Uma sociedade livre e igualitária, sem qualquer tipo de autoridade. Esta é a ideia básica defendida pelo anarquismo e que Luis Aniceto e Nuno Vilar trouxeram à conferência “Anarquismo: Ontem e Hoje”, organizada pelo Núcleo de Estudos de Ciências Políticas e Relações Internacionais (NECPRI) da UBI.
Defendendo a “soberania de todos os indivíduos terem igual oportunidade de participação na vida pública e política”, os oradores consideram que não devem existir governantes, pois “a máquina política não deve ser propriedade de ninguém”, as assembleias “devem ser horizontais e não hierárquicas”, e argumentam que existem vários casos na História em que a ausência de uma autoridade resultou e foi benéfica, contrariando as ideias do senso comum de que a falta de autoridade provoca caos.
Rejeitando “utopias e concepções de sociedades perfeitas”, Aniceto e Vilar referem que no anarquismo “tem de haver sempre espaço para a contestação” por parte dos indivíduos, seja esta com ou sem violência, conforme a corrente anarquista seguida. Este foi um ponto bastante debatido, exactamente por alguns preconceitos existentes sobre o anarquismo. A violência não é uma característica universal desta ideologia, pois há anarquistas pacifistas, mas os convidados não põem totalmente de parte a possibilidade de ser usada. Considerando-se uma corrente de “destruição e renovação” da sociedade, estes anarquistas defendem ainda que a sociedade não deve tomar decisões rápidas, mas sim “pensar, reflectir e só depois agir”.
Ambos os convidados afirmaram que não vão votar nas eleições do próximo dia 5 de Junho, tanto pelas suas convicções como por “não se reverem” nos candidatos às legislativas. Sobre a grande percentagem de indecisos que as sondagens apresentam (cerca de 40%) e a possibilidade de o anarquismo conseguir chegar a eles, Luis Aniceto tem um discurso ponderado, dizendo que “é importante perceber se essa percentagem se deve a insatisfação para com a classe política ou a um afrontamento ao sentido de representatividade que o Estado requer para existir ”. Aniceto dirigiu ainda uma palavra para a religião: apesar de o anarquismo não ser contra as pessoas terem fé, a “repressão moral e social da Igreja ao longo dos séculos, e que continua ainda hoje a controlar e não dar acesso a muita informação, como nos casos do aborto e preservativo”, vão contra os princípios da ideologia anarquista apresentada aos ubianos.