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Charola do Convento de Tomar reabre
Dignidade do Monumento
custa mais um milhão de contos

POR SANDRA CUNHA

A Charola do Convento de Cristo em Tomar reabriu aos visitantes após 12 anos de restauro. Desta forma, um dos espaços nacionais mais visitados deixa de estar tapado pelo equipamento de restauro, exibindo uma pintura mural na abóbada que está datada do século XVI. Todavia, só daqui a quatro anos o trabalho de restauro estará terminado, uma vez que ainda este semestre serão investidos mais um milhão de contos na recuperação do Convento para o devolver à dignidade que merece.

O Convento de Cristo em Tomar, classificado com Património Mundial pela UNESCO em 1983, já pode receber os seus visitantes na época de férias que se aproxima. Para visitar a Charola, os visitantes já não têm de se cruzar com os andaimes que não deixavam ver a jóia do Monumento. Agora, em vez de uma abóbada branca da qual transpareciam uns brasões datados do final do século XVIII, "há uma arquitectura fingida, uma pintura mural do estilo manuelino com arquitecturas virtuais", segundo o historiador de arte Vitor Serrão.
As obras de restauro na abóbada da Charola tiveram início em 1988, pelo instituto José Figueiredo, e pararam após a descoberta da pintura manuelina. O mesmo historiador refere que "foi uma grande descoberta para a história da arte, e que é o primeiro testemunho português de uma pintura de perspectiva arquitectónica". A singularidade do Convento de Cristo reside precisamente no facto de reunir uma série de estilos que percorrem a arte nacional. Do românico ao gótico, manuelino, renascimento e maneirismo, todos estão presentes neste tão apreciado espólio nacional. A Charola foi mandada construir em 1160 por Gualdim Pais, mestre da Ordem dos Templários em Portugal, juntamente com o Castelo de Tomar, porém, a sua conclusão verificou-se no século XIII. Na Charola as marcas do reinado dos Felipes também estão patentes através da pintura mural maneirista da autoria de Domingos Vieira, embora a documentação cite Fernão de Eanes como autor das pinturas da abóbada. Todavia, segundo o historiador " foi a Diogo de Arruda que coube a concepção do desenho posterior a 1510."
A importância da Charola para o Rei D. Manuel deve-se à ligação que tinha com a Ordem de Cristo, que além de ser a única nacional, está fortemente ligada à política dos Descobrimentos, promovendo a expansão ultramarina, e como tal será em Tomar que D. Manuel inicia as obras de renovação arquitectónica.
Tudo isto justifica o porquê de doze anos de restauro, pois, tudo teve de ser feito com muito cuidado ao, longo de várias fases. Assim, após a limpeza da cal, começou-se a fazer o levantamento da situação das pinturas, refere o especialista em pintura mural José Pestana, que juntamente com o especialista Joaquim Caetano foi responsável pela orientação técnica dos alunos das Escola Superior de Conservação e Restauro. Em 1994 o IPPAR ( Instituto Português do Património Arquitectónico) assina um protocolo com a referida escola para remover a cal da abóbada, mas o que fez parar tudo foi quando por debaixo da cal se descobriu que havia uma pintura. Então fez-se a abertura das janelas na abóbada para ver o estado em que se encontrava a pintura. Em 1993, uma empresa francesa faz a análise laboratorial da pintura e dois anos mais tarde, a escola de Sintra começava então os trabalhos. Desde 1995, o orçamento da intervenção na Charola soma-se em 87 mil contos: 37 mil para a abóbada e 50 mil para trabalhos de fixação e conservação, bem como levantamento de patologias.
O vice-presidente do IPPAR, Paulo Pereira refere contudo que "a abertura Charola não significa que os trabalhos parem, esta precisa de mais intervenções que serão postas a concurso público já em Agosto."
Mas mais do que meditar sobre o passado, vale a pena pensar no futuro, e se o interior da Charola está recuperado, o seu exterior deixa muito a desejar. O presidente do IPPAR, Luís Calado, adianta a possibilidade de uma recuperação integral da Charola para daqui a quatro anos. Em 1999, o Convento de Cristo era o sétimo monumento mais visitado do país, mas num futuro próximo, é impossível prever qual será o aumento de possibilidade de captação de visitantes. Espera-se que o investimento futuro de um milhão de contos na recuperação do Convento tenha um peso económico capaz de o transformar num efeito multiplicador para o concelho.

 

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