Por Sérgio Felizardo
NC/Urbi et Orbi


Para além do cheiro nauseabundo, o lixo atrai ratos e insectos e é um perigo para a saúde pública

Os habitantes chamam-lhe "o cabo do mundo" e não é por acaso. À chegada a São Jorge da Beira, bem como à localidade vizinha das Minas da Panasqueira, a sensação que assola o visitante é uma: abandono.
De entre os principais problemas levantados pela população, alguns assumem contornos preocupantes. Um exemplo é o estado da estrada entre a Barroca Grande e São Jorge. Uma via que, de tão degradada, praticamente não existe, apesar de, segundo o presidente da Câmara, Carlos Pinto, os respectivos arranjos estarem adjudicados. A questão arrasta-se há alguns anos, tal como o autêntico atentado à saúde pública "plantado" mesmo à entrada da aldeia. Numa zona em que a paisagem assume contornos infernais, depois dos recentes incêndios que devastaram a região, existe uma lixeira de dimensões consideráveis, a céu aberto e a cerca de 150 metros da Escola Primária das Minas.
Um perigo dizem os populares que, embora preferindo o anonimato, revelam: "Se no Verão é o cheiro nauseabundo, as moscas e toda uma série de bicharada que incomodam e assustam, no Inverno é o lixo queimado a libertar um fumo intenso que se espalha por todo o lado e perturba drasticamente as crianças da Escola Primária".

Vereador assegura contentores esta semana

Segundo conseguimos apurar, os detritos, provenientes das duas localidades vizinhas, são despejados à entrada de São Jorge da Beira desde há pelo menos 15 anos, embora se tenham vindo, progressivamente, a afastar da população. O representante da CDU na Assembleia de Freguesia, Amadeu Rocha, afirma até que já desistiu de levantar o problema nas reuniões, pois, sublinha, "está farto de falar e de ver tudo na mesma".
Com um novo ano lectivo a arrancar os protestos sobem de tom e os habitantes prometem não se calar até que a situação esteja resolvida. As preocupações centram-se, essencialmente, na saúde pública, pois, lembra Amadeu Rocha, "já há aqui outros atentados, como a falta de saneamento, os esgotos a céu aberto e os cortes de água sucessivos durante os meses de Verão, pelo que São Jorge e as Minas necessitam de tudo menos de lixeiras à beira da estrada". Preocupado está, também, o presidente da Junta de Freguesia de São Jorge da Beira. Em declarações, o socialista José Alves Pacheco dá razão às queixas e assegura que, por sua vontade, o problema já estaria solucionado. No entanto, avança, "há algum tempo que existe a promessa por parte dos Serviços de Recolha de Resíduos Sólidos Urbanos da Câmara da Covilhã para a colocação de 10 contentores perto da zona onde está a lixeira". Só que, antes, continua o autarca, os Serviços exigem a intervenção de uma máquina retroescavadora que limpe o local de todos os detritos. Máquina que, afirma José Pacheco, "dificilmente poderá actuar antes do alcatroamento da estrada, que estava previsto para Setembro, mas até agora ainda não avançou".
Ouvimos ainda, o vereador da Câmara covilhanense responsável pelo pelouro do Ambiente, Joaquim Matias, que garante ter já enviado elementos dos Serviços ao local, de forma a tentar resolver o problema. No entender do vereador, "a responsabilidade pela situação de degradação ambiental é inteiramente da Junta". "Em reunião do Conselho de Administração dos Serviços Municipalizados, que tutelam a Recolha dos Resíduos, realizada no dia 3 deste mês, decidiu-se notificar o presidente da Junta para resolver a questão da lixeira. Quando o problema estivesse solucionado seriam colocados os contentores nas Minas, de forma a que o lixo recolhido aí fosse depositado. Mas nada foi feito até agora", explica Matias. De qualquer maneira, revela o responsável municipal pelo Ambiente, os contentores são instalados até ao final desta semana, "pois a situação é insustentável e representa um contrasenso para a política camarária a este nível". "Já selámos mais de 70 lixeiras em todo o concelho, não podemos, por isso, tolerar que este trabalho seja manchado por irresponsabilidades de outros", sublinha o vereador. Joaquim matias contesta ainda que a máquina de que fala José Pacheco não possa actuar, até porque, justifica, "terá sido algo semelhante a depositar o lixo". E remata: "Espero que a Junta tenha sensibilidade para desmantelar o que criou. Caso contrário, cá estaremos para actuar".






  Abastecimento de água polémico

Dotadas de canalizações que os habitantes consideram completamente degradadas e insuficientes para garantir água de qualidade as aldeias de São Jorge da Beira e Minas da Panasqueira vivem, em cada Verão, momentos difíceis.
A Câmara Municipal da Covilhã instalou uma adutora à entrada de São Jorge, de forma a minorar os problemas de abastecimento, mas para os consumidores a solução não é suficiente. Os populares queixam-se de sucessivos cortes e de elevadas contas nas facturas. Tudo, dizem, "porque a água parece perder-se pelo caminho, por entre canos que já não aguentam a sua passagem". O presidente da Junta de Freguesia, José Alves Pacheco, considera que o problema poderia estar resolvido "se não fossem as razões políticas que impedem os Serviços Municipalizados de atenderem às alternativas apresentadas". José Pacheco garante que "há hipóteses de captação de água que não estão a ser aproveitadas, mas ninguém quer saber".
O administrador dos SMAS, Alberto Alçada Rosa, confirma que poderão ter havido alguns cortes durante os últimos meses, mas, sublinha que "desde a entrada em funcionamento da adutora tudo está solucionado, até porque o sistema nem necessita de funcionar 24 horas por dia, o que, só por si, demonstra a eficácia". Alçada Rosa estranha, por isso, as declarações do presidente da Junta, até porque, revela: "Na terça-feira estive com ele no meu gabinete, telefonámos para a parte alta de São Jorge para verificar se havia problemas e nada nos foi comunicado". O responsável pelos Serviços diz ainda não compreender "como é que, antigamente, a captação que abastecia toda a aldeia era suficiente e, agora, as mesmas nascentes só são utilizadas para fornecer a parte alta, pois a baixa tem abastecimento autónomo, e já não servem". Quanto às elevadas facturas de que alguns populares se queixam, Alçada Rosa é claro: "É impossível que isso se deva a rupturas nas canalizações, porque o consumo que é facturado diz respeito aos contadores de cada casa. Se houver problemas estes estão, portanto, nas habitações". Para o administrador, uma coisa é certa, "com a água não se brinca e esse tipo de acusações e declarações só se pode justificar pela aproximação do acto eleitoral".