António Fidalgo

Outubro de 2001



É claro que estamos em Outubro de 2001. Basta olhar para o cabeçalho do jornal para comprovarmos o que já sabemos, decorre o mês de Outubro de 2001. Feita a constatação do que é óbvio, perguntamos: e depois?! Que adianta afirmar o que toda a gente sabe, que vivemos em Outubro de 2001?!
Porventura não adianta nada repetir a data actual, assim como não adiantará dizer que estamos vivos, de que ainda não morremos. No entanto, viver não é o mesmo que ter a plena consciência de viver, nem o viver em Outubro de 2001 significa que haja a consciência nítida do mês e ano em que vivemos. A distância entre o simples viver e a consciência de estar vivo surge sobretudo em ocasiões em que a morte passou rente, seja num acidente ou numa doença grave. Em tais circunstâncias limites toma-se consciência da vida e do tempo, da fronteira ténue que separa a vida e a morte. É após ter visto a negrura da morte passar ao lado que a vida surge a uma nova luz.
Outubro de 2001 diz-nos que Setembro passou, um Setembro de um dia onze que nunca sairá da memória de quem viu em directo pelas televisões os aviões explodir nas torres de Nova Iorque, que Setembro passou como havia passado Agosto e todos os meses anteriores, que 2000 passou, como passou 1984, como passou 1945, 1918, ou todas as datas que ficam para a história pelos eventos ou significados que encerram. Passam os meses, passam os anos, e passa a vida, e é isso que também significa o repetir consciente do mês actual, Outubro de 2001, que dentro de semanas terá passado, do ano que dentro de dois meses e pouco será ano velho, da vida que agora se afirma, e, não se sabe quando, mas seguramente, terminará.
Estamos em Outubro de 2001, num mês que tão pouco podemos segurar como qualquer outro, mas que, aqui e agora, se distingue por ser o mês que é nosso, onde agimos e somos senhores das nossas acções. Setembro já lá vai, e nada nele podemos alterar, Novembro ainda não chegou, nem sabemos se lá chegaremos, e apenas temos este Outubro de 2001, o mês de um tempo que de instante vai sendo nosso, e de instante a instante vai deixando de ser nosso, mas de instantes em que jogamos a aventura e a liberdade de sermos como somos e de não sermos outros. Outubro de 2001 o mês que é nosso, o único. Por enquanto.