Por Ana Filipa Silva


O ministro da Cultura, Augusto Santos Silva, participou na abertura das conferências

O cartaz da International Conference on Network Culture 2001 anunciava a presença de seis oradores internacionais, entre os quais Jonathan Crary, que não pôde estar presente devido aos problemas que assolam a sua pátria, os Estados Unidos da América.
A primeira a discursar foi a antropóloga Jacalyn Harden, da Seattle University. O seu trabalho centrou-se no que a tecnologia trouxe para as nossas vidas. O binómio natural- artificial mereceu algumas palavras nesta nova concepção do humano. As novas tecnologias passam a imagem de libertadoras das nossas mentes, no entanto são apenas escapes para a mentira, através por exemplo da criação de novas personagens para nós mesmos. A oradora apresentou-se muito expressiva, utilizando um pouco de ironia e humor no seu discurso. O seu texto era longo, mas nem isso fez com que o público ficasse decepcionado.
Henri-Pierre Jeudy, escritor, dissertou acerca de como viver o corpo em imagem e morrer em imagem. Falou da banalidade partilhada em que vivemos, entre o exibicionismo e o voyeurismo. Deu como exemplo a versão francesa do Big Brother e as webcams, distinguindo-se estas últimas pelo facto de aí não existir expulsão real como no programa televisivo. Deixou a mensagem de que o simbólico é uma arma da virtualização. Se este fosse efectivo, não seria virtual.


Mark Poster, da University of California- Irvine, foi o último orador internacional a discursar

A terceira figura internacional a discursar foi Ieda Tucherman. Esta professora da Universidade do Rio de Janeiro colocou a questão "Quais são as experiências necessárias e as desejadas?". Para Claudia Giannetti a problemática é outra. Nessa o Ciborg ocupa um lugar de destaque. O seu texto foi exposto acompanhado por alguns excertos ilustrativos de um filme chamado 13º Andar em que podemos ver o conflito entre os seres supostamente reais e os pseudo-virtuais, suscitando a dúvida do que afinal é realmente humano.

"O Ciberespaço é algo de conservador"

Mark Poster, da University of California- Irvine, encerrou o leque dos oradores internacionais. De entre os oradores portugueses destaca-se António Fernando Cascais, da Universidade Nova de Lisboa, que apresentou uma palestra baseada nas ideias de Foucault e que lhe deu o nome de "O Insacrificável". É próprio do Humano a não- sacrificabilidade, no sentido de que a morte impedia a sua circulação, ou a sua vida em rede. Na nossa época, o corpo é pura informação manipulável e, por isso, o genoma humano é o elemento característico do que é Humano. Tal é reforçado quando a UNESCO o declara intocável. Neste caso, a fala humana passa a ser a do gene.
Luís Carlos Nogueira, doutorando da Universidade da Beira Interior, também lançou alguns tópicos para discussão, um deles é o de que "O Ciberespaço é algo de conservador", pois promete o absoluto, mas quem controla esse espaço são as leis humanas e não as da natureza ou as leis divinas, o que gera algumas injustiças e particularidades. O filme Matrix fora várias vezes referido como um exemplo de humanos que entram na virtualidade através das novas tecnologias. Inclusive existe uma personagem dessa produção que provoca o pensamento de que apesar de existir a possibilidade desse "novo mundo" não ser nem belo nem libertador, tal não significa que não se queira participar nele.
António Fidalgo, professor da UBI, falou da experiência e da relação entre sensação e percepção, apresentando como exemplo a diferença da ida a uma biblioteca física e a uma on-line. Afinal, trata-se do "pai da BOCC", a biblioteca que da rede faz cultura.
Foram três dias em que todos estiveram conectados ao conhecimento das novas tecnologias, e a todas as dúvidas e fascínio que essas suscitam. O Ministro da Cultura, Augusto Santos Silva, abriu os trabalhos, mas o Secretário de Estado da Comunicação Social, Alberto Arons de Carvalho, não esteve na sessão de encerramento, pois sofreu um pequeno acidente que impossibilitou a sua presença nesta conferência.