"Falta de estradas condiciona desenvolvimento"
- lamenta o presidente da Câmara do Sabugal,
Esteves Morgado

"A falta de boas acessibilidades está a tirar investimentos ao concelho do Sabugal". A afirmação é de António Esteves Morgado, presidente da Câmara daquele município do Distrito da Guarda.

 Por Raquel Fragata

António Esteves Morgado,
presidente da Câmara do Sabugal

Na raia, tal como no resto do Interior, a desertificação é um problema real e a receita de Morgado é "reagir à questão de uma forma normal" e esperar mais apoio do Poder Central. "Não basta falar da nossa zona apenas durante as campanhas eleitorais. É necessário que seja visto com outra dimensão e tratado com outra dignidade e solidariedade", argumenta.
A grande maioria dos cerca de 17 mil habitantes do concelho do Sabugal ocupa-se, actualmente, da agricultura e pecuária. O tempo do contrabando e da exploração mineira ficou para trás e, hoje, para além das actividades rurais, existe emprego em empresas ligadas às confecções, mármores, granitos, serralharias e lagares. No entanto, Esteves Morgado caracteriza o ritmo dos investimentos como algo que anda "a passo de tartaruga". No entender do edil, a falta de vias de comunicação é a principal razão para que os empresários não se sintam atraídos pelo concelho. "Quando há boas acessibilidades as pessoas e as mercadorias circulam facilmente e os custos de produção são menores. Como não temos essa dinâmica, as indústrias preferem outros lugares", explica.
O acesso ao Sabugal faz-se, essencialmente, por duas vias. A Estrada Nacional (EN) - 233 serve quem vem do Sul, de Penamacor, e do Norte, d Guarda. O trânsito para leste, Espanha ou freguesias junto à fronteira, utiliza a EN 233 - 3. O edil queixa-se da insuficiência das mesmas, às quais acrescenta a sua degradação: "As nossas estradas da década de 50 e continuam, praticamente, com as mesmas características. Com a agravante de que se encontram num estado deplorável".

Empresas espanholas têm mais apoios

Para corrigir situações como estas, combater os efeitos de interioridade e desenvolver o concelho, a autarquia raiana elaborou o Plano de Desenvolvimento Económico e Estratégico (PDES).
Composto por cinco linhas estratégicas, o objectivo é criar condições para atrair turistas e aumentar a qualidade de vida ao nível da saúde e do desporto, assente no fortalecimento da base económica. Tudo isto passa por melhorar os meios urbano e ambiental, mas também pela eliminação de barreiras alfandegárias e pelo melhoramento dos acessos rodoviários ao resto do País e ao estrangeiro. Esteves Morgado revela que "o PDES é, ainda, um documento provisório". "Queremos que o Plano seja uma verdadeira Bíblia para o desenvolvimento do concelho. Por isso, ouvimos as várias forças sociais, económicas e políticas, para que todos pudessem dar o seu contributo", explica. Um projecto como este, que vai ser candidato a verbas do terceiro Quadro Comunitário de Apoio (III QCA), tem de ter em conta as mais valias do município. Nestas, incluem-se a Reserva Natural da Serra da Malcata e as Termas do Cró e Águas Radium. Segundo o presidente da Câmara, "qualquer indústria pode instalar-se no concelho", mas reconhece a sua preferência por unidades industriais, entre 10 e 50 trabalhadores, que não sejam poluidoras".
Com Espanha logo ao lado, é inevitável que a relação entre as populações fronteiriças dos dois países não seja abordada. Esteves Morgado revela que "na convivência e na cultura estamos no mesmo patamar". O mesmo já não se verifica na forma como se desenvolvem as actividades económicas nos dois lados da fronteira. "Quer as empresas, quer a agricultura têm da parte do Governo espanhol o apoio necessário à sua dinamização. Por isso se explica que, em termos de competitividade, eles sejam mais fortes", comenta. Algo que provoca o lamento do edil: "É pena que não haja mais incentivos, porque a nossa capacidade de trabalho é tão boa como a dos outros. Aquilo que os emigrantes portugueses têm feito em França, Alemanha ou África do Sul, por exemplo, são provas disso".

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