Por João Alves
NC/Urbi et Orbi


É essencialmente no comércio que a população pensa poder vir a ter mais dificuldades em lidar com a nova moeda

É, com toda a certeza, a mais importante mudança estrutural alguma vez efectuada a nível comunitário. A introdução física da moeda única, o Euro, é um marco na história que afectará todos os agentes económicos e provocará numerosas alterações ao nível das empresas, Administração Pública e cidadãos.
Esclarecer a população dos concelhos de todo País tem sido, sem sombra de dúvida, um dos desafios mais importantes que se tem colocado ao Governo no último ano. Têm sido várias as entidades que, ao longo do ano, têm organizado colóquios e conferências, promovido mostras de actividades económicas, todas com o mesmo objectivo: dar a conhecer o Euro. Na nossa região, tanto na Guarda com na Covilhã, as respectivas associações comerciais têm apostado nessa área. No passado fim-de-semana, em Vila do Carvalho, uma equipa técnica da autarquia covilhanense promoveu uma dessas sessões de esclarecimento. Amanhã, sábado 29, a mesma equipa estará na Boidobra, no dia 12 no Tortosendo e ao longo do mês de Outubro nas freguesias de Cantar-Galo, Orjais, Ferro e Teixoso.
O NC procurou, agora que faltam apenas três meses para a introdução física da nova moeda, " apalpar o pulso" a como é que esta mudança está a ser encarada pelas populações. E a verdade é que as respostas foram as mais diversas, com gente a revelar preocupação, outras apenas dúvidas e alguns, muitas certeza.
Maria do Céu, 79 anos, residente em Vila do Carvalho, é uma das portuguesas deste País que não está tranquila quanto à entrada da nova moeda. "Não estou não" exclama, revelando algum receio logo que se toca no assunto. "Olhe, não sei quando é que a gente estará perfeitamente esclarecida. Dizem que entra em Janeiro, mas não sei quanto é que vale. É 200 ou 300 escudos, não é?" pergunta a idosa. Maria do Céu adianta que tem algum medo quanto ao Euro e que as maiores dificuldades surgirão quando "já houver novas moedas. Acho que vai ser difícil lidar com isso. É difícil explicar. O melhor mesmo é ver como é que corre quando entrar em funcionamento". Porém, a idosa diz já dispôr de informação suficiente para não cair no 'conto do vigário' caso alguém se aproxime dela propondo troca de dinheiro. "Não, nessa não caio. Nunca ninguém aqui chegou a fazer isso, mas já vi, na televisão, que aconteceu a muita gente. Mas há muita publicidade e coisas na televisão que avisa a gente a não fazer isso" explica Maria do Céu, que volta a vincar o facto de ter ainda muitas dúvidas.
Já José Alberto, 57 anos, pensa que não vai haver grandes problemas. Sabe que o Euro "vale 200.482 escudos", mas diz que, no contacto com amigos e parentes mais idosos, que residem em aldeias bem mais pequenas, "ainda há muita gente que nem sabe disso. Outros já ouviram falar e têm medo que, por causa da conversão, lhes roubem o dinheiro dos bancos. Para eles vai ser uma grande confusão". Este popular salienta a importância que a televisão e as campanhas publicitárias têm tido no esclarecimento das populações. Quanto aos maiores problemas que possa ter, diz estarem relacionados com as compras a fazer diariamente. "Aqui, nos comércios, não sei se vai ser em Euros ou em escudos. Ainda não vi nenhum comércio que tenha os preços nos dois valores. Mas as pessoas vão ajudar-se umas às outras" garante José Alberto.
Quanto a Manuel dos Santos Inácio, 72 anos, residente na freguesia de Cantar Galo, diz estar familiarizado com o Euro porque "estive na França e Alemanha, onde lidei com francos e marcos. Também na altura em que emigrei tive que adaptar-me. Penso que não vai haver grandes diferenças". Prevê uma inicial falta de adaptação quando tiver de ir às compras. Quanto aos cheques e multibancos, "não vai haver problemas. Não os quero. Só compro com dinheiro vivo".

Esclarecimento "mais ou menos"

O vice-presidente da Associação Comercial e Industrial dos Concelhos da Covilhã, Belmonte e Penamacor (ACICBP), Miguel Bernardo, acredita que a população do concelho da Covilhã já está "mais ou menos esclarecida. Temos efectuado vários esforços para esclarecer as pessoas sobre o Euro e pense que o conhecimento das pessoas tem aumentado. Estamos convencidos que fizemos tudo o que estava ao nosso alcance para que a transição corresse bem". Porém, uma vez que o tempo começa a encurtar-se
a ACICBP vai continuar com outras acções de informação e divulgação do Euro. Desta vez, em colaboração com o Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e ao Investimento (IAPMEI) e Comissão Nacional Euro (CNE), a Associação tem marcadas mais três acções para este mês e o de Novembro. Sob o lema "Vendemos em Euro", o objectivo é o de sensibilizar os empresários e colaboradores de micro e pequenas empresas do comércio, serviços e turismo, para aspectos práticos da introdução da nova moeda, como as regras de conversão, arredondamentos, pagamentos e recebimentos em Euro, o período de dupla circulação e as questões que se prendem com a redenominação do capital social. Assim, durante toda esta semana até ao dia 31, serão os empresários covilhanenses que poderão procurar algumas informações junto da Associação. No dia 5 de Novembro, "Vendemos em Euro "estará em Penamacor e nos dois dias seguintes, 6 e 7, na vila de Belmonte.





  Dupla afixação de preços a partir de Segunda feira, dia 1 de Outubro
Novas máquinas trazem custos elevados aos comerciantes


A partir de segunda-feira, dia 1 de Outubro, e até final de Fevereiro de 2002, os comerciantes e empresas terão que fazer dupla afixação de preços (em Euros e escudos) nos seus produtos. Uma medida que, segundo o Jornal de Notícias levará a que as autoridades económicas tenham mais uma preocupação: fiscalizar a correcta afixação dos preços em euros, ou seja, ver se os arredondamentos estão a ser bem efectuados. A tarefa estará a cargo da Inspecção Geral das Actividades Económicas (IGAE), que mandará para o terreno equipas de fiscalização só com esta exclusiva missão. Aquele organismo tem estado há algum tempo a preparar as suas acções, tendo criado um grupo de trabalho para o Euro. O IGAE, no último mês, enviou um ofício para mais de 200 associações de comerciantes a informá-los sobre a legislação existente, os procedimentos a seguir e alertar para as consequentes acções de fiscalização que se seguem. Uma informação que já chegou à Associação Comercial e Industrial dos Concelhos da Covilhã, Belmonte e Penamacor (ACICBP).
O vice-presidente da ACICBP, Miguel Bernardo, espera que os comerciantes sócios da associação procedam à dupla afixação de preços. "Penso que tudo vai correr normalmente. Esta é uma medida generalizada que obriga as empresas a pensar em Euros. Já recebemos o aviso do IGAE. A fiscalização é sempre bem vinda" ironiza Miguel Bernardo. E adianta que "se vem para colaborar, são bem vindos. Senão, que não venham provocar mais problemas aos comerciantes. Alguém decidiu que iríamos a aderir ao Euro. Depois, entregaram ao comércio a responsabilidade de resolver o problema".
Miguel Bernardo está convicto que a ACICBP tudo fez para que a integração corra bem, mas relembra os elevados prejuízos que tal medida trouxe aos comerciantes. "Foi todo o equipamento que teve que ser alterado, trocado e remodelado. É as registadoras, as balanças, as máquinas de etiquetagem, enfim, material muito caro. Ainda por cima, como é natural, à medida que a procura aumenta, a oferta torna-se mais cara". A verdade é que, com ou sem prejuízos, os arredondamentos em Euros terão que ser bem efectuados a partir de segunda-feira. É que as fiscalizações serão feitas com carácter expontâneo e sem aviso prévio. Mas a regra a aplicar até é simples e visa arredondar a terceira casa decimal. Quando esta é inferior a cinco, arredonda-se por defeito (para baixo) e quando é superior, arredonda-se por excesso (para cima). Por exemplo, se um produto custa 710 escudo, o resultado da conversão é 3,541 euros, logo, 3,54. Se custar 850 escudos vale 4,239 euros, ou melhor, 4,24 euros.





  Calendário para introdução física do Euro


Desde 1 de Setembro deste ano que as moedas em Euros estão pré-posicionadas junto das instituições de crédito e das Tesourarias das Finanças. As notas, só a partir de 1 de Outubro chegarão aos mesmos locais e a partir de 1 de Dezembro, os retalhistas poderão solicitar junto das instituições de crédito notas e moedas Euros para os seus fundos de caixa, embora só possam ser utilizadas a partir de Janeiro de 2002. Os particulares poderão, junto dos bancos, adquirir moedas até ao valor de 10 Euros, embora só as possam utilizar em Janeiro de 2002. Os bancos, a partir de 31 de Dezembro, deverão deixar de fornecer moedas e notas em escudo.
A partir de 1 de Janeiro de 2002, os retalhistas deverão, sempre que possível, efectuar trocos em Euros. O período de dupla circulação termina no dia 28 de Fevereiro do mesmo ano, deixando, no dia 1 de Março seguinte, de ter curso legal e poder liberatório todas as notas e moedas em escudos. Para quem fica com notas e moedas em escudo em casa, há várias hipótese de trocá-las por Euros. Assim, até 30 de Junho de 2002, essa troca poderá ser feita junto dos bancos e Tesourarias das Finanças. Até 31 de Dezembro de 2002, a troca de moedas (apenas estas) por moedas Euro poderá ser efectuada na sede, filial, delegações regionais ou agências do Banco de Portugal. Para além dos prazos previstos, o pagamento em Euros de notas em escudo retiradas da circulação efectuar-se-à, nos termos da lei, num prazo de 20 anos, na sede, filial, delegações regionais ou agências do Banco de Portugal.