Comemorações do 32º aniversário do 25 de Abril
Do imaginário à realidade da prostituição

Inês Fontinha já foi considerada personalidade do ano, e foi nomeada para o Prémio Nobel da Paz, pelo trabalho desenvolvido na Associação “ O Ninho” que presta apoio a pessoas prostituídas. Na passada sexta-feira, 22 de Abril, esteve na Covilhã para discutir o tema «Prostituição: imaginário e realidade».


Por Esmeraldina Costa


Na mesa esteve o jornalista Paulo Pinheiro, Inês Fontinha, ao centro e Ângela Sabino

A prostituição continua a ser um problema social do qual pouca gente quer falar. E quando de discute a regularização das «casas de passe» no nosso País, as divergências de opinião ainda são muitas. Inês Fontinha e Ângela Sabino, do Movimento Democrático das Mulheres, têm uma visão muito clara sobre o assunto, e são contra a legalização desta actividade. Ângela Sabino sublinha mesmo que a legalização “ não se trata de liberdade mas sim de tortura”.
O debate com Inês Fontinha começou por ser uma contextualização do surgimento das discussões sobre a legalização dos bordéis. A dirigente da Associação “O Ninho” afirma que os governos defendem esta legalização com base na saúde pública: “Alguns governos pensam que a regularização das casas de passe seria um passo no sentido de maior segurança para a saúde pública” refere.
Para Inês Fontinha, existe neste argumento um sentido discriminatório, visto só estarem as mulheres sujeitas ao rastreio, para não contaminarem os homens: “A igualdade de género caiu por terra quando a mulher é considerada um objecto” declara. Considerar a prostituição como um trabalho como outro qualquer e facilitar o recrutamento para a prostituição até junto das escolas, são algumas das previsões que Inês Fontinha desenvolveu no debate, para mostrar as consequências de uma possível legalização da prostituição no nosso País. De forma a exemplificar estas situações, recorreu ao caso da Alemanha, que legalizou o proxenetismo e a “indústria do sexo” em 2002. Inês Fontinha relatou à plateia um caso polémico na ocorrência do próximo Campeonato do Mundo do Futebol na Alemanha. Os industriais do sexo construíram um gigantesco complexo para a prática da prostituição: “É uma estrutura que pode acolher 650 clientes, erigida ao lado do estádio principal”.
Ainda expôs outra situação, de uma mulher que se dirigiu a um centro de emprego alemão à procura de um trabalho, e onde lhe propuseram trabalhar num bordel. Inês Fontinha explica que este tipo de situação ocorre porque através da legalização da prostituição, o estado angaria muito dinheiro, “na Holanda a prostituição representa sete por cento do produto interno bruto”, constatou. A indústria do sexo consegue rivalizar com o tráfico de armas ou de droga, pois como afirma Fontinha “uma mulher é reciclável centenas de vezes enquanto que a droga não”. O combate às causas que levam as mulheres a prostituir-se é, para a nomeada ao Prémio Nobel da Paz, o principal trabalho a realizar, de forma a contribuir para a “utopia” de acabar de vez com a prostituição. No “imaginário” de muita gente, ainda está a ideia de que as pessoas que se prostituem “estão lá porque querem”. Inês Fontinha já acompanhou 7000 mulheres e afirma que 90por cento tinham sido vítimas de violação durante a infância. A plateia, composta por professores, operários, gente ligada a administração local e às colectividades da região, participou de forma muito activa no debate, colocando várias dúvidas à oradora e desenvolvendo comentários próprios. A coordenadora do distrito de Castelo Branco dos sindicatos da região Centro, Dulce Pinheiro, mostrou-se bastante satisfeita com o debate, que integrou o programa das comemorações do 25 de Abril.
A organizadora da iniciativa sustentou a realização desta “ conversa” com Inês Fontinha como “uma discussão que tem tudo a ver com aquilo que foi a raiz do 25 de Abril, na defesa dos direitos humanos, da igualdade, na diferença entre o homem e a mulher” frisa Dulce Pinheiro. Sob o lema “25 de Abril, Porque é preciso” estas comemorações são levadas a cabo por várias organizações sindicais, associativas e recreativas do concelho da Covilhã e terminam no dia 30 de Abril com uma peça de teatro “O elixir dos desejos” de Michael Ende, no Teatro das Beiras.