Madame Bovary
Gustave Flaubert

 

Por Ana Maria Fonseca

 

O romance realista e polémico, considerado a obra prima de Flaubert, é dedicado ao adultério. Reflecte uma sociedade provínciana e moralista que não se coaduna com a personalidade romântica que Emma Bovary, a protagonista, inventou para si própria. O retrato de uma mulher insatisfeita com a vida provinciana e a falta de paixão, cuja obsessão fantasiosa leva ao absurdo. Incapacidade intelectual e insensibilidade moral caracterizam esta personagem, que tenta escapar à realidade através da leitura de romances de amor.

As fantasias preenchem o quotidiano de Emma Bovary que vive na ilusão de uma grande paixão, como as que lê nos romances.

Charles, o marido, é um médico de província, sem vocação e apático perante a vida. Frustrado mas sem consciência das traições da mulher, nada lhe nega. Emma, aproveitando uma liberdade fictícia, vai-se entregando ao adultério. Na sua imaginação cria paixões desenfreadas que nem ela sente. Insatisfeita com a sua condição social medíocre, tenta ascender mostrando sinais exteriores de riqueza e endividando-se crescentemente.
Uma obra que pelo pendor realista que a caracteriza se torna por vezes enfadonha. Entre os acontecimentos importantes arrasta-se um vagar quotidiano um tanto cansativo e contrastante com a exacerbada componente sexual e emotiva que Emma empresta ao romance. As suas experiências extra conjugais são narradas ironicamente, e não se encontra um personagem em toda a obra que não seja alvo de sátira.
No ano em que o livro Madame Bovary foi publicado, houve em França um grande interesse pela obra, que chegou a levar o seu escritor a julgamento. O romance foi considerado imoral pelo governo francês, que decidiu mover um processo contra Flaubert. O autor acabou por ser absolvido pela lei, mas não pelos críticos puritanos da época, que não perdoaram o escritor pelo tratamento cru que dera ao tema do adultério no romance. Flaubert era, segundo alguns críticos, contra tudo aquilo que ele mesmo representava, pois sendo filho de um provinciano rico e vivendo de rendas durante a idade adulta, a sua obra seria fruto da tensão que tinha com a sua condição de burguês.