Tragédia de Castelo de Paiva motiva solidariedade
Covilhã lança flores de ponte fechada ao trânsito

O Instituto de Estradas de Portugal assegura que o encerramento da Ponte Pedrinha nada tem a ver com a tragédia de Entre-os-Rios. Certo é que dois arcos da estrutura necessitam de intervenção urgente. A Câmara Municipal acusa o Estado de não atender aos problemas do Interior.

 Por Sérgio Felizardo
NC/Urbi et Orbi

Na Ponte Pedrinha, em nome da população da Covilhã, a autarquia lançou flores ao Zêzere para lembrar as vítimas de Entre-os-Rios

Num acto simples, mas carregado de simbolismo, algumas dezenas de covilhanenses juntaram-se à dor da população de Castelo de Paiva. No salão dos Bombeiros Voluntários da Covilhã, durante todo o dia do último domingo, 11, esteve um livro de condolências para assinar e posteriormente enviar à Câmara paivense, enquanto cá fora se depositavam coroas e ramos de flores, depois lançadas ao Zêzere, e se acendiam velas. A ideia partiu do presidente da Associação de Bombeiros, José Marques Malaca, que, para a levar a efeito, reuniu diversas colectividades da cidade e mobilizou a autarquia.
Como aconteceu durante a semana em todo o País, a tragédia que provocou mais de 60 mortos depois da queda da ponte de Entre-os-Rios causou consternação evidente nas pessoas que decidiram demonstrar o seu voto de pesar. As conversas abordaram, invariavelmente, as dificuldades em encontrar os corpos das vitimas e o medo de que algo de semelhante acontecesse na região. Um medo que alguns populares não escondem, apesar da consciência de que, no distrito, infra-estruturas com aquelas dimensões não existem e que o Rio Zêzere não terá o caudal apresentado pelo Douro. Mesmo assim, os alertas às autoridades fizeram-se ouvir, nomeadamente em relação aos três casos que no concelho da Covilhã se apresentam como mais problemáticos: Ponte Pedrinha, Ponte de Caria e Ponte da Aldeia de São Francisco de Assis.

Engenharia Civil da UBI
pode vistoriar pontes municipais


Para o comandante dos Voluntários serranos, José Flávio, a situação não é dramática, mas necessita, "sem dúvida", de atenção: "Temos um rio cujo caudal não se compara ao do Douro, mas também temos pontes centenárias e as tragédias acontecem quando menos se espera". Pontes que, continua o comandante, a autarquia já fechou ao trânsito de pesados, num caso, e que noutro está fechada a todo o trânsito. Quanto à possibilidade de um desastre de grandes dimensões acontecer no concelho e à capacidade que os Bombeiros teriam de fazer face à ocorrência, José Flávio é curto e esclarecedor: "Não temos meios para intervenções aquáticas".
Queixas, também, da parte do presidente da Câmara Municipal. Segundo o Notícias da Covilhã apurou, a autarquia terá já contactado o departamento de Engenharia Civil da UBI, no sentido de este apresentar uma proposta de vistoria às pontes municipais de Caria e à de Aldeia de São Francisco para se definir o carácter das possiveis intervenções. A proposta ainda não existe, mas o processo está entregue a uma equipa liderada pelo professor Castro Gomes e de que faz parte o engenheiro João Carlos Lanzinha. No que diz respeito à Ponte Pedrinha (Estrada Nacional de ligação ao Ferro), encerrada à circulação automóvel desde o dia 6, terça-feira, Carlos Pinto considera a situação "insustentável". "Desde 1998 que o Instituto das Estradas de Portugal (IEP) tem conhecimento de que há problemas e nunca obtivemos respostas". O autarca acusa o Estado de privilegiar a resolução de questões que envolvem áreas mais próximas dos grandes centros urbanos e de não trabalhar "para evitar tragédias como a que assolou Castelo de Paiva". "Não é só depois das coisas acontecerem que se olha para os problemas", acrescenta.

Arcos da Ponte Pedrinha à espera de betão

Afirmações que Santos Marques, director do Instituto das Estradas de Portugal em Castelo Branco, desmente, até porque, assegura, "o encerramento da Ponte Pedrinha nada teve a ver com a queda da Ponte de Entre-os-Rios". "O fecho da estrutura ocorre depois de uma vistoria feita pelo IEP e em que se verificou que algumas pedras de um dos arcos não estavam bem seguras. Como isso poderia acarretar a ruína desse arco, decidiu-se, primeiro, proibir a passagem de pesados e, depois, de todo o trânsito, porque as águas continuaram a subir e não permitiam uma vistoria mais profunda", completa.
Essa inspecção vai avançar em breve e, segundo garante Santos Marques, poderá resultar não apenas na rectificação dos problemas, mas também na elaboração de um projecto de alargamento da travessia de origem romana: "A Ponte Pedrinha tem dois arcos que já foram intervencionados, através da colocação de uma laje de betão no interior. Os outros dois deverão sofrer o mesmo tipo de acção e poderemos aproveitar para alargar a via para seis metros, de forma a poderem circular viaturas nos dois sentidos ao mesmo tempo".
No entender de Santos Marques, cujo início de carreira na ex-Junta Autónoma das Estradas esteve ligado, precisamente, às pontes, este é o único caso no distrito que merece alguma preocupação. Apesar de considerar que as vistorias não se fazem com a frequência desejada, o engenheiro salienta que são, isso sim, "visualizadas periodicamente". Por isso, conclui, "quem observar qualquer tipo de anomalia em estruturas do distrito deve informar o Instituto que, de imediato, irá ao local fazer a sua avaliação".

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