Acidente ou Atentado?
"Camarate" exibido e comentado por Luís filipe Rocha

Luís Filipe Rocha esteve no Unidos do Tortosendo a convite do Cineclube da Beira Interior, no dia 19, sexta feira, para a exibição do seu polémico último filme "Camarate". Quando o ICAM apreciou o argumento pela primeira vez, em 97, chumbou-o alegando que "podia causar reservas e perplexidades". Em 98 era aprovado, com um apoio de 130 mil contos.

 Por Raquel Fragata

Luís Filipe Rocha, realizador de "Camarate"

"Camarate" reconstitui a noite de 4 de Dezembro de 1980 em que o avião Cessna que transportava Francisco Sá Carneiro, primeiro ministro de Portugal, o ministro da Defesa, Adelino Amaro da Costa, Snu Abecassis, Maria Manuel Amaro da Costa, António Patrício Gouveia e os dois pilotos Jorge Albuquerque e Alfredo de Sousa. E segue daí para o processo judicial que se desenrola até ao seu arquivamento definitivo. Espelha a forma como se dividem as opiniões entre um possível acidente ou um atentado, como se dividem as opiniões da Justiça e das comissões de inquérito Parlamentares.
O percurso que levou Luís Filipe Rocha, licenciado em Direito, até ao processo de "Camarate" é curioso. Encontrava-se, em 1995, a fazer investigação para um outro filme, uma espécie de retrospectiva da situação da Justiça portuguesa no final do século XX, quando no meio dos processos judiciais "mais emblemáticos do funcionamento da Justiça" se deparou com "Camarate". "Fiquei de tal maneira estarrecido e surpreendido com o que encontrei que decidi investigar e tentar fazer um filme sobre o caso Camarate". Um tema que exigiu por parte do realizador uma investigação "morosa e minunciosa", pois era sua preocupação conseguir "o máximo de rigor e de escrúpulo no que dizia respeito ao processo".
Durante três anos Luís Filipe Rocha empenhou-se no estudo do caso para poder escrever e filmar "Camarate, acidente ou atentado".

Acidente ou atentado?

Esta é a questão que nos colocamos e que durante vinte anos vagueou pelos corredores dos tribunais portugueses sem obter resposta. Luís Filipe Rocha também não sabe responder a esta questão e assume um certo descrédito na Justiça portuguesa, aquele que considera "um dos mais importantes pilares de um Estado de Direito Democrático". Confessa também que, à imagem da personagem protagonista do filme, vê-se forçado a "crer nos magistrados enquanto pessoas humanas e individuais capazes de agir em consciência".
No final da exibição do filme, seguiu-se um debate onde estiveram representados o Partido Socialista, Partido Social Democrata, Partido Comunista Português e Partido Popular. Perante uma assistência atenta, Luís Filipe Rocha sublinhou a satisfação por ter conseguido realizar este filme. "Estou integralmente satisfeito com este filme, assumindo integralmente tudo o que é dito, todas as suspeitas levantadas". Para o realizador de "Camarate" a visão corporativa que algumas instituições democráticas têm de si levou a que este caso não tivesse outro desfecho que não o do arquivamento definitivo por falta provas.
"O filme tem um aspecto de seriedade enorme em que as conclusões são conduzidas como em qualquer comunicação", referiu no final Alçada Rosa, vereador do PSD da Câmara Municipal da Covilhã. Para João Correia, do Partido Socialista, "Camarate" representa uma atitude fundamental: questionar a história recente de Portugal. Isilda Barata, do PP, reforçou a "necessidade de se tentar sempre a verdade". Armando Morais lamentou perante os presentes o facto de "a Justiça não estar a responder a estes casos".
"Camarate" vai continuar a ser, e cada vez mais consensualmente, um dos momentos mais negros da história de Portugal e da Justiça.

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