"Alma Mater" de Rodrigo Leão

O Regresso da Felicidade por Nuno Miguel Guedes


"Alma Mater" é um disco feliz.
Não apenas no sentido de repertório, composição ou interpretação. Não, "Alma Mater" de Rodrigo Leão é um disco a transbordar de um conceito tão desusado como desejado e que se chama <felicidade>. Do princípio ao fim, de "Alma Mater" a "Espelhos", esta música parece abençoada por um estranho estado de graça que se revela e ilumina mesmo nos temas formalmente mais sombrios, como "Vita Brevis" ou "A Tragédia".
E agora vem o melhor: não foi de propósito. Sem o saber, Leão e os seus cúmplices construiram uma imensa elegia, um monumento a estar feliz, quer no júbilo de um presença ("Alma Mater", "Sossego"), quer na narração de um desejo ("O Encontro" e "Pasión", que conta com uma grande interpretação de Lula Pena), quer até (e por exemplo) na contemplação de uma saudade ("A Tragédia"). Claro que esta é uma leitura entre mil; a música está lá para vos libertar.
Volto no entanto ao mais importante: a felicidade. Só podia ser assim: se o processo de criação de Rodrigo Leão é naturalmente solitário, o trabalho de construção da sua obra é feita de partilhas e cumplicidades. ""Alma Mater", mais do que os discos anteriores, é o reflexo desses reencontros felizes, quer como uma forma musical(a canção), quer com músicos e amigos de infância (Pedro Oliveira), ou até com instrumentos que os mais puristas admiradores da obra do músico vão achar inesperados (as guitarras eléctricas).
Este é um disco que percorre muitos caminhos num só (do tango à bossa nova estilizada que é "A Casa", com a voz de Adriana Calcanhoto a dar-lhe o brilho sereno e frágil que a torna perfeita), até porque estar feliz (ser feliz) raramente tem fronteiras.
"Alma Mater", o terceiro disco de Rodrigo Leão, é composto por 12 temas. Ouça-se cada um como um raio de luz.