Difíceis acessos, excesso de manta morta e a falta de planeamento da floresta dificulta o trabalho dos bombeiros
Rescaldo dos incêndios 2001
Bombeiros pedem mais protecção à floresta

Queimadas e fogo posto são as principais causas da maioria dos incêndios florestais. Bombeiros defendem penas pesadas para incendiários e acusam o Governo da "falta de política de protecção à floresta"


Por Marisa Miranda
NC/Urbi et Orbi


Todos os anos os fogos florestais consomem importantes parcelas da floresta que existe em Portugal. A área consumida este ano foi de 87 mil 406 hectares, pouco mais de metade da ardida em 2000, 153 mil 805 hectares (ver última edição do NC). Uma diminuição a que as condições atmosféricas não são alheias. O distrito de Castelo Branco, sobretudo o concelho da Covilhã, por estar rodeado por uma importante mancha verde, não escapa às chamas. O NC foi à procura das causas e razões junto dos principais intervenientes no combate aos incêndios: as corporações de bombeiros.
Segundo o comandante dos Bombeiros Voluntários da Covilhã (BVC), José Flávio, "a falta de planeamento florestal, os difíceis acessos e o excesso de manta morta nos terrenos" são factores determinantes na rápida propagação dos incêndios. "Se tivermos uma floresta devidamente organizada com acessos, em que haja faixas de contenção de fogo, pontos de água a que as viaturas possam chegar para se abastecer e os caminhos reparados, torna-se mais fácil controlar qualquer foco de incêndio", explica Flávio. O corte dos caminhos com pedras por parte dos proprietários é outra realidade com a qual os bombeiros têm de lidar. "Há falta de vigilância e fiscalização por parte das entidades competentes", assegura, por sua vez, Virgílio Borges, no comando dos Bombeiros Voluntários de Seia há quatro meses. Mas os obstáculos ao trabalho dos bombeiros não ficam por aqui. O desconhecimento dos donos das parcelas que são atingidas pelas chamas é outro dos problemas. "Temos de saber a floresta que temos e a quem pertence", sublinha Flávio. A solução para o comandante dos BVC parece ser fácil: "Quem trata da floresta particular tem direito a ela, quem não trata tem de a passar para o Estado, mas depois este não a pode abandonar".
Depois de terminada a época oficial dos incêndios que decorreu entre Julho e Setembro, José Flávio defende que se deve arregaçar as mangas e começar já a preparar a próxima. "Os fogos de Verão devem ser apagados no Inverno", sugere.

Penas mais pesadas para incendiários

Os inúmeros focos de incêndio que deflagram durante o Verão denunciam, essencialmente, queimadas que fogem ao controlo de quem as coloca e fogo posto, duas das origens dos sinistros.
Carlos Zorrinho, secretário de Estado Adjunto do ministro da Administração Interna propõe uma reflexão sobre a moldura penal em vigor para quem seja acusado de provocar incêndios. Rui Esteves, presidente da Federação de Bombeiros do Distrito de Castelo Branco, por seu turno, defende o agravamento das penas para os incendiários. Já José Flávio afirma ser necessário acabar com falsas desculpas e punir os incendiários com uma "lei dura". "Cada vez que é apanhado algum incendiário logo a seguir aparece uma equipa médica a dizer que o indivíduo sofre de perturbações mentais". O comandante dos BVC vai mais longe e adianta: "Os fogos florestais são, também, um tipo de terrorismo que tem de ser combatido".
Mas nem sempre é fácil recrutar bombeiros voluntários, na opinião do adjunto de comando dos Bombeiros Voluntários de Idanha-a-Nova, João Costa. "O voluntariado precisa de ser incentivado com novas regalias", explica Flávio. Já para Virgílio Borges, dos Bombeiros Voluntários de Seia, o "voluntariado continua vivo e de boa saúde". A grande dificuldade para esta corporação é ter um piquete de efectivos durante o dia para assegurar a primeira intervenção aos sinistros. Também os meios de combate nunca são os suficientes, Flávio destaca a necessidade da pista da Covilhã que, na sua opinião, apresenta "condições estratégicas extraordinárias", desde que seja dotada de um helicóptero pesado com capacidade de três mil e 500 litros e um avião de combate a incêndios.
Apesar de representarem apenas sete por cento das actividades dos bombeiros durante o ano, os fogos florestais merecem sempre uma atenção especial por parte do Governo que este ano investiu 120 milhões de contos na prevenção. No entanto os soldados da paz continuam a acusar o executivo governamental de falta de uma política de protecção à floresta. "Quem quiser fazer uma verdadeira política de prevenção à floresta não pode preparar-se para ganhar eleições", conclui o comandante covilhanense.