Em plena zona de montanha, a Vila do Carvalho tem a sua expansão limitada
Vila do Carvalho revoltada
Assembleia de Freguesia exige
condições para fixar população

Os habitantes estão a diminuir e a vila não tem por onde se expandir. São as principais críticas de habitantes e responsáveis políticos. Consideram o PDM limitativo e vão enviar proposta de revisão para a autarquia, Governo Civil e Ministérios do Ambiente e do Ordenamento do Território.

Por Rita Lopes
NC/Urbi et Orbi


Solicitar à Câmara Municipal da Covilhã a revisão do Plano Director Municipal (PDM) e a elaboração de um Plano de Pormenor foram as conclusões a que chegou a Assembleia de Freguesia da Vila do Carvalho realizada no sábado, 16.
Perante um cenário que, segundo os responsáveis da terra, "é cada vez mais triste", a solução encontrada para o modificar foi a aprovação unânime de uma resolução a ser entregue à autarquia, ao Governo Civil do distrito e aos ministérios do Ambiente e do Ordenamento do Território. "Estamos numa encruzilhada e não podemos cruzar os braços", diz João José Mariano, presidente da Assembleia, para quem o Plano de Pormenor pode ajudar a diminuir as carências da vila.
A comprovar as preocupações dos carvalhenses estão os resultados provisórios dos Censos 2001, segundo os quais "a freguesia envelhece e é a que mais habitantes perdeu, em 10 anos, no concelho". Cerca de 100 residentes por ano. Uma realidade a juntar aos cortes na área geográfica, que, segundo Mariano, se devem "ao PDM limitativo e bloqueador que não prevê zonas de crescimento e expansão urbana e à falta de outro instrumento de planeamento". Da mesma opinião comunga Manuel Esteves, presidente da Junta de Freguesia, que atira a pedra ao Ministério do Ambiente. "O problema grave está na lei do ambiente que penaliza bastante o avanço do PDM nesta região", afirma. Esteves refere-se à proximidade do Parque Natural da Serra da Estrela (PNSE) e das Reserva Agrícola (RAN) e Reserva Ecológica (REN) nacionais, que impedem o alargamento urbano da freguesia. "Estamos num beco sem saída. Há uma série de obstáculos que impedem a expansão habitacional, única forma de manter as pessoas na terra", reclama o presidente.

Jovens procuram outras localidades

"O PDM condena-nos", gritam os habitantes que acorreram em força à reunião. "Sem podermos construir, o que ficamos aqui a fazer?", continuam. Os números comprovam a desertificação que se começa a verificar na vila. De 1995 até hoje, realizaram-se 93 casamentos, mas apenas se fixaram 10 por cento dos casais. No mesmo período realizaram-se 170 baptizados, mas só ficaram 20 crianças na vila. Uma situação que, segundo João José Mineiro, "põe em risco a plena utilização das infra-estruturas que já há muito deviam estar em funcionamento: mercado, gimnodesportivo, entre outros". E continua: "A não serem tomadas medidas, as ligações ao Teixoso, Canhoso e Covilhã servirão, apenas, para continuar a levar mais depressa as pessoas para fora da freguesia".
Alçada Rosa, vice-presidente da autarquia, tem uma versão diferente. Louva a atitude dos responsáveis pela vila em "terem feito as pessoas pensarem", mas refere que "podemos ter toda a vontade do mundo em alterar o estado das coisas, mas a Vila do Carvalho está na montanha e não pode exigir as mesmas condições que teria numa planície".
Quanto à revisão do PDM, o político dá o braço a torcer e diz que "a própria autarquia quer revê-lo, mas é preciso esperar pelo tempo certo". "É uma lei nacional que tem que ser respeitada", acrescenta.
Contudo, nem tudo são trevas e Alçada Rosa enumera alguns projectos que estão na manga para a vila. "A construção de habitação social e a recuperação de casas antigas estão a ser estudados com a Junta local. Uma forma de contribuir para a fixação de jovens", afirma. E acrescenta: "São anos e anos de inércia, numa terra em que as juntas nunca se preocuparam com nada. Agora, é preciso dar tempo ao tempo e fazer com que seja agradável morar lá".