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Luís Cipriano regressa da Coreia do Norte com boas notícias

Rafael Mangana em quarta, 25 de abril de 2018

Luís Cipriano está de regresso de uma deslocação inédita à Coreia do Norte. O presidente da ACBI foi convidado pelo governo norte-coreano a dirigir uma série de concertos naquele país e na bagagem trouxe três certezas: a Coreia do Norte tem de ser tida em conta a nível cultural, o Coro Misto da Beira Interior vai deslocar-se àquele país asiático em abril de 2020 e da Coreia virá um coro infantil para participar no próximo mês de outubro no Festival de Coros da Beira Interior, no Fundão.

O maestro diz ter sido muito bem recebido nesta deslocação à Coreia do Norte
O maestro diz ter sido muito bem recebido nesta deslocação à Coreia do Norte

Luís Cipriano regressou no passado fim-de-semana de Pyongyang, capital da Coreia do Norte, onde esteve como maestro do 31º April Spring Frienship Art Festival a convite do governo daquele país asiático.

O presidente da Associação Cultural da Beira Interior (ACBI) dirigiu a Orquestra do Festival na Cerimónia de Abertura no East Pyonyang Grand Theater perante 1200 pessoas. As obras interpretadas são dedicadas a Kim Il Sung e King Jong Il, sendo que Luís Cipriano foi o único estrangeiro a participar na cerimónia.

"A experiência foi espetacular", garante o maestro. "Tive as condições todas para dirigir os concertos, tive boas orquestras, tive bons teatros e estava bem instalado. Pouco trabalho tive com as orquestras, porque estavam muito bem ensaiadas e o nível dos músicos era muito elevado", refere. O nível demonstrado pelos músicos norte-coreanos levam mesmo o maestro português a afirmar que "um dia que a Coreia do Norte se abra mais ao mundo, temos que ter em conta aquele povo, porque eles tocam 'a sério'".

"Tudo isto ajuda a ultrapassar o choque cultural, não por se tratar da Coreia do Norte, mas por ser a Ásia em si. O único problema que tive foi com a comida, que era extremamente picante, e quando nós vamos para um país com a 'fama' que tem a Coreia do Norte e o único problema é a comida, está tudo dito".

Quanto às pessoas, Luís Cipriano garante: "já fiz concertos em 30 países e talvez tenha sido o país onde achei o povo mais simpático e acolhedor". "E via-se a reação de euforia das pessoas quando terminavam as obras. Nota-se que são pessoas que gostam da área cultural".

O aspeto cultural foi, de resto, um dos mais surpreendentes para Luís Cipriano. "Eles apostam muito na cultura. Por exemplo, eu pensei que a televisão norte-coreana estivesse sempre a passar imagens do líder do país, mas verifiquei que na maior parte do tempo transmitem concertos ou bailado".

No Festival estiveram presentes 600 estrangeiros oriundos de 19 países com grupos que iam desde a dança, à música, ao circo, ao ballet e ao ilusionismo sendo Luís Cipriano o primeiro português a ser convidado em 31 anos que já leva o Festival. No Concerto de Encerramento, Luís Cipriano foi distinguido com o Prémio de Mérito Cultural pela organização do Festival e Governo norte-coreano.

Depois, com a Orquestra Sinfónica da Kim Won Gyun University of Music, dirigiu quatro concertos, sempre com os cerca de 800 lugares do teatro esgotados, com obras de Brahms e Strauss, assim como a obra "Footsteps", dedicada ao atual líder Kim Jong Un , tornando-se assim no primeiro estrangeiro a quem a Coreia do Norte confiou as obras dos seus três líderes.

Por esse facto e pela forma como decorreram os concertos, o maestro do Coro Misto da Beira Interior foi felicitado pessoalmente pelo Ministro de Cultura norte-coreano, Do Jong-whan. Dirigiu também os dois concertos dos Premiados do Concurso Internacional de Canto a acontecer em paralelo naquela cidade asiática.

Durante a sua estadia e como forma de agradecimento, Luís Cipriano foi acompanhado pelo Vice-Ministro da Cultura a visitar o Palácio do Sol, local bastante restrito e onde estão mumificados os dois primeiros líderes norte-coreanos. Também Yang Hyong Sop, braço direito do atual lider, no Banquete de Gala do Dia do Sol, agradeceu a Luís Cipriano a presença no país e a direção das três obras principais do seu país.

Para além de maestro, Luís Cipriano é professor de Educação Musical, pelo que a passagem pela Coreia do Norte mostrou-lhe ainda dois aspetos que considera "incríveis": "passei por um bairro com arranha-céus, altamente moderno, e perguntei quem é que morava ali. Disseram-me que ali moram os professores, porque são eles que preparam as crianças para o futuro. Isto em Portugal não se passa", lembra; "nos jardins de infância, os miúdos que têm capacidades para o desporto e para a música são logo reencaminhados para escolas diferentes, o que revela uma aposta incrível nestas duas áreas".

Durante os dez dias de permanência no país houve ainda um encontro com Kim Won Il, responsável pelas Relações Internacionais, onde ficou definido a ida do Coro Misto da Beira Interior à Coreia do Norte em abril de 2020,  assim como a vinda de um Coro de crianças norte-coreanas já em outubro próximo para participarem no Festival de Coros da Beira Interior, no Fundão, e realizarem seis concertos em diferentes autarquias parceiras da ACBI.

"Pelo facto de irmos inseridos no festival permite, desde logo, que a Coreia do Norte suporte a deslocação de Pequim (China) para Pyongyang, a capital coreana, o que permite à ACBI uma poupança de 18.000 euros, facto que não nos podíamos dar ao luxo de desperdiçar", reforça Luís Cipriano.

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