  
            António
            Fidalgo | 
            
              |  
            
            A Internet,
            o paleio e os factos
                 
               Da presidência
portuguesa
            da União Europeia destaca-se o empenhamento que o primeiro-ministro
            António Guterres colocou em promover as novas tecnologias
            da comunicação na Europa. A ideia é recuperar
            do atraso em que o velho continente se encontra relativamente
            aos Estados Unidos da América no que concerne à
            Internet e à chamada nova economia. Tanto a cimeira do
            emprego em Lisboa como a recente cimeira da Feira foram ricas
            em afirmações e declarações sobre
            a necessidade de fomentar o uso das novas tecnologias no espaço
            europeu. 
            Mas nesta coisa da Internet, como em tantas outras coisas, não
            há paleio, 
            por mais bem intencionado que seja, que resista à simplicidade
            e à dureza 
            dos factos. Se a Internet na América do Norte é
            o sucesso que é, isso 
            deve-se à liberalização das telecomunicações
            feita há mais de uma década, 
            de que resulta neste momento uma tarifa plana nas comunicações
            locais de 
            20 dólares (4 contos) por mês! Ou seja, uma pessoa
            na América pode fazer 
            as chamadas locais que quiser, o tempo que quiser, por, e repito,
            4 contos por mês. Ora como a Internet tem por enquanto
            de se fazer pelas linhas telefónicas, o seu custo é
            directamente proporcional ao das chamadas locais. Em Portugal
            com 4 contos paga-se o aluguer da linha e sobra um conto e pico
            para umas chamadas que, se fossem para estar ligado continuamente
            à Internet, nem dariam para um dia! 
            Estes é que são os factos. Os governos europeus
            pregam a Internet, mas têm serviços de telecomunicações
            muitíssimo mais caros que a América. Claro que
            cobraram, e cobraram bem, com a venda das suas empresas monopolistas. 
            Para o governo português a venda da Telecom foi uma mina,
            mas porque lhe 
            guardou um monopólio até ao início do ano
            dois mil. O fim do monopólio da 
            Telecom Portugal significou em certos casos, como as chamadas
            para 
            Espanha, uma redução de 80% nos custos. Não
            é porventura isto um escândalo?! Não eram
            esses 80% lucros indevidos de quem era monopolista? O nosso atraso
            nas telecomunicações e na Internet foi o lucro
            da empresa 
            Telecom e o correspondente negócio do Estado Português. 
            Vem agora um bom exemplo de Espanha, que não sendo tão
            bom como a 
            realidade americana, é bem melhor do que o que temos em
            Portugal: uma 
            tarifa plana para a Internet de 3.600 escudos por mês a
            partir de 1 de 
            Novembro, entre as 18 horas e as 8 da manhã, e durante
            todo o dia aos 
            sábados, domingos e feriados. Espero que o nosso ministro
            Mariano Gago, 
            tão apologista da Internet, consiga fazer melhor. 
            Por fim, outro facto. Nos Estados Unidos a concorrência
            na Internet faz-se entre as companhias telefónicas e as
            empresas de cabo no negócio de acesso à Internet.
            As empresas telefónicas respondem à maior largura
            de banda das ligações por cabo com a introdução
            de novas tecnologias como a ADSL que permitem ligações
            superiores a 1 Megabyte, pela linha de cobre do telefone normal!
            E em Portugal? Bom, em Portugal é a mesma companhia que
            domina os telefones e o cabo. Para que é que a Telecom
            se há-de esforçar muito se é a detentora
            da TV-Cabo que tem mais de 85% do mercado nacional do cabo? 
            Estes são os factos, os duros factos. Não se pode
            comer o bife duas vezes, mas os governos europeus fizeram o negócio
            do século com as venda das suas telecoms monopolistas
            e agora querem ter a Internet mais barata do mundo! 
            Têm muito que pedalar.  |