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"Espero poder conduzir os meus filhos para a UBI"

Rafael Mangana em quarta, 13 de julho de 2016

Já era frequentador assíduo do então Instituto Universitário da Beira Interior, onde nos anos 80 jogava ténis de mesa com os amigos, e foi com naturalidade que anos mais tarde escolheu a instituição para tirar a Licenciatura em Química Industrial, seguindo-se o Mestrado em Química. Com uma vasta experiência profissional, João Gonçalo Lourenço é o coordenador geral da AEMITEQ, infraestrutura de apoio à Indústria e à Comunidade nos domínios da Química, Ambiente, Qualidade, Energia e Inovação. Concilia ainda o trabalho com a academia e é doutorando na UBI também na área de Química.

João Gonçalo Lourenço
João Gonçalo Lourenço

Urbi et Orbi – Como tem sido o seu percurso desde que tirou o curso na UBI?

João Gonçalo Lourenço – Terminei o curso na UBI, fui bolseiro de investigação na Unidade de Materiais Têxteis e Papeleiros , que agora é a FibEnTech. Depois assumi o Laboratório de Ensaios Físico-Químicos do Laboratório Brito Rocha e posteriormente entrei nos quadros da EuroMedic como responsável pelo doseamento de metais em materiais biológicos. Tive uma passagem pelo Laboratório A3, onde fui responsável técnico do Laboratório de Ensaios Fisico- Químicos e o responsável técnico de amostragem , depois voltei outra vez às lides académicas e concluí o Mestrado. É-me depois proposto ingressar nos quadros da AEMITEQ, primeiramente como gestor de um projeto científico. Entrei também como assessor da direção técnica e passado meio ano começo a fazer a coordenação geral da AEMITEQ, onde acumulo mais uma função que é como responsável técnico do Laboratório de Ensaios de Migração.

 

U@O - E que papel é que a UBI tem neste processo?

JGL - A Universidade da Beira Interior tem uma marca indelével no meu percurso , tanto mais que eu nunca perdi o contacto com a instituição até aos dias de hoje. Não é só nas universidades dos grandes centros que saem bons profissionais, e acredito que o bom profissionalismo é algo que é intrínseco à pessoa e que depois se vai refinando.

De resto, espero num futuro próximo poder voltar à Covilhã, porque é a minha casa, porque é a minha cidade, porque eu creio que ainda posso dar alguma coisa à Covilhã, nem que seja por intermédio da UBI. Até porque a UBI me ajudou a desenvolver, sobretudo espírito crítico e isso muito agradeço aos professores com quem mantive e ainda mantenho ligação no Departamento de Química.

 

U@O - E qual foi a principal motivação para entrar para o curso de Química Industrial na UBI?

JGL - Eu já conhecia a universidade antes de ser universidade, ainda era o Instituto Universitário da Beira Interior e onde eu com uns amigos meus costumava jogar ténis de mesa, nos anos 80, na Associação Académica ainda do Instituto Universitário. Ainda que, quando fiz a candidatura ao Ensino Superior, a UBI foi a minha terceira ou quarta escolha, e até acabei por ingressar em Engenharia Têxtil, viria só três anos depois a fazer o pedido de transferência para Química Industrial. Ou seja, a universidade estava na altura talvez num período embrionário, um período inicial de crescimento e para mim confesso que foi o sonho de qualquer jovem quando chega ao final do secundário, de ganhar asas e voar. Mas na altura, a maioria dos meus amigos entraram fora da Covilhã e eu até fiquei um bocado desgostoso por isso.

 

U@O - Depois de tirar o curso, esse desgosto manteve-se?

JGL - Não, de forma alguma. Primeiro estranha-se e depois entranha-se. Eu realmente consegui encontrar o meu lugar na Universidade da Beira Interior e depois o resto foi andar e conseguir ultrapassar as dificuldades inerentes a uma universidade jovem, sobretudo com uma vida noturna e com uma animação muito grande, mas isso tudo foi ultrapassado e acabei por encontrar o meu lugar e chegar a bom porto.

 

U@O - Que grandes diferenças encontra na UBI e no Departamento de Química dos anos 90 para 2016?

JGL - Comecei por encontrar um Departamento de Química ainda em formação , era um corpo docente muito jovem e havia professores já com alguma bagagem que acumulavam várias cadeiras. Normalmente os professores mais jovens - e tinha entrado um contingente na altura até bastante grande - estavam reservados apenas para as aulas práticas, portanto todas as aulas teóricas eram dadas por esses professores com mais experiência.

Nos dias de hoje o Departamento de Química ganhou outras capacidades do ponto de vista tecnológico. Tenho tido conversas bastante recorrentes com algumas pessoas do Departamento e penso que deve marcar uma diferença dentro da UBI e ser instituído como um polo de excelência no que se refere à produção de conhecimento científico e isso só pode ser feito através de várias vias que é a entrada de mais alunos , que por sua vez consigam gerar ou a justificação de financiamentos para a produção de ciência de forma a puxar todo este circuito. Acho que está melhor, está bem melhor do que quando eu entrei, mas ainda tem um caminho a percorrer.

Daqueles tempos de estudante, recordo perfeitamente as aulas na sala 4.2 e 2.12 e da famosa semana da recepção ao caloiro. Como a cidade é mais pequena era muito mais fácil na altura a concentração das pessoas e era muito interessante esse convívio que se criava.

 

U@O - A UBI é uma universidade que tem recomendado?

JGL - Tanto pela minha experiência como nas minhas intenções, eu espero poder conduzir os meus filhos para a Universidade da Beira Interior. Acho que isso responde à sua pergunta. Reconheço competências à Universidade da Beira Interior para a formação de pessoas. Aliás uma universidade não pode só formar bons técnicos, uma universidade tem que formar pessoas, e eu nesse aspeto reconheço isso à UBI.

 

U@O - O que pensa que será preciso para se ter sucesso nesta área?

JGL - Essa questão do sucesso na profissão está sempre dependente de muitos fatores que muitas vezes nós não controlamos. Eu tive a sorte de estar sempre ligado à minha área de formação desde o início. Relativamente ao percurso profissional, houve o fator sorte de eu estar sempre ligado à parte da Química e sempre procurei esse caminho. Costuma-se até dizer que “quem procura acha” e temos que ter alguma resiliência, insistência e teimosia quando queremos mesmo ir atrás de uma coisa, mas eu continuo a afirmar que é necessário ter, tem que haver ali uma pontinha de sorte também, estar-se na hora certa, no sítio certo, aproveitar as oportunidades corretas, conseguir discernir para saber perante as portas que se abrem qual é que é aquela em que nós devemos entrar. Mas, em resumo, acho que a resiliência é o mais importante, acho que é o fator mais importante, mas isso é transversal a todas as áreas.  

 

U@O - Que conselho deixaria a um estudante de Química Industrial da UBI para ter sucesso nesta área?

JGL - Nós sabemos perfeitamente que o mercado de trabalho é muito competitivo. Aqui na AEMITEQ passam por cá bastantes estagiários e nós deparamo-nos no final de estágio com a angústia e incerteza, e a questão que fica no ar é se será que vale a pena todo este esforço para depois não dar em nada e nós não conseguirmos entrar no mercado de trabalho. Portanto, essas questões são-me levantadas com muita frequência , aliás eu próprio as levanto com essa frequência, também tenho filhos e também desejo para os meus filhos a entrada no mercado de trabalho quando for a altura correta .

Por outro lado, o paradigma do mercado de trabalho não é o que era há 20 anos atrás, pelo que o que deixaria de conselho é exatamente o mesmo conselho que deixo aos estagiários com que sempre trabalhei até já aí na Covilhã, aqui é encontrar dentro da área onde estão aquilo que gostam mesmo de fazer, ir atrás dos sonhos. Mas também temos que ter “jogo de cintura” e também temos que ser flexíveis em algumas alturas da vida. Provavelmente muitas vezes até passaremos por estar a fazer algumas coisas que não serão aquilo que nós acharíamos, mas nunca devemos perder o foco. É aquele raciocínio de “dar um passo atrás para dar dois à frente”. No fim do dia é tudo ganho.      

 

Perfil:

Nome: João Gonçalo Lourenço

Naturalidade: Covilhã

Curso: Química Industrial

Ano de Entrada na UBI: 1990

Livro preferido: "O contrato social", de Jean-Jacques Rousseau

Filme preferido: Toda a saga de "Star Wars"

Hobbies: Música; Desportos de Inverno; Jogos de cartas colecionáveis

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