José Geraldes

Bombeiros da Covilhã e "critérios técnicos"

Um corpo de bombeiros numa cidade faz parte dos serviços de protecção civil que os seus habitantes não podem dispensar. Mas a missão dos bombeiros vai muito para além do apagamento de fogos em casas ou nas florestas.
Os bombeiros desencravam fechaduras de portas trancadas por desmazelo ou acidente. Transportam doentes ao hospital e prestam os primeiros socorros em feridos de desastre de automóveis ou a qualquer cidadão sinistrado na via pública.
Quase todos estes serviços são gratuitos. E revelam uma prática da solidariedade quotidiana, a qualquer hora e a qualquer pessoa.
O cidadão sente-se tranquilo com o facto da existência do corpo de bombeiros embora, muitas vezes, não lhe tribute a merecida justiça. Se, na actuação dos bombeiros houver algo que não corra bem, a crítica surge como uma seta. E não se averiguam primeiro as razões de tal deslize. Os bombeiros podem errar como qualquer mortal.
As populações devem sentir orgulho nos seus bombeiros. Trata-se de homens e mulheres que dão do seu tempo roubado à família e ao justo repouso e lazer uma contribuição notável para protecção de todos nós.
"Vida por Vida" é o seu lema, ou seja a solidariedade praticada no quotidiano que, não raras vezes, culmina no sacrifício da morte.
As palavras são poucas para exaltar a acção dos bombeiros da Covilhã. Por isso, a lembrança nas comemorações dos Bombeiros da Covilhã, para que lhes seja dedicado um monumento é mais do que justo. O monumento representa um exemplo de um ideal ao serviço dos outros nestes tempos em que os valores e os ideais estão a desaparecer da sociedade.
Um corpo de bombeiros para levar a cabo as tarefas a que se propõe, precisa de elementos imprescindíveis. Também nos discursos comemorativos foram referidas promessas não cumpridas. E não só. Os instrumentos que os bombeiros reclamam já foram concedidos a outras corporações de cidades vizinhas, em gesto de manifesta e escandalos discriminação. Não se trata aqui de questões de bairrismo. Mas de escolhas e preferências que deixam muito a desejar e que só ficam mal ao poder político.
Aqui põe-se em causa o critério usado para a distribuição dos dinheiros públicos. Quem paga mais impostos que o concelho da Covilhã? O dinheiro dos contribuintes não é para ser dado a seu bel-prazer conforme as cores partidárias.
Apesar de vivermos em democracia só há 28 anos, há pecados que deviam ser evitados. Quando se trata das áreas da saúde, da segurança e da protecção dos cidadãos, pelo menos não são critérios políticos que presidem às respostas das populações, mas as necessidades dessas populações.
Outro argumento deve ser citado para que não haja quaisquer dúvidas. A corporação da Covilhã - lembra o comandante do Corpo Activo - "é a sexta do País a nível do voluntariado e a 16.ª no ranking dos bombeiros do País, voluntários e sapadores". E os governantes estão ao serviço das populações e organismos que precisam e não de meros interesses de ocasião ou promoção pessoal. Sejam eles de que partido político forem.
Os chamados " critérios técnicos" invocados pelo secretário de Estado não convencem. Até porque, se não forem usados em tempo de "vacas gordas", será difícil aplicá-los nos tempos de apertar o cinto que se perfilam no horizonte.
A Câmara teve a ideia de avançar com a formação de um Corpo Permanente de 12 homens prontos a intervir em qualquer emergência. Mas será injusto que o Estado como pessoa de bem que deve ser, não dê a sua quota parte financeira.
Caso o não faça, os Bombeiros da Covilhã sofrem, de novo, outra discriminação. E tal atitude será intolerável.