Por Nélia Sousa

No intervalo da sessão os presentes foram convidados a visitar as instalações do Departamento de Engenharia Civil da UBI

Apostar na competitividade, qualidade e inovação foi o repto deixado pelos especialistas e empresários presentes nas jornadas sobre o Ambiente e Inovação no sector das Rochas Industriais e Ornamentais. O evento, que decorreu na quarta feira, 30 de Maio, no Edifício das Engenharias da UBI, foi organizado pelo Centro de Inovação Empresarial da Beira Interior (CIEBI) e contou com a presença de várias individualidades do ramo.
O sector das rochas é um sector de grande internacionalização. Portugal ocupa actualmente o quinto lugar a nível mundial e o terceiro a nível europeu, no que diz respeito à produção e exportação. Com mais de 2000 empresas a funcionar no País a produtividade está muito longe de atingir os níveis da vizinha Espanha. Isto deve-se, segundo Sónia Pereira, directora técnica do Centro Tecnológico para o Aproveitamento e Valorização das Rochas Ornamentais e Industriais (CEVALOR), "às estratégias de marketing, a uma produtividade e mentalidade completamente diferentes da nossa".
A competitividade e excelência deverá ser, na opinião dos especialistas, o desafio do futuro. Segundo Alcino Carvalho, da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, "a competitividade pode aumentar a penetração nos mercados tradicionais bem como noutro tipo de mercados". Face a isto apostar na modernização deverá ser uma meta a atingir. Para Célia Marques, responsável pela área do ambiente da Associação Portuguesa dos Industriais de Mármores, Granitos e Ramos Afins (ASSIMAGRA), é fundamental investir na mão de obra qualificada, modernização de equipamento tecnológico, associativismo e cooperação empresarial, planos de formação mais dinâmicos e qualificados, de forma a que Portugal consiga subir na escala da produtividade.
A formação é um requisito importante, pois é uma forma de rentabilizar a produção. Daí que a realização de eventos como estes sejam apontados como o motor de arranque para atingir esse objectivo. Mas "as empresas não partem para estas iniciativas porque há um espírito muito individualista", afirma Célia Marques, que acrescenta: "Tem de haver um espírito de cooperação e associativismo".
Estas jornadas pretenderam mostrar aos presentes a necessidade de apostar na inovação, de forma a que o sector das rochas industriais e ornamentais em Portugal alcance níveis próximos da média europeia.

Interior desfavorecido

Com mais de 200 empresas a funcionarem na região da Beira Interior, a indústria das pedras naturais desempenha um papel importante no incremento da produtividade regional. Contudo o apoio e a ajuda às empresas deste sector têm sido poucos, o que leva João Carvalho, director geral do CIEBI, a afirmar: "A região ainda está desfavorecida em relação aos grandes eixos urbanos. Os centros de apoio específico ao sector ainda estão muito distantes, há uma falta de intervenção e apoio directo por parte de alguns ministérios. As próprias empresas não têm capacidade financeira para suportar diversos quadros técnicos". Opinião contrária tem Sónia Pereira que afirma: "O Interior não é esquecido pois temos permanentemente técnicos disponíveis a dar apoio nas zonas Centro e Norte".
João Carvalho não quis deixar de referir também o papel fundamental desempenhado pela UBI que é, no seu entender, um importante actor no qual "os empresários devem e têm de recorrer para aumentar a produtividade". Segundo o director geral do CIEBI, Portugal é um dos países que se situa muito aquém de Espanha a nível de produtividade. Daí que "um dos aspectos que os empresários da região neste sector deverão procurar incrementar é a parceria com os vizinhos espanhóis no sentido de colher alguns dividendos", explica.
A realização deste tipo de jornadas são no seu entender fundamentais pois visam "sensibilizar os empresários de que hoje a cooperação é uma forma de incrementar a sua competitividade".

Indústria não poluente

Apesar da evolução que se tem registado no sector das rochas, Célia Marques, responsável da ASSIMAGRA, acredita que há muita sensibilização a ser feita. Nomeadamente a nível da escolha dos locais para depósito de resíduos. Segundo esta engenheira não existem estratégias regionais de gestão dos resíduos. A solução para este problema passa, adverte, pela cooperação entre as empresas, os industriais e a administração central, local e regional. "Todas as entidades têm que estar envolvidas", afirma.
A temática ambiental é outra questão que precisa de uma rápida resolução. Há pouca consciencialização e receptividade em relação ao ambiente, afirmam os especialistas. Os empresários estão pouco motivados para esta questão porque vêem nela a implicação de custos elevados.
Esta é uma "indústria tendencialmente não poluente apesar de produzir grandes quantidades de resíduos, mas estes não são tóxicos. São considerados inertes", como explica ao Urbi et Orbi Célia Marques.
Também a qualidade do ar sofre alterações com as vibrações e os ruídos provenientes das pedreiras, mas, garante Célia Marques, são "componentes que podem ser controláveis".
Está prevista a implementação para breve de uma nova legislação que regulará o sector das rochas. Célia Marques dúvida que esta lei venha melhorar as condições no sector pois, no seu entender, "há primeiro que atender à realidade sectorial e só depois criar a legislação porque senão o sector não tem sustentabilidade".