S p a c e k

"Curvatia"
- Universal Island Records, 2001

Algures num limbo em que balançam a soul, o jazz, o funk, o hip-hop mais atmosférico e o groove próprio de toda a música negra, "Curvatia" aparece como um ser estranhamente familiar. Numa época que parece não ser a sua, o álbum de estreia dos ingleses Spacek é, no entanto, ele próprio, uma entidade musical capaz de ultrapassar o tempo e colocar-se num patamar reservado apenas a alguns. Aqueles que inovam sem pretensiosismos e sem fórmulas altamente limitadas.
É inegável que o trio liderado por Steve Spacek (composto ainda por Edmund Cavill e Morgan Zarate) tem nas figuras de Marvin Gaye e Curtis Mayfield referências incontornáveis, mas também é indesmentivel que "Curvatia" é, acima de tudo, um ponto de partida para uma nova sensibilidade da música popular. Não é por acaso que o líder do grupo, em entrevista recente ao jornal Público diz: "Marvin e Curtis foram tão ou mais essenciais para a música popular do que Steve Reich, Sun Ra ou Stockhausen. Fizeram música simples, mas absolutamente revolucionárias". E é nesta vertente de ruptura e inovação que se posicionam as estruturas sonoras dos Spacek. A música respira, solta, embelezada por uma voz quente e orquestrações sem mácula por entre composições eminentemente soul baptizadas com palavras doces, sensuais e esperançadas. Ouça-se "Getaway", "Smiles and Roses", ou "How", por exemplo, e comprove-se a excelência do projecto.

 

por sérgio felizardo