Por Rui de Castro


Carlos Lavrador, candidato pelo Partido Socialista à autarquia covilhanense

Urbi@Orbi: Quais são os motivos que movem a sua candidatura à presidência da Câmara Municipal da Covilhã?
João Carlos Lavrador: A minha candidatura contém razões do coração e razões da razão, propriamente dita.
Uma razão do coração é o facto de me realizar profissionalmente nesta cidade desde há um quarto de século para cá, e também devido aos meus filhos que, apesar de não terem nascido na Covilhã, são covilhanenses. Isso cria raízes e dá-nos "carta" de cidadão covilhanense, que é como me sinto.
Outra razão do coração é que ao longo de muitos anos fui construindo um conjunto de grandes amizades, pessoas por quem nutro grande simpatia, a quem devia também uma satisfação, pois pediram para me candidatar.
Um dos motivos da razão é o meu passado político. Este permite-me apresentar perante o eleitorado, com credenciais suficientes para que eles acreditem que eu possa trazer algo novo à Covilhã, ao futuro dos covilhanenses e ao Concelho da Covilhã.
Depois, porque quem está no Partido Socialista sabe que aí há princípios éticos que transcendem as conveniências pessoais e há momentos que só uma palavra é possível, a palavra Sim.
Estou, portanto, de alma e coração a assumir a minha candidatura que não é apenas pessoal, mas uma candidatura de um conjunto de pessoas que constituem as várias listas, entre eles vários jovens.

U@O: No caso de ser eleito para a Câmara, quais são os projectos que apresenta para o Concelho da Covilhã e para a cidade?
J.C.L.: Desde logo, o urbanismo e o ordenamento do território da cidade e do Concelho. Pensamos que há excesso de ocupação, desordenada, pouca diversificação em termos de espaços de lazer e serviços alternados com espaços habitacionais, arquitectura de gosto duvidoso e o não planeamento da zona nova da cidade, que está em crescimento.
No entanto, com a ajuda do programa Polis, tentaremos a requalificação, se formos eleitos, de zonas suburbanas, nomeadamente do Refúgio, Santo António, Boidobra e Cantar Galo, que carecem de uma intervenção profunda de requalificação urbana.
Por outro lado, achamos que a actual variante à Covilhã, a curto prazo, deixará de suportar o trânsito de passagem, que será transladado para o novo IP2, ainda em construção. Portanto, será a grande oportunidade de, na zona de expansão da cidade, termos o eixo estruturante em que se faça um plano exigente e exemplar em termos de distribuição urbana.
Sob o ponto de vista dos transportes, preocupa-nos a acessibilidade dos mesmos. A cidade é difícil, uma cidade de montanha, com um núcleo antigo apertado e, por isso, achamos que a construção do Silo-Auto é um erro crasso. Isto porque contraria todas as orientações que, a nível europeu, vão sendo dadas a cidades, desta ou de outra dimensão, com centros históricos. A Covilhã vai funcionar exactamente ao contrário, pois vai atrair para o centro da cidade o trânsito automóvel, quando o que devemos privilegiar são pequenos factos periféricos que funcionem como uma constelação à volta da cidade. A circular envolvente à Covilhã deve confluir, de modo radial, para o centro da cidade onde o transporte público sairá privilegiado.
Outro ponto de intervenção social que julgamos positivo e queremos continuar é o Cartão Municipal do Idoso. Estamos a trabalhar no seu enriquecimento e, seguramente, vamos propô-lo também como medida social de compensação em termos de justiça social das camadas mais desfavorecidas, neste caso a da terceira idade.
Em relação à cultura, somos muito críticos da situação actual. Tem sido feito muito pouco. Não é utilizado o potencial endógeno da cidade e do Concelho, das suas múltiplas associações e grupos. Contaremos com os nossos próprios recursos e tentaremos estabelecer uma relação de complementaridade com os restantes Concelhos, nomeadamente Castelo Branco, Guarda e Fundão.
Preocupa-nos a relação entre a Universidade e a Câmara Municipal da Covilhã. Achamos que a Universidade é hoje um meio inestimável. Portanto, devem ser concluídas as sinergias próprias de modo a complementarem-se na sua acção e a interligarem-se em acções comuns sobre expansão, planeamento e, inclusivamente, de conhecimento de quadros que são necessários à Câmara para a expansão da cidade e para a própria expansão e funcionamento da UBI. Isso consegue-se, na nossa opinião, constituindo um grupo misto que funcione com reuniões periódicas e fixas.
Iremos propor a criação do Provedor Municipal do Cidadão, facto que não existe sob o ponto de vista institucional. Terá por função mediar os conflitos entre a administração autárquica e o cidadão.
Consideramos emblemática a obra que iremos propor que é a construção de um centro de estágio de altitude das Penhas da Saúde. Será um centro de estágio único no País que visa, não só o apoio a atletas portugueses, em complementaridade com o complexo desportivo, mas também com qualidade para acolher atletas dos vários pontos da Europa que queiram cá vir estagiar em altitude.
Nas cidades de hoje, a criação de pólos de atracção funciona como a grande causa-efeito. Assim, outra das grandes obras inseridas no nosso projecto é a criação de um parque temático, atendendo ao carácter emblemático da Serra da Estrela, baseado na água e em tudo o resto, isto é, na etnografia, nas variedades botânicas, zoológicas, na sua história, arqueologia, nos costumes, nas potencialidades turísticas. Este parque temático, que edificará na encosta sul da Serra da Estrela e, portanto, ligado à Covilhã, vai fazer uma interligação estreita com o museu da UBI e deve constituir um elemento de atracção que representa tudo o que a Serra tem de grande e de bom.

"...Há uma crítica de fundo. Essa, não tanto a ver com obras, mas com princípios, com valores"

U@O: Já apontou algumas críticas ao mandato de Carlos Pinto. Quer fazer mais algum comentário acerca disso?
J.C.L.: Tenho um conjunto de críticas a fazer, mas que ninguém espere de mim uma atitude de que tudo está mal, como foi apanágio dos vereadores do PSD na Câmara anterior. Achamos que, por exemplo, na questão das acessibilidades à cidade, se tem feito uma obra com qualidade, mas discordamos do arranjo que foi feito no jardim, porque descaracterizou e varreu do mapa a memória histórica daquela área da cidade.
Somos extremamente críticos em relação ao Silo-Auto, mas há uma crítica de fundo. Essa, não tanto a ver com obras, mas com princípios, com valores.
De facto, vivemos num sistema, num regime democrático. As instituições e aqueles que as dirigem e representam têm de se comportar de um modo exemplarmente democrático.
Assistimos há poucos dias a uma situação que é de uma gravidade absoluta, é um ultraje à prática democrática. Trata-se da distribuição de uns panfletos por parte da Câmara pelas diferentes freguesias, em que aparecem um conjunto de verbas supostamente atribuídas e obras fantasma. As populações, perante tal informação, tendem a questionar o Presidente da Junta sobre o que fez com as tais verbas, quando elas não foram sequer atribuídas à Junta de Freguesia. Actos desses só podem ser praticados por quem não tem escrúpulos e não se importa de ferir a dignidade das pessoas. Por consequência, a honorabilidade pessoal dos Presidentes da Junta é posta em causa e isso não permitiremos.
Fiquei também chocado quando me apercebi de que há associações onde os auxílios da Câmara em forma de cheque, são apresentados em fotocópia, expostos nas associações, dizendo que a Câmara Municipal contribuiu com importância tal para essa associação. Isto é inacreditável, para já não falar na segregação e marginalização de que foram vítimas as Freguesias Socialistas, nomeadamente nos últimos tempos.

U@O: Está confiante na vitória?
J.C.L.: Quem concorre pelo Partido Socialista arrisca-se sempre a ganhar, sobretudo com a população de um Concelho que sabe distinguir as situações e sabe que há percalços, coisas que correm menos bem, mas no fim de contas é o Partido em quem confiam esmagadoramente.
Há um pormenor extremamente importante que é o facto de não nos envergonharmos do Partido a que pertencemos. Pertencemos com grande orgulho ao PS, apresentando-nos enquanto candidatos.

U@O: Em caso de derrota admite desistir de lutar pela presidência da Câmara da Covilhã?
J.C.L.: Digamos que tenho um passado que fala por mim no campo político e estarei de acordo com as minhas convicções numa atitude de bem servir a terra que me acolheu.
Estarei disponível em determinadas circunstâncias, para aquilo que entender melhor para o meu Partido, para o meu Concelho e para o meu país. Daqui a quatro anos será o que Deus quiser, mas o sinal claro é que apostamos na renovação do Partido, temos grandes quadros que se irão afirmar nestes quatro anos.

U@O: Tem alguma palavra a dizer ao eleitorado em geral?
J.C.L.: Para o eleitorado, em geral, peço que reflictam no sentido do seu voto e tenham em atenção, não à publicidade enganosa, não à poeira que anda no ar, mas que procurem reflectir em profundidade sobre os valores e sobre as pessoas. Tentem perceber quem é que lhes dá as garantias de, no futuro, os ouvir, de os respeitar e de, ao ouvir e respeitar a sua opinião, procurar agir em conformidade com elas. Comigo na Câmara terão sempre um amigo, sempre disponível para os ouvir.



 

Perfil
 
José Carlos Lavrador é o candidato pelo Partido Socialista à Câmara Municipal da Covilhã. Tem 55 anos, é casado, tem dois filhos e é natural do Concelho de Mira.
É licenciado em Matemática e, neste momento, professor efectivo do Ensino Secundário na Escola Campos Melo, na Covilhã. Leccionou durante quatro anos na UBI como assistente convidado e foi Orientador de Estágio Pedagógico.
A nível político, José Lavrador é membro da Assembleia Municipal há sensivelmente 16 anos, na qual presidiu durante os últimos dois mandatos. É deputado há seis anos pelo círculo de Castelo Branco e pertence desde 1985 aos órgãos políticos locais do Partido. O candidato foi ainda presidente da Comissão Política durante dois mandatos e é membro do Secretariado da Federação Socialista de Castelo Branco.