| Obras dão mais segurança
            à população mas não respeitam o originalMuralhas "aldrabadas"
 
  POR NÉLIA SOUSA
 
 "Uma obra aldrabada".
            É esta a conclusão a que chega o vereador da Câmara
            Municipal da Covilhã João Esgalhado relativamente
            à reconstrução das muralhas da cidade. As
            obras estão concluídas mas os 50 mil contos ali
            empregues pela Direcção Geral de Edifícios
            e Monumentos Nacionais não conseguiram "um ajustamento
            perfeito entre a parede que foi reconstruída e a parede
            que lá está". A estrutura de betão
            não convence a Câmara mas tranquiliza a população,
            em cuja memória permanecem os desmoronamentos do último
            Inverno
 As muralhas constituem um tesouro vivo para a cidade da Covilhã.
            Era no seu interior que, em épocas mais remotas, residia
            o grosso da população local e onde se faziam as
            principais transacções económicas. Até
            há pouco tempo, esquecidas pelas entidades responsáveis,
            enfrentavam a dura realidade da degradação.
 Em Janeiro deste ano, e depois de dois desmoronamentos que provocaram
            ferimentos ligeiros em duas vendedoras ambulantes que se encontravam
            junto à porta de acesso do Mercado Municipal da Covilhã,
            a Direcção Geral de Edifícios e Monumentos
            Nacionais foi obrigada a intervir na recuperação
            das muralhas da cidade. No entanto, foi preciso a Câmara
            Municipal da Covilhã exercer pressão sobre esta
            entidade. "Tendo em consideração questões
            de segurança, conforto e qualidade de vida dos cidadãos
            residentes na cidade e no concelho, avançou-se com os
            contactos necessários intendentes à celebração
            de um acordo conjunto com as entidades responsáveis através
            dos quais se  desenvolveu esta obra de recuperação",
            afirma o vereador da Câmara Municipal da Covilhã,
            João Esgalhado.
 Segundo este responsável camarário,  esta é
            uma recuperação limitada apenas à área
            que sofreu a degradação, "o que não
            implica que não possam suceder outros desmoronamentos
            noutras áreas circundantes que se encontram fragilizadas".
 "É ilegal a Câmara
            gastar dinheiro neste espaço" Na origem destes desabamentos
            influiu o factor tempo. "São construções
            muito antigas que pela sua antiguidade sofrem o desgaste dos
            anos. Suportaram desde sempre cargas violentas em termos de pesos
            de terra e a falta de cuidado das instituições
            do Estado que são responsáveis pela conservação
            e pela propriedade do património nacional", acrescenta
            este político.O início das obras, previsto para Abril, só veio
            a realizar-se alguns meses mais tarde. Isto porque, para além
            de complicações técnicas, "houve problemas
            na gestão de todo este processo que se prenderam com as
            competências que não eram exclusivas da Câmara",
            sublinhou  João Esgalhado.
 As muralhas estão classificadas como Património
            Nacional e encontram-se sob a alçada dos organismos do
            Estado. O vereador explica que, não sendo público,
            é ilegal a Câmara gastar dinheiro neste espaço.
            Tal só poderia acontecer se se constituísse previamente
            um regulamento municipal que definisse as regras necessárias
            para esse efeito.
 Quanto às casas situadas no cimo das muralhas o vereador
            não põe de parte a hipótese de virem a cair
            com um inverno mais rigoroso. "Ali agrava-se a questão
            da velhice de toda aquela estrutura, o facto de ser uma altura
            imensa e quando vêm as chuvas é a carga do terreno
            mais a carga da água a fazer peso sobre aquelas moradas",
            observa o vereador.
 A vegetação constitui outro problema, na medida
            em que ao desenvolver-se entre as pedras provoca a sua deslocação,
            tirando-lhes consistência e estabilidade.
 
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