Regras mais humanizadas mas ainda polémicas
Código da Praxe renova tradição académica

"Mudam-se os tempos mudam-se as vontades". É assim que se justifica a revisão ao código da praxe da Universidade da Beira Interior. Um documento caduco, que já tinha caído no esquecimento de veteranos e caloiros. As novas regras parecem mais humanizadas, mas são ainda polémicas entre a Academia

 Por Marisa Miranda

Os ritos de iniciação na vida académica têm novas regras

A praxe é um rito de iniciação na vida académica. No entanto, sendo um exercício de poder, por vezes dá origem a abusos por parte dos que praxam. A fim de regulamentar estes abusos são necessários rígidos códigos de praxe que possam punir os infractores. Desde há muito que na Academia ubiana essas normas de praxe estavam aparentemente esquecidas, o que deu azo, nos últimos anos, a algumas situações menos dignificantes para a própria instituição. Este novo código encara a praxe como "espírito de entreajuda, solidariedade e comunidade", pois a mesma "não pode servir de capa a actos de cobardia e/ou violência".
O primeiro código de praxe, da autoria de Luís Miguel Duarte, foi editado no dia 6 de Dezembro de 1990. Este código encontrava-se desfasado da realidade actual, revelando ser um documento obsoleto onde se considerava, a título de exemplo, no capítulo IX artigo XC que "o caloiro é burro" e no capítulo VII artigo XXVII que "o caloiro não tem direitos".
Foi com base neste que se elaborou o actual, dada a necessidade da sua revisão e actualização. O novo regulamento já está em vigor desde a sua aprovação na Assembleia Geral de Alunos (AGA) de 29 de Novembro. Maria Emília Baltazar, Graça Maria Barata, Pedro Albuquerque, Fátima Reis e Amílcar Pinto são os autores das novas regras.
A principal novidade é a consagração do título de anti-praxe. Diz o novo código que "estão vinculados à praxe todo e qualquer estudante da UBI, podendo no entanto, quem o quiser, declarar-se objector de praxe (anti-praxe) sendo no entanto banido de todos os actos académicos (Baptismo, Latada, Enterro do Caloiro, Benção das Pastas e uso do Traje Académico)". A praxe assume, assim, um carácter não vinculativo e opcional.

Novas tradições

O cortejo de finalistas é outra das inovações deste código. Este desfile serve para homenagear os alunos que estão a terminar o curso. Consiste num percurso que vai desde o Largo da Igreja de São Martinho até ao recinto da Nossa Senhora da Conceição, em Santo António, onde se realiza a Missa da Benção das Pastas. Os finalistas deslocam-se a pé levando um estandarte com o nome do curso e algumas oferendas, ainda a estipular.
À semelhança da tradição coimbrã, a cerimónia de formatura dá-se no dia da conclusão do curso. Uma espécie de "rasganço" envergonhado, onde depois de conhecida a última nota, amigos e colegas levam o recém licenciado para a Parada, onde este deverá rasgar o caderno dessa cadeira, dedicando cada página desta a quem o entender. A última página deve ser dedicada à UBI, terminando com as palavras "finitus praxis".
O Baptismo dos caloiros também tem nova receita. Deixará de ser uma guerra entre cursos com lama, farinha e outras substâncias pouco agradáveis à mistura para se transformar num jogo divertido conduzido pelo Imperatorum. Durante o baptismo não pode haver contacto físico entre os cursos, "é obrigatório o uso do traje" pela assistência e não é permitido o uso de outras substâncias que não sejam água e farinha.

"Orelhadas" para os infractores

A mola e o rolo da massa são os objectos da praxe que devem ser de "uso exclusivo dos chefes de melícia".
A mola da roupa é utilizada na aplicação de sanções a todos aqueles que não cumpram o código da praxe. Segundo o novo código, a mola significa "limpeza e serve para purificar o espírito conspurcado" do infractor.
As sanções normais são as "orelhadas". A mola é colocada do mesmo modo que se coloca um brinco, com a duração de 15 segundos.

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