iniciativa pretende também inventariar o percurso dos Estudos Africanos em Portugal (desde o 25 de Abril) e na Espanha, tentando construir uma estratégia comum aos dois países para o desenvolvimento desta área de estudos. A comissão organizadora espera que daqui possa resultar uma estratégia mais acertada, em termos ibéricos, no relacionamento com África.
Outro dos pontos que vai dominar a agenda dos três dias de trabalho passa por “analisar de que forma se poderá recolocar a problemática do continente africano no centro das atenções académicas no mundo ibérico”, anuncia a comissão.



UBI como universidade central

A realização deste evento na Covilhã marca “a centralidade da UBI”, diz José Carlos Venâncio. Este docente e presidente da comissão organizadora do evento explica que “a Covilhã está no meio das duas capitais ibéricas”, o que facilita o contacto e a presença de um grande número de estudiosos. Um objectivo que passa “não só por agregar docentes e investigadores como também pessoas ligadas à cultura e até às actividades económicas”. José Carlos Venâncio adianta que este quinto congresso vai também contemplar a cooperação entre empresários ibéricos e africanos, “a nível local”. A Covilhã poderá ter assim pontos de ligação, nesta área com diversas regiões africanas, mormente com Angola e Cabo Verde, a uma escala comercial “diferente da que actualmente os grandes grupos económicos promovem”. Venâncio olha, neste caso, para a recente visita de José Sócrates a Angola, com algumas dúvidas. Isto porque, o primeiro-ministro português integrou na sua comitiva diversos empresários de grandes grupos económicos, mas “as relações entre a Península Ibérica e Angola também se devem fazer nestas escalas locais, com pequenos empresários”.
No tocante à história deste tipo de actividades, os dois primeiros Congressos de Estudos Africanos no Mundo Ibérico realizaram-se em Madrid. A primeira iniciativa teve lugar na capital espanhola em 1991, no Colégio Mayor Universitario Nuestra Señora de África, e o II Congreso de Estudios Africanos en El Mundo Ibérico “África Hacia el Siglo XXI” decorreu de 15 a 17 de Setembro de 1999. A terceira edição, que teve lugar em Lisboa, nos dias 11, 12 e 13 de Dezembro de 2001, foi subordinada ao tema “Novas relações com África: que perspectivas?”. De modo a dar seguimento a espaços de reflexão crítica, o foco incidiu sobre questões epistemológicas e construções imagéticas sobre África, abordando-se sistemas políticos, identidades, processos económicos ou o fenómeno da globalização, numa revisão de conceitos e de formas de actuação nas relações com o continente africano. Barcelona acolheu, entre 12 e 15 de Janeiro de 2004, o quarto congresso, desta vez com o título “Africa Camina”. Na continuidade da reflexão sobre questões da imagem de África, o foco recaiu na forma como se pode ultrapassar a perspectiva que encara o continente como lugar de ausências, precariedades e ingerências externas. Destacou-se o papel tantas vezes obliterado de África a partir de uma óptica que salienta a vitalidade das suas dinâmicas internas, mormente as contribuições e influências de África sobre as outras sociedades do mundo, no passado, no presente e em potencialidades futuras. A quinta edição terá lugar entre 4 e 6 de Maio na Covilhã e o sexto congresso deverá ocorrer nas Canárias, em data a definir.