Achado obrigou à alteração do traçado da auto-estrada da Beira Interior
Vila Romana da Fórnea ao abandono

A valorização do local terá sido assumida pela Câmara de Belmonte, mas não se realizou. Amândio Melo descarta responsabilidades. O IPA quer uma reunião para se definir uma solução para o achado.



Por João Alves
NC/Urbi et Orbi


A descoberta remonta já a Abril de 1998, quando no lugar da Quinta da Fórnea, a meio caminho entre Belmonte e Caria, foi encontrada uma Vila Romana. Tal achado surgiu quando se removiam terras, já que era ali que iria passar a Auto-estrada da Beira Interior, na altura denominada IP2. Estudou-se qual a importância do achado e a necessidade de se aprofundarem as investigações. A então Junta Autónoma de Estradas viria mesmo a alterar o traçado da Auto-estrada, uma decisão que deixava satisfeita a Câmara de Belmonte e os arqueólogos interessados em estudar uma zona de vestígios romanos. A autarquia terá assumido, na altura, o compromisso de musealizar o espaço e terá mesmo encomendado um projecto a uma empresa especialista na recuperação de monumentos, a "ArqueoHoje". Porém, o projecto (já elaborado) aguarda concretização e três anos depois da descoberta, a Quinta da Fórnea é um lugar abandonado. A única vida que tem é em seu redor, onde prosseguem as obras para a Auto-estrada da Beira Interior.
"Está mesmo tudo adandonado. Como se sabe, fez-se a escavação que revelou a existência de uma quinta agrícola. O traçado da estrada foi então desviado em 100 metros e o IPPAR é que ficou de dar seguimento ao processo. Ficou de negociar os terrenos, que são de um particular, para ali se fazer alguma coisa. Tanto quanto sei, não se fez nada. Nós não tivemos qualquer intervenção directa nisso" salienta o presidente da autarquia, Amândio Melo.

"Processo não está fechado"

A verdade é que a musealização do local continua adiada por tempo indeterminado. Porém, desde 1998, a Quinta da Fórnea é um lugar em que o mato cresce e em que o que foi escavado não tem protecção. O NC procurou obter explicações junto do Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR), em Castelo Branco. Porém, um dos responsáveis por esta delegação, José Conceição Afonso, salienta não ter conhecimento do processo, remetendo-nos para o Instituto Português de Arqueologia (IPA). Junto da delegação da Covilhã desta instituição, o NC apura que este processo "ainda não está fechado". Segundo fonte do IPA, este instituto, na altura, terá proposto a salvaguarda do achado, ou seja, a sua protecção sendo subterrado. Uma ideia que não terá agradado à autarquia belmontense, que sugeriu a valorização da estrutura de modo a criar um roteiro turístico que contemplaria, para além deste local, o Castelo da vila e a Torre de Centum Cellas, dois locais onde também se procedeu a escavações arqueológicas. Por isso, terá pedido um projecto de valorização à empresa responsável pela escavação, a Arqueohoje, em Viseu. Após a aprovação do projecto, o IPA deu "luz verde" para que a tudo avançasse, "já que permite uma protecção, preservação ao mesmo tempo que lhe dá visibilidade". Porém, "a Câmara não deu seguimento. Isto tem consequências erosivas. O IPA não se desresponsabiliza e garante que aquilo não vai ficar assim. Vão-se tomar medidas muito brevemente. Teremos que realizar uma reunião entre as partes interessadas, pois neste momento o mais importante são as medidas de preservação" garante fonte do IPA.
A Vila Romana da Fórnea foi um local que albergou uma pequena comunidade auto-suficiente, durante dois séculos (II a IV). A exploração daquele local revelou vários núcleos de construção, onde emergem as fundações da residência, dos estábulos e celeiros, formando pequenos quadrados perfeitos. A dividir as duas principais áreas está um caminho em grandes blocos de granito. No local foram ainda encontradas duas mós e potes de armazenagem de azeite e vinho.