João Carlos Lanzinha, docente do Departamento de Engenharia Civil da UBI, foi um dos convidados pela autarquia local para debater o presente e futuro da habitação no Dia Municipal da Habitação
Dia Municipal da Habitação junta especialistas
IGAPHE quer recuperar bairros históricos

A construção de novas habitações em Portugal cresceu exponencialmente nos últimos 25 anos. Enquanto isso, as habitações antigas e o património histórico degradam-se a olhos vistos. Melhorar e preservar os bairros antigos é o objectivo do Instituto de Gestão e Alienação do Património que vê na reabilitação a única forma de defender a identidade local.

Por Nélia Sousa

Sensibilizar para a necessidade de investir na reabilitação dos imóveis degradados com a finalidade de diminuir a desertificação dos centros urbanos foi um dos objectivos do Seminário - Habitação os Desafios do Futuro, organizado pela Câmara Municipal da Covilhã. Muitos especialistas se juntaram para a iniciativa da Câmara da Covilhã: o Dia Municipal da Habitação. Construtores, imobiliários, técnicos de arquitectura e engenharia e autarcas de diversas câmaras reuniram-se na passada sexta-feira, 8 de Junho, no Hotel Turismo da Covilhã para falar na importância da habitação no contexto das políticas municipais.
Portugal investe, actualmente, mais nas construções novas do que na reabilitação de edifícios. João Carlos Lanzinha, professor na UBI, acredita mesmo que a habitação nova é um obstáculo à reabilitação. "Temos um património rico que também deveria ser inspeccionado", argumenta este docente de Engenharia Civil.
A reabilitação é, para o sector da construção civil, uma alternativa à redução da construção nova.
Filipe Lopes, arquitecto do Instituto Nacional da Habitação (INH), defende que a reabilitação permite evitar os defeitos das construções novas e melhorar as falhas das casas antigas. Na sua opinião reabilitar "é fazer habitação social no centro da cidade por menos de metade do custo". Ao mesmo tempo preservam-se todas as memórias e vivências acumuladas no local. "Está em jogo a nossa identidade e ela está nos nossos bairros, naquilo que os nossos antepassados deixaram e que nós temos de preservar", afirma Filipe Lopes.
Esta acção conjunta do Governo e das Câmaras Municipais com senhorios, inquilinos e proprietários, pretende recuperar e reabilitar os centros históricos e evitar que estes continuem a desertificar-se.

IGAPHE e INH defendem
actualização dos valores das rendas antigas

Perto de 700 mil fogos precisam de ser reabilitados no nosso País. Requalificar as cidades e garantir a qualidade de vida dos cidadãos é a proposta do Instituto de Gestão e Alienação do Património (IGAPHE). Com esse intuito foi criado recentemente o Pacto para a Modernização do Parque Habitacional com o objectivo de reabilitar os centros urbanos e promover a valorização efectiva do património habitacional e a melhoria das condições de habitação das famílias. Este pacto resulta da conjugação de diferentes programas- RECRIA, REHABITA, RECRIPH e SOLARH- que se destinam a dar apoio à recuperação da habitação.
De acordo com Carlos Botelho, presidente do IGAPHE, o que se pretende é que haja um investimento no arrendamento e não só na aquisição de casa própria. No seu entender o arrendamento permite uma maior mobilidade profissional e pessoal.
A redução dos arrendamentos após 1973 fez com que os proprietários deixassem de ter dinheiro suficiente para poder fazer obras e deixaram decair o património existente.
Os programas criados pelo IGAPHE pretendem que as rendas antigas sejam actualizadas de forma a estarem de acordo com as obras que são feitas nesses fogos. As despesas feitas nos imóveis degradados serão cobertas pelo empréstimo concedido pelo INH e pela comparticipação a fundo perdido assegurada pelo IGAPHE e pelos municípios. O reembolso dos empréstimos será posteriormente pago através do aumento da renda. Os inquilinos carenciados que não possam suportar o aumento da renda decorrente da realização das obras terão um subsídio atribuído pelo Estado.
Para Filipe Lopes o importante é que a habitação arrendada seja recuperada e posta em condições decentes de habitabilidade, sem grandes encargos para o senhorio. Uma estratégia que, segundo os peritos, permite ter habitação com rendas modestas dentro do centro da cidade e evita a periferização e a necessidade de novas urbanizações. De acordo com uma peritagem feita pelo Conselho da Europa, em Lisboa, a reabilitação em Portugal foi considerada exemplar. Houve uma preocupação em manter a população nos centros históricos, o que não aconteceu em muitas cidades europeias onde a reabilitação obrigou a retirada de muitas pessoas dos bairros a recuperar.