|  António
            Fidalgo
 | A Covilhã
            e a Guarda
 Pertence a Covilhã à
            diocese da Guarda e ao distrito de Castelo Branco. Situada a
            meio caminho entre as capitais dos dois distritos da Beira Interior,
            a localização central da Covilhã não
            coincide com a sua localização religiosa e político-administrativa,
            que num caso e outro é geograficamente periférica.
            Religiosamente a Covilhã pertence à diocese da
            Guarda que vai desde os concelhos do Fundão e Penamacor
            aos de Figueira de Castelo Rodrigo, Fornos de Algodres e Seia.
            Política e administrativamente pertence ao distrito de
            Castelo Branco que se estende até Vila de Rei e Sertã.
            Nas cerimónias da Universidade da Beira Interior a dicotomia
            da Covilhã torna-se bem visível com a presença
            da bispo da Guarda e o governador civil de Castelo Branco.
 Da religião se tem dito que é o cimento de uma
            sociedade. E se virmos o que compõe a identidade de uma
            comunidade local veremos que a igreja e o cemitério são
            certamente referências mais importantes que, por exemplo,
            a junta de freguesia ou o posto médico. Os grandes momentos
            da vida são marcados religiosamente, baptizados, casamentos
            e funerais. Deste ponto de vista a afinidade da Covilhã
            com a Guarda é muito superior que com Castelo Branco.
            Ainda neste âmbito atente-se que a formação
            eclesiástica na Guarda, feita nos seminários do
            Fundão e da Guarda, por onde passaram durante doze anos
            os padres da diocese, constituiu e constitui um elo de união
            único entre as diferentes terras da diocese. Os seminários
            foram a forja cultural e social que ao longo de décadas
            moldou centenas e centenas de jovens, se não milhares,
            dos que chegaram a padres e dos que saíram, lhes deu à
            altura uma formação escolar boa e lhes incutiu
            uma disciplina única.
 
 A comunicação social, a que a Igreja deu sempre
            especial atenção, espelha bem o círculo
            religioso a que pertence a Covilhã. O Notícias
            da Covilhã é pertença da diocese da Guarda,
            enquanto o jornal principal de Castelo Branco, a Reconquista,
            pertence à diocese de Portalegre-Castelo Branco.
 
 É óbvio que a crescente secularização
            das últimas três décadas está a esbater
            de algum modo as identidades religiosas, mas estas são
            um substracto profundo em que muito se joga, mesmo politicamente.
            O alargamento a norte da Associação dos Municípios
            da Cova da Beira, inicialmente apenas constituído pelos
            quatro municípios do distrito de Castelo Branco pertencentes
            à diocese da Guarda, acompanha uma prévia afinidade
            religiosa. Outro sinal demonstrativo é o intercâmbio
            mais fácil que a UBI mantém com o Politécnico
            da Guarda que com o Politécnico de Castelo Branco.
 
 Que a sede da Empresa de Águas do Zêzere e do Coa
            se situe na Guarda e não na Covilhã ou no Fundão,
            apesar de aqui se situar a Estação de Tratamento
            de Lixos, não deixa de ser curioso. Isso não se
            deve certamente ao paço episcopal da primeira, mas ao
            facto de, em campos coincidentes, as centralidades e as periferias
            tenderem a perpetuar-se. Uma periferia só se converte
            em centralidade no momento em que souber cooperar com outras
            periferias e, desse modo, fazer deslocar os eixos de força.
 
 Delinear o futuro da Covilhã passa seguramente por conhecer
            exactamente a sua localização religiosa e cultural.
            Situada na diocese da Guarda, a Covilhã terá só
            a ganhar com todas as proximidades que souber criar com a cidade
            a norte. Situada na intersecção de dois círculos,
            o religioso e o político-administrativo, a Covilhã
            deverá perceber a sua localização periférica
            em qualquer um deles, para fazer do ponto de intersecção
            uma nova centralidade.
 
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