No âmbito do 14º Ciclo de Teatro Universitário da Beira Interior, realizou-se no dia 16 de Março, pelas 21.45 horas, a apresentação da terceira peça deste ciclo, intitulada “Jorge” de Anthony West e encenada pela Companhia do Jogo, de Aveiro.
A peça que estreou a 11 de Março deste ano relata a relação entre Jorge (Ângelo Castanheira) e Margarida (Catarina Aidos). Uma relação de frieza e crispação, na qual a certa altura Jorge perde a sensibilidade de um pé. Aquando do desenvolvimento desta atrofia, Jorge e Margarida revêem, sonham e reinventam momentos da sua vida falhada. Despertando, assim, a atenção do público não só para uma metáfora sobre as relações humanas, mas também uma reflexão sobre o passar do tempo e os desejos escondidos, nunca realizados.
Esta peça conta com um registo de encenação diferente das duas peças anteriores desta companhia. Victor Valente, encenador e director de actores considera que “esta mudança de registo foi uma opção do grupo e para não nos perdermos em dogmas e não nos deixarmos influenciar pelas contemporaneidades e pelas tendências, deixando de moda e passando para a arte”. O facto de os actores também não trabalharem no mesmo registo, foi o segundo ponto assente pelo director que salienta “se o primeiro espectáculo foi de comédia, depois de “O Carros dos Loucos”, com maior abertura, pois fomos para a rua. Com esta peça quisemos que fosse um teatro mais intimista, fechado numa sala e fundamentalmente um teatro de actores”.
Ângelo Castanheira, o “Jorge” da peça revela que “em cada peça há um pouco do actor, havendo um trabalho árduo desde Janeiro”. Referindo a questão do registo desta peça, o actor diz que “foi complicado entrar neste universo mais pesado e está mais presente o trabalho de actor, o estado emocional”.
A actriz Catarina Aidos, que interpreta “Margarida” salienta que “qualquer mulher ou actriz encontrará a pessoa desesperada e facilmente descobrirá a personagem”. Quanto à história deste casal a actriz afirma “todos temos aquele sonho de que a nossa vida poderia ser muito melhor e até noutros momentos imaginamos aquilo que não foi”. O trabalho árduo foi uma questão também evidenciada pela actriz “havendo mesmo um confronto com nós mesmos, mas foi um prazer trabalhar nesta peça”. A receptividade do público e “a tristeza de não poder assistir as restantes peças deste ciclo” foi outra referência da actriz. “Adoro este tipo de festivais e é muito bom ver o que se faz em Portugal e a facilidade com que trouxeram cá várias companhias. Dou os meus parabéns à organização”, sublinhou.
Relativamente à “moral” desta história, Victor Valente explica que os actores gostam “do ponto de interrogação que fica no ar e que cada espectador pode ter um pouco de Jorge e Margarida, e cada um ter a sua perspectiva relativamente à história”.