SINAIS (2)

Edmundo Cordeiro

Segunda parte da tradução de "L'image de la pensée", conclusão da Primeira Parte de PROUST ET LES SIGNES, de Gilles Deleuze, PUF, Quadrige, Paris, 1964, pp.115-124.

"O grande tema do Tempo reencontrado [TEMPO REENCONTRADO é o título do último volume de EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO, de Marcel Proust] é este: a busca da verdade é a aventura própria do involuntário. O pensamento não é nada sem qualquer coisa que force a pensar, que inflija violência ao pensamento. Mais importante que o pensamento, o que "dá que pensar"; mais importante que o filósofo, o poeta. Victor Hugo faz filosofia nos seus primeiros poemas, porque ele "pensa ainda, em vez de se contentar, como a natureza, em dar que pensar". Mas o poeta descobre que o essencial está fora do pensamento, naquilo que força a pensar. O "leitmotiv" do Tempo reencontrado é a palavra FORÇAR: impressões que nos forçam a olhar, encontros que nos forçam a interpretar, expressões que nos forçam a pensar.

(…)

O que força a pensar é o signo. O signo é objecto de um encontro; mas é precisamente a contingência do encontro que garante a necessidade daquilo que ele dá que pensar. O acto de pensar não decorre de uma simples possibilidade natural. É, pelo contrário, a única verdadeira criação. A criação é a génese do acto de pensar no próprio pensamento. Ora esta génese implica qualquer coisa que inflige violência ao pensamento, que o arranca ao seu adormecimento natural, às suas possibilidades unicamente abstractas."

[CONTINUA]

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