Viagem de professores adiada dois meses
                                 Sucesso do português 
                 não está garantido


O sucesso da adopção do português como língua oficial de Timor-Leste ainda não está garantido, com líderes timorenses a manifestarem-se optimistas mas a realçarem "alguns problemas" na actuação de Portugal neste sector. Para além de dificuldades na distribuição de material didáctico, Portugal já avisou que o envio de professores de português deverá ser atrasado dois meses, devido à falta de condições logísticas.
Além da "intransigência inicial" por parte de entidades pouco interessadas em aceitar a influência do português - como a própria UNICEF - líderes timorenses criticam atrasos da parte portuguesa, especialmente no envio de professores e de material didáctico.
Meses depois de o Conselho Nacional da Resistência Timorense (CNRT) e as dioceses de Díli e Baucau terem assinado uma declaração conjunta de apoio ao português, os professores necessários ainda não chegaram e os livros e material didáctico continuam por distribuir, sendo "insuficientes" e escolhidos "sem critério adequado".
Apesar disso, Filomeno Jacob, o responsável do CNRT para o sector educativo, disse estar "optimista" que Portugal responda adequadamente a pedidos já apresentados quanto ao envio de 600 professores.
Porém, e enquanto um pequeno grupo de 14 formadores está já no território - para conduzir um programa-piloto de reciclagem de professores timorenses -, o maior grupo poderá só chegar em Maio, com dois meses de atraso relativamente à data prevista.
Filomeno Jacob disse "a desculpa dada pelo comissariado do Padre Vitor Melícias se prende com a falta de alojamento adequado para os professores".
O CNRT já se disponibilizou para auxiliar na identificação de alojamento 'temporário' "nas infra-estruturas existentes, incluindo das dioceses", porém, segundo informações que recebeu, o comissariado pretende que sejam construidas 'aldeias' de acolhimento.

Portugal adia missão

Sabe-se entretanto que Portugal deverá adiar por dois meses o envio de professores portugueses para Timor-Leste, porque o País exige condições de alojamento que passam pela construção de 'aldeias' pré-fabricadas entre os escombros das cidades destruídas do território.
Filomeno Jacob, responsável do sector educativo do Conselho Nacional da Resistência Timorense (CNRT), disse à Lusa que a decisão sobre a necessidade do alojamento lhe foi comunicada pela representação em Timor-Leste do comissariado do padre Vitor Melícias.
"Obviamente que teria sido desejável que os professores portugueses chegassem em Março, mas não teremos, segundo me foi dito, o alojamento disponível", afirmou.
Filomeno Jacob já disponibilizou o CNRT para auxiliar na identificação de alojamento 'temporário' "nas infra-estruturas existentes, incluindo das dioceses", porém a opção foi rejeitada pelo comissariado.
"Se houvesse portugueses dispostos a vir nas mesmas condições
dos outros - os australianos - estaríamos na posição de os receber. O que me dizem é que é necessário alojamento. Ficarei à espera", disse.
Até agora em Timor-Leste está apenas um grupo de 14 formadores que vai conduzir um programa-piloto de reciclagem de professores timorenses.

Inglês na corrida

Uma exigência que não foi feita pelos australianos, que já enviaram formadores e professores de inglês que, fora do sistema de ensino normal, estão a conduzir aulas informais, apoiadas por material didáctico que inclui milhares de dicionários inglês-tetum.
"A nossa preocupação agora é garantir a presença dos portugueses. Uma presença física. É preciso ver portugueses aqui no terreno para promover a língua", apelou o responsável timorense.
Fontes diplomáticas portuguesas admitem que a decisão sobre a moeda oficial "fez subir de importância" a questão da língua, já que o escudo e o português foram desde cedo as duas principais posições Políticas do CNRT.
A nível da língua o empenho timorense é especialmente forte, o que se sente nas dezenas de 'escolas' do território, onde já desde finais do ano passado se aprende português num sistema de ensino informal, com professores timorenses e com material didáctico feito de fotocópias de gramáticas de 1968.
A vinda dos professores portugueses é especialmente importante não só para cristalizar o empenho de Lisboa, mas igualmente para "colocar no terreno mais falantes do português", alterando os pratos de uma balança em que a influência inglesa - dada a proximidade da Austrália - é cada vez mais sentida.
Questionado sobre se Portugal tem já preparados os projectos para o envio de material didáctico e para a criação de curriculos para Timor-Leste, Filomeno Jacob comentou: "Infelizmente penso que não". "É uma questão a ser organizada pelo comissariado em termos de apoio. Devo dizer que neste momento temos problemas de falta de material. Apesar do planeamento, o material ainda cá não chegou", disse.
As falhas no apoio prático são especialmente importantes porquanto fontes diplomáticas portuguesas disseram à Lusa terem conseguido "avançar quilómetros" depois de estar "abaixo da línha da água" no relacionamento com a UNICEF, que inicialmente se pautava "por um menosprezo total da opção política timorense" relativamente à língua.
Ao mesmo tempo, e enquanto se sente "um maior empenho" da parte portuguesa, comparativamente ao que acontecia há alguns meses, líderes timorenses temem que de Portugal "venham muitas palavras e poucas acções". "A vinda dos primeiros professores é um bom início de um processo importantíssimo e longo que começa agora e que vai durar três a quatro anos", disse Filomeno Jacob.
Ainda que o apoio de Portugal não aconteça, Filomeno Jacob garante que da parte timorense "o sucesso está garantido", em especial devido a "alguns amigos" que podem colaborar na solidificação dos projectos do CNRT.

 

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