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Morar na cidade, trabalhar na província

> António Fidalgo

Fala-se e escreve-se que a desertificação do interior de Portugal é de não haver aqui trabalho. Curioso, porém, é o facto de não serem poucas as pessoas que vivem em Lisboa e trabalham na Covilhã, sobretudo nos trabalhos que exigem uma menor presença no local de trabalho, como é o caso dos docentes do ensino superior. Ensinam na UBI, passam aqui uma, duas, três noites e depois regressam à sua morada em Lisboa. A um nível mais localizado, são bastantes os quadros superiores e médios, que trabalham nas sedes dos concelhos adjacentes, mas vivem nos centros urbanos de Castelo Branco, Covilhã e Guarda. Médicos, bancários, vereadores, professores, enfermeiros que trabalham em Idanha, Penamacor, Sabugal, Proença, e outros sedes de concelho de idêntica dimensão, preferem morar nas cidades maiores do Eixo da A23 e deslocarem-se diariamente para os seus locais de trabalho. As situações inversas morar numa localidade de menor dimensão e trabalhar numa cidade maior, são muito menos.

Trata-se de uma situação paradoxal. É generalizado afirmar que a qualidade de vida nos grandes centros é má, muito pior que a dos pequenos centros. Porquê então optar por um centro urbano em vez de morar numa localidade mais pequena, sobretudo quando aí se trabalha? Além de os custos de habitação serem significativamente maiores nas cidades, acrescem ainda os custos das deslocações. A que se deve esta irracionalidade? Uma resposta pode ser a do espírito gregário. As pessoas querem estar onde estão as outras pessoas. Quanto mais melhor. A mesma irracionalidade é a que leva as pessoas a encherem os centros comerciais aos fins de semana, a que leva as pessoas nos seus tempos de férias para as praias a abarrotarem de gente. Também haverá outra resposta. As pessoas fogem de si. Quanto maior a confusão tanto melhor. Fala-se de viver no campo, na calma e tranquilidade do campo, mas uma vez lá, o que sentem é a pasmaceira de não terem as distracções suficientes para ocuparem o tempo. Outra respostas haverá ainda. Não se diga porém que a migração do interior para o litoral reside na falta de condições no interior do país.


Data de publicação: 2006-10-04 11:10:00
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