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Uma Receção com história
João Canavilhas · quarta, 16 de novembro de 2011 ·
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21900 visitas Apesar da chuva, a Latada saiu à rua na quarta-feira da Receção ao Caloiro. Centenas de veteranos acompanharam os mais recentes ubianos no seu momento de apresentação à cidade que os vai acolher nos próximos anos. Mas a Latada é ainda um dia importante por outra razão: assinala oficialmente o fim da praxe. Tudo começou no dia 12 de Janeiro de 1984, com a primeira Latada. No ano seguinte, em 1985, organizou-se pela primeira vez uma Receção concentrada numa só semana. O lema escolhido foi “Vamos Fazer a Tradição”, e para os 496 alunos da UBI foi preparada uma semana com um orçamento de 500 contos (€2500). O programa incluía jogos de várias modalidades em que os caloiros defrontavam os veteranos: a modalidade mais esperada era o Brutobol, jogo simples e com uma só regra: o veterano tem sempre razão. A Garraiada, a Latada e o Baile de Gala completavam o programa de festas. Sendo notório que uma pequena universidade do interior não podia competir com as Queimas das Fitas das grandes universidades, decidiu-se apostar na receção aos novos alunos para marcar a diferença no calendário de festas académicas portuguesas. “O Nascer da Tradição” foi o lema escolhido em 1988 para assinalar o início de um percurso de sucesso: definiu-se então o modelo organizativo que ganhou fama e transformou a festa da Universidade da Beira Interior na maior Receção de Portugal. A semana começou sempre com a Serenata na noite de domingo e, até 2011, era um grupo de Coimbra que iniciava a semana mais longa do ano. Pela primeira vez, e bem, a AAUBI cumpriu uma velha aspiração: ter uma serenata com músicos da universidade. Segundas e terças-feiras eram noites dedicadas à dança, ao teatro e ao jazz: por aqui passaram orquestras como a Nova Filarmonia Portuguesa ou o grupo Miso Ensemble, companhias de teatro como A Barraca ou o Grupo de Fernando Gomes, com a célebre peça “Ó Maria não me mates que eu sou a tua mãe”. A partir da década de 90, a arraial fixou-se nas noites de segunda-feira, e as tardes de terça-feira passaram a ser dedicadas ao Rali das Tascas. Quarta-feira foi sempre o dia da Latada e das Tunas. Das características iniciais restam o desfile dos cursos pelas ruas da cidade, hoje com muito melhor produção, e a carroça com o vinho. Perderam-se os bombos que tradicionalmente abriam o cortejo. Na noite de tunas o panorama também é diferente: para além dos velhinhos Já BÚBI y Tôkuskopus e Moçoilas, hoje existem mais quatro tunas na UBI e por isso não é necesário convidar grupos de outras universidades. As quintas e sextas-feiras eram dias de concertos que decorriam no pavilhão do CDC e, nos últimos anos, em tendas de circo montadas no Campo das Festas ou na ANIL. Na década de 90, já com o modelo de festa estabilizado, passaram pela UBI bandas como GNR, Mão Morta, Pedro Abrunhosa, Ban, Rádio Macau, Pop dell Arte, Madredeus, Enapá 2000, Despe e Siga, Silence 4, Aerolineas Federales ou Anne Clark, só para citar alguns dos mais sonantes. Sábado era um dos dias mais intensos devido à realização de três eventos que já desapareceram do programa: a Garraiada, o Baile de Gala e o Enterro do Caloiro. A Garraiada começou por se realizar num recinto especialmente montado para o efeito num espaço existente frente ao Pavilhão do Inatel. Posteriormente mudou para a Praça de Touros de Idanha-a-Nova, local para onde a academia se transferia durante um dia. Dezenas de autocarros transportavam os estudantes para uma tarde de touros seguida de um concerto ao ar livre. Na noite do Baile de Gala, a academia vestia-se a rigor e as sonoridades Pop eram substituídas pela música dos anos 20, 30, 40 e 50, exemplarmente interpretadas pela Orquestra Melodia e, mais tarde, pela conhecida Orquestra da Felicidade, do Brilho e da Glória. Em 1985, o Baile de Gala decorreu na boite A Fonte, um espaço entretanto demolido que se situava frente ao Tribunal da Covilhã. Em 1987, o baile mudou-se para o Sanatório dos Ferroviários e dentro do recinto chovia a potes. No ano seguinte, o baile voltou à cidade e realizou-se na antiga Fábrica Alexandrino Nogueira, local onde hoje está a Telepizza. Em 1990 nova mudança para um barracão do Parque Industrial do Canhoso, no ano seguinte realizou-se na antiga fábrica Ernesto Cruz, junto ao Cibercentro, e em 1992 nos salões do Teatro-Cine. Nos últimos anos o baile realizou-se num hotel da cidade, mas a fraca adesão ditou o fim de um dos momentos mais aguardados da Receção. A maior receção do país terminava com o Enterro do Caloiro: de madrugada, após o final do Baile de Gala, simulava-se um funeral no Jardim Público, local onde era deixada uma cruz com a inscrição do ano letivo que então começava. Seguia-se uma distribuição de bola de carne para todos. Algumas destas atividades desapareceram, outras sofreram alterações, mas há uma coisa que nunca muda: o espírito ubiano. |