Adelino Fernandes, presidente da recém inaugurada delegação da Covilhã da Associação Portuguesa de Deficientes quer "mudar mentalidades"
APD abre delegação na Covilhã
"Os deficientes não são coitadinhos"

Abriu a primeira delegação da Associação Portuguesa de Deficientes do distrito de Castelo Branco. O local escolhido foi a Covilhã e o propósito é possibilitar uma melhor integração dos deficientes na sociedade.



Por Rui Castro e Anselmo Crespo


"Queremos mudar mentalidades", diz Adelino Fernandes, presidente da nova delegação da Associação Portuguesa de Deficientes (APD) do distrito de Castelo Branco.
Tudo começou num café, onde Adelino e mais seis amigos se reuniam regularmente. Em comum tinham o facto de todos serem deficientes. Todos os dias sentiam na pele as dificuldades que a sua deficiência lhes causava, a maior das quais "a discriminação de que somos alvo por parte da sociedade", afirma. Surgiu então a ideia de criar uma associação que ajudasse, sem excepção, todos os deficientes.
Há 30 anos o Ultramar "roubou" a Adelino Fernandes uma perna e retirou-lhe a possibilidade de prosseguir a sua vida "normal". A sociedade passou a olhá-lo de forma diferente, como "um coitadinho".
Diz que os deficientes se sentem "ofendidos quando os tratam assim", e foi precisamente este o motivo que o levou a pensar na criação de uma associação que defendesse os interesses dos deficientes e que "os ajudasse numa melhor integração na sociedade", explica.
Adelino não queria uma associação qualquer, mas uma que abrangesse todo o tipo de deficientes, que defendesse os seus direitos e os ajudasse a encontrar soluções, daí a escolha da APD. Como exemplo, Adelino Fernandes lembra que "uma lei criada em 1997 diz que todos os espaços
públicos construídos a partir dessa data devem ter rampas de acesso entre outras condições que facilitem o acesso aos deficientes, mas essa lei simplesmente não é cumprida".

"Feliz? Só quando isto estiver de pedra e cal..."

Durante a apresentação de um livro seu, aproveitou a presença de diversas entidades camarárias para lançar o repto. "A vereadora da cultura respondeu favoravelmente e disse-nos que estava connosco", recorda. Surgiram então os primeiros contactos com a APD que aprovou a criação de uma nova delegação que abrangesse todo o distrito de Castelo Branco. A Câmara cedeu o espaço gratuitamente, na rua Comendador Mendes Veiga.


No Dia da Cidade da Covilhã, o sonho de uma delegação na Covilhã tornou-se realidade

No passado dia 20 de Outubro, dia em que a Covilhã comemorava 131 anos de elevação a cidade, Adelino Fernandes e os seus amigos viram o seu sonho tornar-se realidade. Garante que só ficará totalmente satisfeito quando "a delegação estiver de pedra e cal". Para já os dois mil sócios da delegação têm um espaço onde podem dirigir-se e expôr os seus problemas e dificuldades. "Ainda não temos advogado, mas quando há casos mais complexos contamos com o apoio da APD", explica. A longo prazo gostava de poder contar com um espaço maior "onde os sócios possam passar alguns momentos de convívio com jogos, televisão, e outras formas de passar o tempo", adianta o presidente da delegação da APD.
A nível nacional, a APD conta neste momento com cerca de 22 mil sócios. Os dois mil da delegação de Castelo Branco pagam uma cota simbólica de 100 escudos por mês, sendo esta uma das poucas fontes de rendimento da associação. Adelino Fernandes anuncia ainda algumas iniciativas que a
delegação pretende levar a cabo nos próximos tempos, tais como a "realização de um torneio de andebol de deficientes, a realizar na Covilhã, com data ainda por definir". O objectivo mantém-se: "Proporcionar o convívio entre os deficientes e a sociedade em geral", reforça.