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2020: O ano da nossa sobrevivência

Luís Vieira em quarta, 8 de julho de 2020

Quando se estava a festejar o natal de 2019 e a passagem do ano para uma nova década, só as mentes mais conspirativas iriam prever um 2020 tão sofrido.

Centro de Felgueiras, imagem do jornal JPN
Centro de Felgueiras, imagem do jornal JPN

Ainda só escalamos metade do ano, mas parece que, com tudo o que já sucedeu de forma tão repentina e inesperada, já se passaram uns cinco anos. Começamos com os incêndios na Austrália que mataram cerca de 500 milhões de animais; o cenário de guerra entre os EUA e o Irão que colocou em causa a paz mundial; a morte do ex-jogador da NBA Kobe Bryant e da sua filha Gianna, num acidente de helicóptero em Los Angeles; a saída formal do Reino Unido da União Europeia e muitos outros acontecimentos que mudaram o panorama social e económico do mundo. E ainda estávamos no início de um ano que já se antecipava complicado e que iria testar o nosso futuro ao máximo.

Mas o que aconteceu no dia 31 de dezembro de 2019, em Wuhan, China, trouxe o que ninguém esperava. Foram registados os primeiros casos de coronavírus em seres humanos, com origem num mercado de animais vivos daquela cidade chinesa. O mundo ficou alerta para um novo vírus, extremamente contagioso, que se estava a espalhar por toda a China a um ritmo vertiginoso e que se tornava mais letal a cada dia que passava. Foi apenas uma questão de tempo até a Europa se tornar o foco do contágio durante o mês de fevereiro.

Itália foi dos primeiros países a sofrer com este “inimigo invisível” e a falta de ação e a demora de apreensão por parte dos governos, a realização de jogos de futebol, as enchentes em museus e nas praças das cidades e a realização da MICAM, a maior feira de calçado do mundo, que teve lugar em Milão, foram posteriormente consideradas como autênticas “armas biológicas”. Esta situação não apanhou só a Itália desprevenida, mas toda a Europa. Os aeroportos e os transportes aéreos foram o maior veículo de transmissão da doença e provou-se que uma pandemia, mesmo com o avanço da ciência e da medicina, é extremamente dificíl de controlar devido à intensa mobilidade da população e à impossibilidade de controlar esses fluxos. Nenhuma espécie consegue preparar-se devidamente para uma fatalidade como aquela.

A demora em atuar ainda agravou mais a situação de contágio. Na Europa a maior parte dos grandes eventos coletivos foram cancelados no início de março, mas ainda assim alguns avançaram sem qualquer medida de segurança. Um estudo da Edge Health, que dá auxílio ao Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido através do uso de dados para melhorar a eficiência e a produtividade, estima que o jogo da Liga dos Campeões, entre o Liverpool e o Atlético de Madrid, e o Festival Cheltenham estiveram ligado a cerca de 41 mortes e a 12 900 novos casos de Covid-19. Na data do jogo, a 11 de março, Espanha já contava com cerca de 640 mil casos e o Reino Unido cerca de 100 mil. Tornou-se impossível controlar o fluxo de contágios.

Mas foi precisamente a feira de calçado MICAM, em Milão, que esperava menos 20% de visitantes, e que mesmo com ameaça iminente do vírus, não foi cancelada, que viria a desempenhar um papel importante na entrada da doença em Portugal. Várias empresas portuguesas cancelaram a sua visita àquela feira, mas outras marcaram presença, o que levou aos acontecimentos seguintes.

Na sequência daquele certame, o concelho de Felgueiras, no distrito do Porto tornou-se o primeiro foco de contágio em Portugal. Felgueiras tem cerca de 58 mil habitantes, e é um dos municípios com a população mais jovem de Portugal e da Europa. A sua capacidade empreendedora é responsável por 50% das exportações nacionais de calçado e 1/3 da distribuição nacional e exportação de vinho verde.

Para ser mais preciso, foi na freguesia de Barrosas-Idães que foi declarado o primeiro caso positivo de infeção pelo “inimigo invisível”. A “pequena Milão Portuguesa” é assim designada devido à sua cultura de produção de calçado e, agora, por ter sido o primeiro local de contágio no País. Essa freguesia tem cerca de 4000 habitantes, e 70 fábricas da indústria do calçado que empregam cerca de 100 mil pessoas da freguesia e das regiões em redor.

Tudo começou com um funcionário da empresa “Fegó-flá” de Santo Estêvão, freguesia vizinha de Barrosas-Idães. Tinha regressado da feira de calçado em Milão, onde foi infetado. Ao chegar a Portugal, esteve em contacto com funcionários da fábrica e com mais nove pessoas, incluindo pessoas da comunidade da Escola Básica e Secundária de Idães, o que levou ao seu encerramento a 8 de março.

Um dos infetados desta linha de contágio foi o marido de Sílvia Cunha que posteriormente infetou a própria, que se tornou a primeira pessoa recuperada em internamento domiciliário em Portugal.

Sílvia fala de um processo muito complicado, de incerteza e medo, devido ao internamento do marido e ao risco de contágio do seu filho mais novo.

“As nossas vidas mudaram a partir do dia do contágio do meu marido. Nós e o nosso filho mais novo estávamos com sintomas gripais, e após a confirmação do primeiro caso, a Direção Geral de Saúde entrou em contacto com todos os funcionários da empresa do meu marido, no dia 5 de março, a questionar como nos sentíamos. O meu marido tinha muitas dores de cabeça e no corpo todo, eu e o meu filho tínhamos sintomas ligeiros, só uma tosse ligeira e indolor. O meu marido já estava monitorizado e não podia sair de casa por ter estado em contacto direto com o primeiro infetado. Ainda saí de casa na sexta feira para buscar o meu filho, mas a partir desse dia já ninguém saiu de casa”.

Já em isolamento, Sílvia conta que “no fim de semana a Direção Geral de Saúde contactava-nos regularmente, para saber como nos sentíamos, e reforçávamos as indicações de que estávamos a passar muito mal em casa, com dores. Como o meu marido ainda tinha capacidade para conduzir, foi sozinho para o hospital durante a noite, por indicação da Direção Geral de Saúde, para fazer o teste. Regressou a casa na mesma noite, mas no dia seguinte os resultados do teste deram positivo, e foi internado. Como o meu marido testou positivo, eu, o meu filho e a minha sogra fomos notificados para ir fazer os testes, porque tínhamos sintomas gripais e estivemos em contacto com um doente. Destas três pessoas apenas o meu filho, felizmente escapou e testou negativo”. Para seguir o procedimento normal, pediram-me para ficar internada no Hospital de São João, no Porto, mas solicitei aos médicos para poder ficar em casa com o meu filho. Esse pedido só foi aceite porque a minha casa tem dois andares e assim conseguíamos não nos cruzar dentro de casa. Todos os contactos eram realizados  sempre com máscara e luvas, e os talheres e os pratos eram todos descartáveis”. Este procedimento rigoroso evitou que o filho de Sílvia se infectasse.

Após todo o tormento e com a família já recuperada e reunida, a maior preocupação de Sílvia passa a ser o trabalho, e como a economia se vai comportar com o impacto atual da pandemia.

Sílvia, tal como quase todos os habitantes de Idães, vive do calçado. É uma comercializadora de matéria prima e necessita que as fábricas voltem a laborar para poder vender os seus produtos.

“Em primeiro lugar a economia está nas mãos do governo, dos empresários e dos trabalhadores e para a economia local e nacional se desenvolver é necessário que estas três partes funcionem de forma coesa e organizada, e agora isso é impossível. Tal como eu, toda a minha família vive do calçado. No meu caso as encomendas são escassas, os empresários não pedem tantas matérias primas e a única coisa que posso fazer é cumprir a agenda que tinha até abril, depois disso vai ser muito complicado. Enquanto as fábricas não produzirem e o setor secundário não voltar a trabalhar, a vida vai ficar em suspenso e com muita incerteza.”

Os Felgueirenses, no início da pandemia, foram considerados “culpados” pela opinião pública, e em alguns casos, alunos do concelho foram proibidos de entrarem nas suas universidades.

A vila de Barrosas-Idães é um “mundo” pequeno e onde todos se conhecem, e por isso Sílvia teve bastante receio de ser discriminada por ter sido portadora do vírus. 

“O medo de ser discriminada tornou-se a minha maior aflição. Tenho muito medo do futuro. Quando fiquei curada e a situação na vila acalmou, tentei fazer a minha vida normal, isto é, poder ir a um supermercado ou a uma padaria comprar as coisas necessárias. Mas mais do que isso, preocupa-me muito o regresso ao trabalho, porque eu lido com várias pessoas todos os dias, e o meu trabalho é à base de confiança e proximidade entre clientes e empresas. Não sei como as pessoas me irão aceitar quando regressar ao trabalho. Mesmo antes de ser diagnosticada com o vírus, isolei-me em casa por vontade própria. Algumas pessoas diziam que eu omiti os meus resultados dos testes e que andava na rua como se nada se passasse. Psicologicamente, estas acusações sem fundamento foram muito dolorosas, mas tenho a perfeita consciência do que fiz. Tive a responsabilidade de ligar a todas as pessoas com quem tive contacto no final do mês de fevereiro e início de março, para as alertar porque nem eu sabia que estava infetada, nem as pessoas tinham a noção das proporções que esta pandemia iria ter na nossa vila. Sei com quem posso contar, sei as pessoas que me apoiam e isso para mim basta. É necessário que haja muita responsabilidade pessoal e social para nos protegermos a nós e aos outros”.

 

Ano bom vs. ano mau

Todos os intervenientes na área do calçado estavam com a expectativa de que o ano de 2020 tivesse um aumento substancial na produção, nas vendas e nas receitas para as indústrias do calçado na região. Eram estas as previsões para o ramo, e as de Nuno Marques da Silva, patrão da YouShoes Lda., empresa montada em 2015, e que tem tido bastante sucesso na área.

“Antes deste infortúnio que foi a pandemia, todos os empresários tinham perspetivas muito positivas para 2020, e que as coleções de Outono e Inverno iam ter bastante adesão, mas esta pandemia virou tudo de pernas para o ar. O que se esperava que fosse um sonho tornou-se um pesadelo.”

A fábrica de Nuno Marques foi das poucas que teve a felicidade de continuar a laborar sem qualquer complicação.

“Felizmente, não tive qualquer problema de maior, não tive nenhum trabalhador infetado ou com sintomas, e continuava a ter encomendas e material para trabalhar, mas em menor número do que o habitual. Isso no entanto permitiu que a produção funcionasse normalmente, tive a sorte de não ter de encerrar nenhum dia.”

Para respeitar as indicações da Direção Geral de Saúde e proteger os seus trabalhadores, Nuno Marques teve de despender de algum esforço monetário para que a sua fábrica se adaptasse a todas as condições de segurança.

“Tivemos todos os cuidados. Numa primeira fase cada trabalhador tinha gel perto de si e não entrava ninguém na fábrica sem desinfetar as mãos. Mais tarde, com o aconselhamento da DGS, cada trabalhador teria de usar máscara, o que dificultava bastante as condições de trabalho. Era mais difícil respirar e as pessoas tinham dificuldade em habituarem-se às máscaras.”

As perspetivas de Nuno Marques para o futuro são positivas, mas acredita que as maiores dificuldades a nível económico ainda estão para vir.

“A nível sanitário penso que o pior já passou. As pessoas da nossa vila demoraram a ganhar consciência de que esta situação não era “para brincadeiras”. Mas a nível económico as coisas vão complicar-se bastante, a nossa indústria trabalha com 6 meses de antecedência, estamos no momento a produzir sapatos de Outono/Inverno. O pior será quando no início de outubro começarem a produzir-se sapatos de Verão. Com as lojas fechadas os sapatos de Verão não vão ser vendidos e, assim, a quantidade de stock desses mesmos sapatos vai ser altíssima. O consumo é como uma tempestade, com a falta de poder de compra dos consumidores, os stocks vão aumentar e assim tudo o que tínhamos planeado fica desorganizado.”

Para as fábricas ultrapassarem as dificuldades económicas, “são necessários apoios do estado para que dinheiro entre nas fábricas para poderem pagar aos seus funcionários”. É este o pedido de Palmira Faria, presidente da Junta de Freguesia de Idães, que, numa entrevista a 9 de maio, concedida à RTP, lamentou que não tenha sido logo feita uma cerca sanitária, defendendo que a falta de informação das pessoas foi a grande causa de não respeitarem a quarentena. A estimativa da autarca para o desemprego na freguesia é muito elevada, entre 60% e 70%, pois “muitas fábricas não conseguem fazer face às despesas e terão de fechar”. Grande parte trabalham a “meio-gás” e outras encontram-se em lay-off.

O calçado é uma indústria que não tem meios nem capacidades para se adaptar às novas formas de trabalho e como qualquer indústria, a parte mais importante é a produção e o trabalho com máquinas e matérias primas. Mas houve também outras empresas que tiveram de se adaptar ao contexto atual e, mais do que nunca, o teletrabalho foi o maior recurso para que as suas atividades pudessem prosseguir. Segundo o diretor executivo do Twitter, Jack Dorsey, os seus funcionários podem trabalhar a partir de casa para sempre, se assim o desejarem, e apenas regressam aos escritórios em situações excecionais.

 

Prós e contras do teletrabalho

Jorge Sousa, natural de Idães, tem 24 anos e é designer na empresa de móveis “Sotubo”, empresa de design e produção de móveis. Esteve em teletrabalho durante toda a quarentena, e regressou aos escritórios no início de junho.

Conta que nos primeiros dias de teletrabalho, a adaptação foi um pouco complicada devido às distrações da sua residência, e considera que na área do Design nada substitui o trabalho de equipa presencial. “Obviamente, quando estamos na empresa temos um espaço de trabalho mais eficaz e organizado e as distrações são mínimas. Mas a maior diferença é a capacidade de resolver problemas, tirar dúvidas e analisar os processos de fabrico de uma forma rápida e direta, que só é possível presencialmente. Mas também tirei experiências positivas no teletrabalho. Permitiu-me expandir o meu processo criativo e ter novas perspetivas acerca do produto. Só que é necessário muita disciplina e método de trabalho, para não nos deixarmos levar pelas distrações. Na minha área, o teletrabalho pode e deve ser utilizado, mas nada substitui o contacto com a equipa e o produto. Penso que é possível tirar o melhor proveito dos dois.”

Jorge realça a responsabilidade cívica da população da freguesia perante um acontecimento inesperado e perigoso.

“A população de Barrosas cumpriu com o que foi pedido. Os primeiros dias foram complicados porque ninguém percebia bem o que estava a acontecer. É verdade que houve pessoas que não respeitaram a quarentena, mas foram casos isolados e não podem crucificar as ações da população em geral. Penso que tanto aqui, como no resto do país, a população agiu com responsabilidade e consciência cívica.”

Quanto ao futuro do concelho, Jorge acredita que é incerto, mas que a indústria do calçado, fonte de rendimento de quase toda a população de Felgueiras, tem capacidade para se recuperar.

“Ainda é cedo para saber. É um setor com bastante importância na região e em todo o país. Penso que tem tudo para conseguir recuperar e até desenvolver-se. Depende de muitos fatores, mas se as entidades competentes trabalharem juntas, o setor do calçado e muitos outros setores poderão recuperar e até mesmo corrigir erros que já eram cometidos antes do Covid-19. Este é um bom momento para fazer as coisas de novo e melhor.”

Mas é nos momentos mais difíceis que o melhor de cada um de nós pode vir ao de cima. Enquanto cumpríamos o nosso dever cívico, estavam, na frente de combate, em contacto com o “bicho”, vários heróis que largaram as suas casas e famílias para ajudar quem mais precisava. 


Os heróis de Portugal

Fabrício Pereira é enfermeiro, um dos muitos que esteve na linha da frente contra o Covid-19, e relata como foram os dias após o surgimento dos primeiros casos em Portugal e a forma como lidou com a situação pessoal e profissionalmente.

“Numa fase inicial, foi bastante complicado porque era um vírus desconhecido. As atitudes éticas e os cuidados a ter eram complicados porque era um vírus de fácil transmissão. Pessoalmente, as dúvidas eram gigantes porque o vírus é uma coisa que podemos transportar para casa e contagiar aqueles que mais gostamos. Dava muito medo e inseguranças. Afastei-me da família, neste momento estou a viver sozinho, longe da mulher e dos filhos.”

O dia a dia dos profissionais de saúde, segundo Fabrício, foi facilitando à medida que o conhecimento sobre o vírus era mais aprofundado e havia mais material de proteção para os profissionais de saúde.

“Inicialmente as dificuldades eram muitas, porque a nível hospitalar os equipamentos de proteção individual eram insuficientes e tinham de ser racionalizados. Depois o medo dos profissionais de saúde em ter de contactar com pessoas que não sabiam se estavam doentes. Essas foram as maiores dificuldades. Com o passar do tempo começamos a trabalhar de forma mais tranquila.”

Na opinião de Fabrício, Portugal teve um comportamento adequado, mas também refere que o País teve sorte por ter sido dos últimos a ter pessoas infetadas.

“Portugal é, provavelmente dos países que melhor se portou em relação ao vírus. Tivemos a sorte de sermos dos últimos países a ter contágios com várias pessoas e, assim tivemos a capacidade de aprender o que os outros países já tinham experienciado, nomeadamente a Itália e Espanha, o que possibilitou cortar cadeias de contágio mais rapidamente.”

Em relação ao fim do estado de emergência, Fabrício pensa que foi feito de uma forma inteligente, mas que só mais tarde se saberão as consequências do mesmo. Mas percebe também que o país tinha de retomar a atividade económica e social.

“Não sabemos ainda se foi na altura mais acertada. O que é certo é que o país tinha de sair do desconfinamento e voltar à realidade do trabalho e da sociedade. O fim da quarentena foi feito de forma gradual e inteligente, agora depende muito das pessoas saberem comportar-se para não voltarmos ao estado de emergência.”

A carga horária dos enfermeiros foi e ainda é uma grande questão. Fabrício deu a sua perspetiva sobre o assunto.

“A minha carga horária era praticamente a mesma, mas realizada de maneira diferente. Agora trabalhamos mais dias seguidos, mas depois temos folgas igualmente em dias seguidos para não termos de nos cruzar com as outras equipas. Com o aumento do número dos casos, a carga horária passou a ser maior.”

Fabrício pensa que enquanto não houver vacina, a vida nunca será com era antes da pandemia.

“Enquanto não houver vacina a vida nunca mais será como antes do vírus. A vacina é algo que envolve muito dinheiro e muito interesse. É um processo em que muitos países trabalham, mas o grande problema é que antes da vacina ser comercializada, é necessário testar a sua fiabilidade e que no seguimento da mesma, não surjam novas doenças.”

Felgueiras é hoje um concelho ferido por uma pandemia que, no início de junho ainda regista mais de 400 casos confirmados com Covid-19.

A sociedade e a economia de Felgueiras arrancam devagar à procura de dias melhores, a recuperar da maior catástrofe do século XXI, e com a cabeça bem assente que as maiores dificuldades ainda estão para vir. As fábricas que sobreviveram trabalham a “meio-gás” e o concelho que registava das taxas mais baixas de desemprego do país, registou um aumento de 46%. Tal como Felgueiras, Idães começa a retomar atividades, já se ouve o barulho das máquinas, os cafés já abriram, mas o medo e a ansiedade continuam bem presentes na cabeça da população.

Com este impacto na indústria do calçado e na vida dos consumidores, esperam-se que se vendam menos 5 mil milhões de sapatos, comparativamente a 2019. É necessário que a indústria do calçado volte a encontrar “o seu chão”. 

A vida vai regressando a uma nova “normalidade”: a normalidade da máscara, do afastamento social, da dúvida eterna e do medo de que qualquer contacto que se tem, por mínimo que seja, possa ser causa do contágio. Acima de tudo, é necessário manter a responsabilidade cívica e preparar-se para as implicações futuras que o vírus criou.

GeoUrbi
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