Giant Sand chore of enchantment

Trill Jockey, 2000
Por Sérgio Felizardo

A América profunda surge em todo o seu esplendor quando se coloca "Chore of Enchantment" a tocar. Aquela América dos westerns, árida, mas esperançosa, negra, mas com constantes raios de intensa luminosidade.
A magia das guitarras tem destas coisas. Tanto se lhe podem sacar momentos dramá-
ticos, como corropios vertiginosos de alegria, ou, simplesmente, pedaços brilhantes de melodias eternas. Os Giant Sand são mestres na arte de burilar canções. Sejam elas baseadas nas guitarras, na sonoridade quente de um Mellotron, ou na textura épica de um Hammond infernal. Com uma carreira de 20 anos, o projecto de Howe Gelb, acompanhado por Joey Burns e John Convertino, dos Calexico, é um poço de referências e de atitudes. Um imenso pote onde cabem excertos de ópera ("O elixir do Amor", de Donizetti, obra preferida de Rainer Ptacek, co-fundador dos Giant Sand, falecido em 1997 com um tumor cerebral), baladas country, momentos folk e músicas que se aguentam no limiar da fragilidade, seguras por pequenos pedacinhos de electrónica, samples e um tremendo bom gosto. É a realidade de uma América que se perde de vista lá para os lados do Arizona, a caminho de paragens mais latinas.