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O primeiro ministro mostrou emoção ao inaugurar uma Barragem cujo
projecto remonta à sua infância,
passada nas Beiras


António Guterres inaugura Barragem do Sabugal

"Esperei 30 anos por isto". Foram estas as primeiras palavras que António Guterres, pronunciou ao observar pela primeira vez, depois de concluída, a Barragem do Sabugal. O chefe do governo deslocou-se, quarta-feira, 1, ao Sabugal para presidir à inauguração desta infra-estrutura.
Um empreendimento, quase mítico, constantemente adiado devido a indecisões e recuos que desde 1966, ano em que foi constituído o Grupo de Trabalho da Cova da Beira, adiaram a construção. Os repetido atrasos levaram a população local, em particular os agricultores, a sentirem-se defraudados com as expectativas criadas em torno do projecto.
A barragem do Sabugal foi considerada por António Guterres, que se fez acompanhar por Capoulas Santos, ministro da Agricultura, uma peça fundamental para a conclusão do Regadio da Cova da Beira. De facto, construída no Rio Côa, a Barragem do Sabugal possui um enorme potencial hídrico.
Dispõe de uma capacidade de armazenamento de 115 hectolitros cúbicos de água, que vão regar 14 mil hectares de terrenos agrícolas na Cova da Beira, sobretudo, nos concelhos da Covilhã e do Fundão. Esta infra-estrutura permitirá ainda melhorar o abastecimento de água aos concelhos do Sabugal, Almeida e Pinhel. Localizada a dois quilómetros do Sabugal, esta obra foi financiada através do Programa de Iniciativa Comunitária INTERREG II - Transfronteiriço, que permitiu uma comparticipação comunitária de 75 por cento. O custo final do projecto ascendeu aos 4,2 milhões de contos.
António Guterres manifestou o desejo, desde a primeira hora em que ocupou o cargo de primeiro-ministro, de ver concluído este equipamento. O concurso público internacional foi lançado em Maio de 1995. Os trabalhos iniciaram-se dois anos mais tarde. Mas foi apenas esta semana que se inaugurou o primeiro projecto realizado, em Portugal, de transvase de águas de bacias hidrográficas, neste caso, do Douro para o Tejo.
Faltam porém terminar algumas obras de pequena dimensão, a concluir durante o próximo mês, para que este equipamento esteja operacional.
A Barragem do Sabugal ainda não está preparada para começar a regar toda a zona de intervenção. Neste momento, estão por servir vários blocos de regadio. Em declarações aos jornalistas, o chefe do Governo garantiu que já está previsto um programa de investimentos que permitirá, num prazo limite de 2006, "ter todos os blocos em funcionamento". Por esta razão, os agricultores vão aguardar mais alguns anos até que a água da nova estrutura os abasteça. A juntar a isto, faltam realizar algumas obras a juzante, nomeadamente, no prolongamento do Canal Condutor Geral desde a albufeira da Meimoa.

Anúncio de programa de regadios

Quando iniciou o seu primeiro mandato à frente do Governo, Guterres estabeleceu o regadio como a prioridade da política agrícola em Portugal. E para reforçar esta ambição, o governante anunciou no Sabugal, a um mês da conclusão das negociações do III Quadro Comunitário de Apoio (QCA), que o programa de regadios do Estado, para o período 2000-2006, vai abranger 72 500 hectares: "Vai ser finalmente possível, com a preparação realizada nos últimos anos e com o novo QCA dar um verdadeiro impulso a um programa de regadios digno das necessidades dos nossos agricultores".
Em resposta aos críticos do projecto do Regadio da Cova da Beira, Guterres acrescenta que do conjunto dos regadios nacionais, este é o que apresenta melhores perspectivas de rentabilidade, ao beneficiar, sobretudo, "do declive entre a Barragem do Sabugal e as zonas regadas".
Toda a zona a irrigar é uma área especialmente vocacionada para a produção de hortícolas e leguminosas, gado e frutas, além de outras culturas. Prevê-se ainda que a utilização da Barragem constitua um precioso factor de atracção que ajude a fixar a população na região, invertendo a tendência actual de desertificação. Além de se constituir como uma reserva estratégica de água, o equipamento permitirá, em simultâneo, a produção de energia através de uma central hidroelectrica.

Assinatura de protocolos

Durante a cerimónia de inauguração, que juntou muitos autarcas dos distritos de Castelo Branco e Guarda, foram assinados dois protocolos que visam promover, sobretudo, o regadio.
O primeiro, assinado entre o Instituto de Hidráulica, Engenharia Rural e Ambiente (IHERA) e o Instituto de Conservação da Natureza permitirá a revitalização das áreas adjacentes da Barragem, nomeadamente, através da criação de um parque temático que fomente a Educação Ambiental e um viveiro florestal onde serão produzidas espécies autóctones. O segundo acordo, celebrado entre a Universidade da Beira Interior (UBI) e a Direcção Regional de Agricultura da Beira Interior (DRABI) prevê a elaboração de um projecto de desenvolvimento regional para a Cova da Beira.

Ricardo Guedes Pereira
NC / Urbi et Orbi






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