Para acabar (de vez) com o complexo
da interioridade
Uma Escola com 116 anos de
existência e um título de Membro Honorário
da Ordem de Instrução Pública, outorgado
pelo Presidente da República, em 5 de Fevereiro de 1985,
não poderia deixar de se sentir interpelada pelo artigo
publicado na edição do Notícias da Covilhã
do passado dia 8 de Dezembro, intitulado "Um colégio
de elites", da autoria de António Fidalgo.
Chamada a reflectir sobre o conteúdo do escrito em causa,
a comunidade educativa considerou-o abusivamente generalista
e profundamente elitista, apresentando mesmo contornos de fundamentalismo
nas críticas feitas e na opção assumida.
O saudosismo ali evidenciado remete, aliás, para um passado
distante em que a educação/instrução
era apenas acessível a uma minoria de privilegiados que
garantia a reprodução do modelo social vigente.
Hoje, quase 27 anos depois do 25 de Abril, defender que uma educação
de qualidade passará, obrigatoriamente, por critérios
económicos, parece, no mínimo, atentatório
contra os princípios da democracia em que vivemos.
Se é verdade que as alterações induzidas
por aquele regime trouxeram entretanto às escolas públicas
um universo de alunos muito diversificado, portador de vivências
diferenciadas, haverá que reconhecer também o esforço
de muitas para corresponder às novas competências
que lhe são cometidas. Entretanto com a massificação
do ensino, as escolas tornaram-se rapidamente palco dos conflitos
sociais latentes, e questões como a violência ou
o racismo instalaram-se ali quotidianamente, sobretudo nas grandes
cidades e na sua periferia. Daí, a necessidade de escolas
particulares que garantam a segurança dos jovens durante
o período lectivo.
Felizmente (vantagem da interioridade?!) esta não é
a situação das escolas da nossa cidade particularmente
da nossa Escola onde, graças à acção
concertada dos vários elementos da comunidade educativa,
se vive num clima de segurança propício ao trabalho
dentro e fora da aula.
E porque os nossos profissionais são tão ou mais
competentes do que os dos "bons colégios particulares"
e os alunos das escolas públicas são tão
ou mais dotados do que os das privadas, temos muito orgulho no
1° prémio atribuído num Concurso Nacional de
Artes Plásticas a uma nossa aluna que este ano ingressou
no Curso de Escultura na Escola de Belas Artes do Porto. E no
convite que foi dirigido a três dos nossos alunos do Clube
de Holografia para representarem Portugal na Intel ("Certame
Internacional de Jovens Cientistas com maior prestígio
em todo o Mundo, que conta com a participação de
cerca de 1000 jovens de quase todos os países dos Continentes
Americano e Europeu) na América, no próximo mês
de Maio, depois de já terem estado em Genebra, no ano
passado. Para já não falar de tantos dos nossos
alunos que ingressam com êxito no mercado de trabalho ou
prosseguem estudos em diversas instituições de
ensino superior. (Note-se, a propósito, que os melhores
alunos da Universidade pública da Beira Interior são
preparados nas Escolas Secundárias locais, assim como
o foram alguns dos professores que ali leccionam. Note-se, ainda,
que estudos publicados pelo Ministério da Educação
- e já amplamente divulgados - provam, sem margem para
dúvidas, que é nos colégios privados que
surgem as maiores discrepâncias entre as notas de frequência
atribuídas aos alunos e as notas de exame nacional no
12° ano).
São estas e tantas outras gerações de profissionais
que passaram pelos bancos das nossas escolas e de tantas outras
escolas públicas e que actualmente desempenham as mais
diversificadas funções na sociedade portuguesa
que evidenciam o importante contributo do ensino público
como principal impulsionador do esforço de educação
e formação integral dos jovens e adultos (que frequentam
o ensino recorrente).
Independentemente do espaço e papel legalmente reservados
ao ensino privado e cooperativo - indubitavelmente meritório
e em muitos casos complementar, suprindo lacunas que o Estado
não soube ou foi incapaz de colmatar - importa continuar
a investir no ensino público (o único que potencia
a unidade na diversidade, o único que põe em confronto
aberto e livre a sociedade e não a realidade virtual dos
que passam pela vida almofadados em privilégios de casta).
Há que assumir sem tibiezas os erros cometidos, inovar
porque a globalização assim o exige, avaliar o
desempenho dos professores que não querem eximir-se às
suas responsabilidades porque pugnam por uma cultura de exigência
e de rigor que forme cidadãos plenos que, sem complexos,
proclamem que são Homens do Interior que passaram pelo
Ensino Público que lhes incutiu valores pelos quais se
pautarão por toda a vida, como solidariedade, integridade,
espírito crítico, inconformismo perante as injustiças
gritantes de uma sociedade que se rege por critérios iníquos
de sucesso = dinheiro.
Conselho Executivo e Conselho
Pedagógico
da Escola Secundária Campos Melo da Covilhã
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