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"A UBI deu-me os melhores anos da minha vida"

Rafael Mangana em quarta, 1 de junho de 2016

Cedo decidiu que era jornalista que queria ser. Contrariando os pais, começou por frequentar as redações a que tinha acesso em Leiria, mesmo antes de ingressar na UBI, em 1998, no curso de Ciências da Comunicação. Depois de ter passado pelas áreas de Desporto e Economia, Anselmo Crespo é atualmente o Editor de Política da SIC. É, ainda, docente no Instituto Politécnico de Leiria desde 2007.

Anselmo Crespo                  Foto: Vítor Rios
Anselmo Crespo Foto: Vítor Rios

Urbi et Orbi – Como começou a paixão pelo jornalismo?

Anselmo Crespo – Começou na fase em que tinha de escolher uma área quando estava a transitar do 9º para o 10º ano. Tudo começou com a leitura de jornais desportivos e quando tive que escolher, achei que queria ser jornalista, porque gostava imenso de comunicar, gostava de ler jornais e de ver notícias. Percebi que tinha que ser por ali, mas percebi também que tinha que experimentar primeiro. Foi então que comecei a bater à porta de rádios e fui para a Voz de Leiria, onde só olhava para quem estava a trabalhar. No ano seguinte fui para outra rádio e aí escrevia notícias, que depois eram lidas por outras pessoas. Depois, entre 1997 e 1998, um jornal regional  - o Notícias de Leiria - andava à procura de correspondentes das várias freguesias e eu fui lá oferecer-me. Acabo por entrar para o jornal no verão antes de entrar para a universidade e mantive-me até 2003. Inclusivamente, ia todos os fins de semana a Leiria de propósito por causa do jornal e fiz o estágio na SIC a trabalhar no jornal ao mesmo tempo. Quanto mais experimentava, mais chegava à conclusão de que era mesmo Jornalismo que queria seguir.

 

U@O – E a família apoiou este sonho?

AC – Nem por isso. Fui sempre um bocadinho contra tudo e contra todos, porque obviamente que a tua família quer sempre o melhor para ti, e a minha família achou na altura que eu estava a cometer um disparate monumental. Mas o facto de eles não quererem que eu fosse para Jornalismo ainda me fez querer mais ser jornalista, para lhes provar que eu ia conseguir. Na verdade era um tiro no escuro, mas acabei por confirmar aquilo que eu já suspeitava. A minha mãe, no 9º ano, até me mandou ir fazer testes psicotécnicos, onde se ficou a saber que eu tinha jeito para Jornalismo. Foi o dinheiro mais mal gasto da vida dela, porque fui eu que lhe disse antes o que a psicóloga lhe confirmou no final daqueles testes.

 

U@O - Recuando a 1998, como é que um jovem de Leiria – uma cidade do Litoral e perto de Lisboa – decide ir estudar para o Interior e para a Covilhã?

AC – Na verdade, foi um acidente. Os meus pais queriam à força que eu fosse para Direito. Eu quando me inscrevi, para lhes fazer a vontade, coloquei nas duas primeiras opções o curso de Direito, mas em duas faculdades onde tinha a certeza que não teria média para entrar. Todas as outras opções eram Jornalismo ou Comunicação e pus também a UBI, sem saber onde ficava, só por dizer lá Ciências da Comunicação. Um primo meu é que foi ver primeiro as colocações e informou-me que eu ia para a Covilhã, que era “a terra das ovelhas”. Eu não sabia onde ficava, mas cá vim parar e não me arrependo de nada, porque foram os melhores anos da minha vida.

 

U@O - Como é que era a UBI e o curso de Ciências da Comunicação naquela altura?

AC – A UBI já tinha televisão, o Urbi et Orbi nasce por aquela altura e apesar do curso ser algo teórico, se um aluno quisesse ir tendo alguma prática, só não ganhava se não quisesse. Eu meti-me na Rádio Clube Covilhã e no Urbi et Orbi logo no seu início, e mais tarde também na TUBI (Televisão da UBI). O curso tinha esse cuidado, não tendo o que os cursos de Lisboa tinham, ou seja, professores que trabalhassem na televisão ou nos jornais. Ainda assim, havia o cuidado por parte dos professores de nos tentarem aproximar o mais possível do “mundo real”. O curso em si deu-me algumas ferramentas que na altura nem percebia que eram importantes e hoje em dia percebo melhor.

 

U@O - Enquanto frequentava o curso de Ciências da Comunicação na UBI, pensou algum dia vir a ser Editor de Política da SIC?

AC – Não. Eu nunca tive a vontade de ser pivot – e ainda hoje não tenho -, porque gosto sobretudo de escrever. Tudo começou com o professor João Canavilhas, que decidiu que eu ia estagiar para a SIC. Quando cheguei, uma semana depois a SIC entrou em processo de despedimento colectivo e disseram-me logo que não ficava. Apesar disso, o meu estágio era para ser de três meses e prolongaram-mo para oito, até ser legalmente possível. Depois saí e voltei para Leiria e para o jornal que nunca tinha largado totalmente. Quando saí do jornal – que, entretanto, fechou – inscrevi-me na Worten e aí já me tinha convencido de que o meu futuro não passaria pelo Jornalismo e que tinha era de ganhar dinheiro. Mas a SIC ligou-me meia hora antes da Worten me ligar e eu fui para a SIC. Comecei por ir para Economia, onde me mantive até 2014. Fui depois convidado para ir coordenar o “Jornal da Noite”, tarefa que desempenhei durante um ano. Depois surgiu o convite para ser Editor de Política, onde estou desde maio de 2015. Mas, mais do que o cargo que ocupas, o essencial é teres o “bichinho” da profissão, porque se o teu foco for só subir, perdes o melhor até lá chegar.

 

U@O - O que é que é preciso para se ter sucesso nesta área?

AC – Tens que querer muito. Tens que querer muito mais do que todos os outros que estão à tua volta, porque na altura de escolher, tem sucesso aquele que tiver a atitude mais forte. E tens, sobretudo, que ser melhor que os outros. A atitude é, para além de quereres mostrar trabalho, saberes o teu lugar, não seres demasiado “chico esperto” e teres a humildade de seres repreendido e mesmo que na altura te pareça injusto, estás ali para aprender e “levares nas orelhas” faz parte do processo. Tudo isso conta.

 

U@O – Que conselho pode deixar a um estudante de Ciências da Comunicação que esteja agora a frequentar o curso?

AC – O meu melhor conselho é que comecem já, através da TUBI, da RUBI, do Urbi et Orbi ou num órgão de comunicação regional. É a forma de ganharem alguma “bagagem” e de descobrirem se é mesmo isto que se imaginam a fazer, porque é uma área que não é fácil, nem bem paga, e só faz sentido se se gostar mesmo. E dá para conciliar tudo isso, com a própria vida académica. Eu fiz o curso em quatro anos – a duração do curso naquela altura -, aproveitei tudo o que tinha para aproveitar e trabalhei sempre durante esses quatro anos. Eu como quis muito ser jornalista, usei tudo o que tinha ao meu dispor para poder lá chegar. Comecei com 550 euros na SIC e subi de ordenado sempre que tive uma proposta para me ir embora. Eles aumentam-te quando alguém de fora te valoriza, o que não é exclusivo da SIC, é assim em quase todo o lado.

 

Perfil:

Nome: Anselmo Crespo

Naturalidade: Leiria

Curso: Ciências da Comunicação

Ano de Entrada na UBI: 1998

Livro preferido: “Equador”, de Miguel Sousa Tavares

Filme preferido: “Spotlight”

Hobbies: Correr e passar música (DJ)

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