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Componentes da persuasão política decifrados na UBI

Francisco Nascimento em quarta, 17 de outubro de 2018

Comunicação Política foi tema de colóquio internacional na universidade. Oradores de quatro países marcaram presença.

Ana Almansa-Martinez foi uma das oradoras do evento
Ana Almansa-Martinez foi uma das oradoras do evento

A indústria da persuasão política foi o mote para o primeiro colóquio na Universidade da Beira Interior (UBI) acerca do tema. Os agentes, as estratégias e os discursos foram debatidos por painéis de elementos oriundos de Portugal, Ucrânia, Espanha e Escócia. Ao longo do passado dia 11 de outubro, e com o selo da Unidade de Investigação Científica da Faculdade de Artes e Letras da UBI (Labcom.IFP), a Sala dos Conselhos daquela faculdade foi invadida por questões políticas.

Com o intuito de responder à questão "Quem são os verdadeiros agentes da comunicação política?", Gisela Gonçalves, presidente do Departamento de Comunicação e Artes, refere que é importante perceber quem aconselha os políticos sobre "como comunicar com o cidadão". Tradicionalmente, a resposta à pergunta seria de fácil solução, com os partidos políticos na linha da frente. Contudo, nos últimos tempos, tem-se observado "o surgimento de diferentes grupos de influência na área da comunicação política, como os lobistas e consultores políticos", acrescenta a docente.

Depois de alguns congressos e jornadas em que se debateu a comunicação política, o Labcom.IFP decidiu apostar numa vertente ainda pouco debatida, dirigida para os cursos de sociologia, ciência política e comunicação estratégica.

Pedro Silveira, docente na UBI e um dos oradores do colóquio, afirma que esta é uma oportunidade de apresentar a um maior número de pessoas o seu trabalho de investigação, assente na perceção de membros de governos portugueses sobre a comunicação política. Silveira entrevistou cerca de 105 ministros e secretários de estado, tendo também acompanhado o dia-a-dia de alguns deles, de forma a observar as suas dinâmicas, permitindo entender a importância que essas figuras dão à comunicação social.

O investigador disse que "aproveita estas ocasiões para ouvir críticas e apreender novos pontos de vista", depois de um trabalho que é "difícil, muitas vezes solitário, de recolha e estruturação teórica". Para Pedro Silveira, a universidade também é essencial para criar conhecimento, para além de ser responsável pela transmissão do saber.

No seu trabalho distingue aqueles que chegam ao governo depois de carreiras em partidos políticos, em contraposição com os chamados "independentes", que são escolhidos pelo seu domínio na área. O docente chega à conclusão de que os primeiros têm mais necessidade de comunicar e persuadir as pessoas, enquanto os "independentes" interessam-se sobretudo por "executar trabalho no gabinete".

No entanto, todos os membros do governo percebem que a comunicação política é importante para o seu sucesso. O que muda, segundo o docente, "é a maneira como são influenciados pela comunicação social, e a relevância que dão às atividades institucionais", refere.

De forma a colmatar as lacunas existentes na "arte" de comunicar, muitos políticos acabam por assegurar assessores de imprensa para o efeito. Contudo, Silveira admite que essa solução não acaba com todos os problemas, uma vez que "há políticas que acabam por não ser efetuadas pela incapacidade de serem comunicadas ao setor". Pedro Silveira destaca ainda a legitimidade dos ministros, ao contrário dos assessores de imprensa que "são figuras instrumentais".

Da Ucrânia chegou Anatoly Khudoly, professor na Ostroh Academy National University, que ingressou no programa Ersmus+, viajando até Portugal de modo a participar em palestras e estar de perto com os estudantes portugueses.

O professor ucraniano mostrou-se encantado com os alunos portugueses, que lhe perguntam acerca das suas experiências e pontos de vista, procurando saber sempre mais.

O seu tema de estudo é a análise dos discursos e persuasão dos últimos presidentes dos Estados Unidos da América. Neste colóquio, abordou as comunicações de Barack Obama e Vladimir Putin, numa perspetiva comparativa, quantificando o tipo de linguagem mais recorrente.

Para além das conferências, Khudoly tem aproveitado para conhecer a região, mostrando-se fascinado com "a cultura rica, com valores específicos que não são habituais na Ucrânia". Uma das coisas que mais o surpreendeu foi o facto de poder beber vinho num restaurante: "É pouco usual na Ucrânia quando vamos jantar e nos dizem que podemos beber um copo de vinho", lembra.

Para os estudantes, esta é uma oportunidade para alargar horizontes e identificar novas possibilidades de investigação, sugere Fábio Lima, aluno de mestrado em Ciência Política. Na sua perspetiva, os estudantes "deviam aproveitar este tipo de iniciativas na universidade, até porque não são tão regulares como nos grandes centros".

Ao longo do dia, o evento dividiu-se por três painéis com oradores distintos, abordando os seguintes assuntos: os atores da persuasão política, estudo de estratégias e influências, bem como o humor e o entretenimento na política.

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