Cenário macabro
Peixes agonizam no Zêzere

Por Sérgio Felizardo
NC/Urbi et Orbi

 

Por entre um cheiro nauseabundo e uma água enegrecida, as margens do Rio Zêzere, junto à Ponte Pedrinha, mostravam, na quinta-feira, 6, um cenário de morte. A meio da tarde, muitas centenas de bogas e barbos boiavam inertes à superfície, ou lutavam ainda contra o inevitável.
Segundo alguns habitantes das proximidades do Rio, ouvidos no local pelo NC, os primeiros sinais da mortandade surgiram ao fim da manhã. Nessa altura, asseguram os populares, "os peixes começaram a vir à tona ainda vivos, mas ao longo da tarde acabaram por agonizar e morrer". A revolta de quem todos os dias ali passa e daqueles que vivem nas redondezas era grande e a explicação só uma: "A culpa é das descargas das fábricas". Uma explicação que, no entanto, é contrariada pela tese avançada pela Direcção Regional do Ambiente do Centro (DRAC). Segundo fonte deste organismo citada pela agência Lusa, "Na origem da morte dos peixes poderá ter estado a pesca com recurso a sulfato lançado na corrente do Zêzere". Isto apesar da água apresentar á vista desramada uma cor negra e de, junto à Ponte, em cada margem, serem bem visíveis duas descargas, uma de cor vermelha, outra branca.
Ainda segundo a Lusa, a hipótese admitida pela DRAC, que fez deslocar técnicos ao local, acompanhados por elementos da Guarda Nacional Republicana (GNR) da Covilhã, é baseada numa prospecção efectuada ao longo do Rio e dos efluentes localizados nas imediações, mas coloca aos ecologistas da Quercus - Cova da Beira algumas dúvidas. Contactada pelo NC, a presidente do núcleo covilhanense, Telma Madaleno, admite ter conhecimento deste tipo de pesca ilegal, feita por indivíduos que percorrem o leito com uma rede esticada entre margens, ao mesmo tempo que espalham o sulfato, de forma a capturarem os barbos e as bogas para vender a clientes da região. Não acredita, todavia, que essa seja a causa principal do que ocorreu na quinta-feira e que, aliás, é semelhante ao que já tinha ocorrido em Julho último. No entender de Telma Madaleno, "o Zêzere está em estado lastimável, devido às descargas da indústria têxtil que há anos fustigam o seu leito, bem como por culpa da supostamente provisória ETAR do Tortosendo e das ribeiras da Covilhã". Quanto à tese do sulfato, a presidente da Quercus - Cova da Beira, prefere esperar pelas análises que a DRAC deverá estar a realizar à água, mas lamenta que "nestes casos se analise apenas o liquido e não os peixes". A Câmara Municipal manifestou, também, alguma preocupação e, adianta Carlos Pinto, "já contactou o director regional do Ambiente e espera agora que todas as diligências sejam feitas, no sentido de se apurarem responsabilidades".
O NC tentou obter alguns esclarecimentos relativos a este caso por parte da Direcção Regional do Ambiente do Centro que, no entanto, recusou qualquer comentário e remeteu para a direcção geral do organismo, sediada em Coimbra. Local onde, supostamente são feitas as análises à água, mas de quem o NC não conseguiu obter qualquer palavra até ao fecho desta edição, pois, e apesar de inúmeros telefonemas, o telefone nunca foi atendido.