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"Na UBI somos ensinados a pensar"

Rafael Mangana em quarta, 7 de setembro de 2016

Desde criança que os aviões marcavam presença nos seus sonhos e foi os sonhos que perseguiu. Depois de tentar ingressar na Academia da Força Aérea, Henrique Sousa entrou em Engenharia Aeronáutica na UBI. Hoje é Quality Manager na parte de organização da manutenção na companhia aérea húngara Wizz Air, empresa onde está desde 2011.

Henrique Sousa
Henrique Sousa

Urbi et Orbi: Como surgiu a paixão pela Aeronáutica?

Henrique Sousa: Desde criança que o sonho era voar. Entretanto, quando concorri para a Academia da Força Aérea havia dezasseis vagas para mil e tal candidatos e acabou por não se concretizar. Mas nesse momento decidi que me queria manter ligado à Aeronáutica e então descobri a UBI, através de um amigo, e inscrevi-me no curso de Engenharia Aeronáutica. 

 

U@O: Terminado o curso, qual o balanço? 

HS: Valeu muito a pena, e valeu a pena porque me formou não apenas a nível académico mas também enquanto pessoa, pelas experiências vividas. Estive em contacto com colegas, amigos, pessoas de todo o país, do estrangeiro, tive contacto com pessoal de toda a parte do mundo. E uma coisa que aprendi na UBI foi não só o que me era ensinado mas sim aprender a pensar, e isso é uma das caraterísticas que no mundo de trabalho hoje em dia, e aqui na Hungria tenho notado muito isso, que nós, e não é só aquela coisa de sermos portugueses, que nos desenrascamos, mas nós acabamos por nos desenrascar até porque temos esse tipo de formação, somos ensinados a pensar.

 

U@O: Ao nível do curso em si, nunca sentiu desvantagem por ser proveniente de uma universidade mais pequena?

HS: Eu acho que há alguns anos atrás notava-se mais essa diferença. Por exemplo, Aeronáutica em Portugal era no Técnico, na Força Aérea e na UBI, e havia uma grande diferença entre o pessoal que era formado no Técnico e o pessoal que era formado na Covilhã. Hoje em dia a UBI já formou muitos engenheiros e eles já deram provas da sua capacidade, e é isso que abre portas. É claro que os anos de curso que a UBI tem fazem diferença dos do Técnico, por isso é que toda a gente conhecia o Técnico e ninguém conhecia a UBI praticamente. Hoje em dia já tem prestígio, o pessoal abriu completamente o mercado. Para além do mundo aeronáutico ter crescido em Portugal e isso abriu portas para muitos colegas, que acabaram por provar que estavam aptos para o trabalho. Aumentou a procura e a UBI foi capaz de responder às necessidades do mercado, e isto abriu portas. Hoje em dia já não se faz diferença entre um ex-aluno do Técnico ou um ex-aluno da UBI, o que interessa é que seja uma pessoa capaz.

 

U@O: Está no estrangeiro desde 2011. Considera importante a internacionalização na perspetiva de abrir outros horizontes profissionais e pessoais?

HS: Sem dúvida. No meu caso, consegui provar a mim mesmo que era capaz de superar o desafio inicial. A aposta, de certa forma, é ganha, porque as funções que desempenho cá não são idênticas às que colegas meus estão a fazer, porque é uma empresa diferente. E como é uma empresa low cost em crescimento muito rápido nós acabamos por ter que ser polivalentes e isso dá-me um conhecimento mais abrangente. O que estou a fazer são funções que não são desenvolvidas na parte da universidade, são relacionadas mas não há nenhuma disciplina que fale diretamente daquilo que nós fazemos. Mas o curso deu-me as ferramentas para eu usar. Hoje em dia não uso tudo aquilo que aprendi, não uso tudo de todas as disciplinas, mas vou buscar um bocadinho a cada uma.

 

U@O: Acha que essa flexibilidade poderá ser determinante no futuro?

HS: A experiência que tive até agora já me abriu porta para outros desafios, que até este momento ainda não tomei todos, mas já me abriu portas por exemplo para consultadoria, para outros empregos noutros países, inclusive em Portugal, só que eu acho que ainda consigo desenvolver mais qualidades para usar mais tarde. O regresso a Portugal, claro que sim, quero regressar um dia, não vejo que seja já, mas faz parte dos meus planos um dia voltar a Portugal e estar ligado à área da Aeronáutica, de preferência a uma companhia aérea, que é aquilo que eu faço. 

Eu vim para a Hungria, e comecei a fazer planeamento de manutenção, e ainda continuo a fazer isso, e é uma área que me liga diretamente à operação da companhia aérea, então estou envolvido com pilotos, com as operações, com outros planeamentos, com logística, com materiais, com contatos diretos com air bus, com a parte dos motores, com tudo o que está ligado à operação da companhia, o que é ótimo, é muito abrangente. Em Portugal poderia estar numa companhia que tivesse a polivalência mas não a dimensão que esta tem. Ou seja, eu poderia ter o mesmo contacto mas a um nível mais reduzido. Aqui neste momento temos 72 aviões, vamos receber mais um, e dentro de dois anos espera-se ter cerca de 100 aviões na frota, é uma companhia que está a crescer muito rápido, e já voamos para Portugal, que é a minha regalia, já há voos para Lisboa e para o Porto, e acaba por fazer a minha ligação a Portugal, em três horas e meia meto-me em Portugal, que é outra vantagem. O facto de estar cá fora já não significa estar muito longe. Eu lembro-me que para ir da Covilhã até Almada demorava tanto tempo como hoje da Hungria a Lisboa.

 

U@O: Tendo em conta a sua experiência, que conselho daria a um atual aluno da UBI para vingar nesta área?

HS: O conselho inicial, sendo ubiano, é aproveita a UBI e aproveita a Covilhã. E depois, hoje em dia o mercado de trabalho pede pessoas polivalentes e responsáveis. É necessário que tenham os conhecimentos, mas não é preciso saber tudo à letra, é preciso saber onde ir buscar a informação, é preciso saber utilizar a informação. As empresas hoje em dia são muito competitivas e há uma procura muito grande pelo crescimento e desenvolvimento da empresa, não só ao nível de instalações, de equipamentos, mas também ao nível da formação do pessoal. Portanto, é necessário que o pessoal esteja aberto a essa experiência, aberto ao conhecimento, porque depois é necessário saber utilizá-lo, e vão ter que o utilizar certamente.

E é necessário também um pouco de sacrifício, porque hoje em dia não se faz uma carreira sem se sacrificar um pouco. Eu vim para a Hungria, o início foi extremamente difícil, porque a língua é por demais complicada, eu estou cá há cinco anos e falo muito pouco de Húngaro. É, portanto, necessário sacrifício, e é necessária dedicação. Por outro lado, as empresas nem sempre procuram os "carolas" que têm 18 e 20, é preciso ser alguém mais completo, é necessário saber não só o que está nos livros mas também conseguir ler o que está por trás. Aliás, eu não fui um aluno brilhante, fui um aluno médio, e se calhar precisei de mais esforço para chegar onde cheguei, mas é preciso é que a pessoa esteja predisposta a esse sacrifício.

 

Perfil:

Nome: Henrique Sousa

Naturalidade: Almada

Curso: Engenharia Aeronáutica

Ano de Entrada na UBI: 1999

Livro preferido: "Ensaio sobre a cegueira", de José Saramago

Filme preferido: “A Família Bélier"

Hobbies: Capoeira

 

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