Até ao final do próximo ano, Amândio Melo espera ter o edifício recuperado para receber o Museu Judaico
Primeiro do País
Belmonte cria Museu Judaico

Todos os pormenores da cultura judaica vão estar representados na estrutura, que já tem o projecto de arquitectura elaborado. A intenção da autarquia é criar uma rede de museus temáticos para atrair turistas ao concelho.

Por Rodolfo Pinto Silva
NC/ Urbi et Orbi


A história e a cultura do judaísmo em Portugal vai em ter, em Belmonte, um lugar privilegiado. O local escolhido é o edifício do primeiro colégio da vila, em pleno centro histórico. Não há ainda datas definidas, mas a autarquia quer ter tudo pronto em 2003 e já tem definida a estrutura dos três pisos dirigidos para o Museu Judaico. A apresentação do projecto de arquitectura decorreu na quarta-feira, 20, e contou com a presença do secretário de Estado do Turismo, Vítor Neto.
Representa um investimento de 18 mil contos e é o primeiro museu temático dedicado ao judaísmo no País. As múltiplas facetas da vida do povo judeu desde tradições, costumes, vestuário e práticas cerimoniais, entre outras, vão estar representadas numa área de 400 mil metros quadrados. O investimento é de 180 mil contos pagos pela autarquia e co-financiados pela Área de Intervenção de Base Territorial da Serra da Estrela.
O concelho de Belmonte é um dos que ainda mantém uma forte presença judaica. Este facto é uma das razões que motiva a criação do espaço, mas não é a única. Segundo Amândio Melo, presidente da Câmara, "o Museu terá uma dimensão alargada a todo o País e é aquilo que já devia ter sido feito há mais tempo, até para corrigir algumas injustiças do passado".

Espólio pode vir de Israel

Para o recheio da instituição, uma boa notícia chegou do professor Duarte Rodrigues, um dos convidados da cerimónia. Judeu e detentor de um vasto espólio relacionado com esta cultura, anuncia a cedência, a título de depósito, de algumas peças. É com esta boa vontade que Amândio Melo conta para conseguir uma exposição permanente rica: "Esta disponibilidade é muito importante para reduzir os custos de instalação. De qualquer forma, vamos fazer um levantamento daquilo que achamos importante e tentar negociar com os proprietários". Fernando Henriques, presidente da Comunidade Judaica do concelho, confirma que a boa vontade "já chegou de Israel onde há pessoas que já se disponibilizaram para ceder património".
Depois de concluída, a infra-estrutura é integrada na Rota das Judiarias, um roteiro promovido pela Região de Turismo da Serra da Estrela. Jorge Patrão, presidente do organismo, foi outro dos presentes que enaltecer a ideia da autarquia. "É mais um passo para a credibilização da Serra da Estrela em termos turísticos e torna Belmonte a sede de dois percursos roteiros e culturais de grande importância". Para o responsável, e à semelhança do defendido por Vítor Neto, a região deve investir na cultura se pretende atrair visitantes. "Cada vez menos se viaja apenas para ir à praia. Os turistas de hoje procuram conhecer o passado ou as paisagens das várias terras. A cultura é um produto que cresce 25 a 30 por cento por ano e é nossa intenção estar na frente desta procura dos nossos produtos culturais e da nossa história", sublinha.

Desenvolver a região passa pelo turismo

Para o governante, a cultura é uma das matérias primas por excelência, onde deve basear-se o turismo. E Belmonte tem a vantagem de possuir um património rico pronto a ser explorado: "Este filão judaico é muito aliciante para atrair turistas de vários pontos do globo, uma vez que os interessados pela matéria têm um bom nível de vida". Neto dá o exemplo de um programa desenvolvido nos Estados Unidos, que visa promover Portugal, cujos efeitos já se fazem sentir. "Há agora mais operadores turísticos a trabalhar o mercado do nosso País", sublinha.
Crítico de alguns responsáveis que, "por vezes, se iludem na perspectiva de desenvolvimento económico irrealista sem aplicação prática no Interior", defende a aposta nas mais-valias que existem em cada local. Na região, o turismo está na linha da frente dessas possibilidades: "Valores como os costumes, a gastronomia ou a paisagem, despertam o interesse de todos e devem ser aproveitados para gerar riqueza, aqui na Beira Interior". Foi esta ideia que o secretário de Estado tentou transmitir na sua passagem de dois dias pela zona beirã. Vítor Neto apadrinhou a criação de dois núcleos escolares da Serra da Estrela da Escola de Hotelaria e Turismo de Coimbra, um em cada distrito da Guarda e Castelo Branco e visitou as pistas sintéticas de ski, em Manteigas, bem como várias unidades hoteleiras da região. "Uma forma", conclui, "de mostrar que o turismo deve ser o caminho a seguir para trazer investimento para cá".