António Fidalgo

A paixão continuada


Certamente que uma das razões que levaram os portugueses a votar em António Guterres em 1995 foi a sua declarada paixão pela educação. O eleitorado considerou então que a educação era um assunto importante e actual na política nacional e decidiu dar a maioria ao Partido Socialista. Agora que passaram seis anos, e que António Guterres pediu a demissão de primeiro-ministro, é preciso dizer que a educação deve ser uma paixão continuada de qualquer governo português, independentemente da cor política.
Convém dizer desde logo que a paixão pela educação não significa neste momento mais dinheiro para a educação. A percentagem que o Ministério da Educação tem no orçamento do Estado é suficiente. Não se melhora só por se gastar mais dinheiro no que se pretende melhorar. Sabemos muito bem, passados estes seis anos, que o dinheiro público, saído dos impostos de todos nós, pode ser gasto - e tem-no sido! - sem melhorias significativas.
Hoje o ensino, desde o básico ao superior, enfrenta problemas não menos menores do que os de 1995. O maior problema hoje é certamente o clima de facilitismo que se instalou. É preciso que a paixão seja agora uma paixão pelo trabalho bem feito, com rigor, com estudo sério. Os estudantes portugueses não podem e não devem continuar a ocupar os últimos lugares nas listas internacionais de avaliação escolar. Outro problema que terá de ser necessariamente resolvido é o da inflacção de cursos e de vagas no ensino superior. Tem de se fazer uma racionalização. Não vai ser fácil, até porque mexe com regionalismos e bairrismos, mas é algo que tem de ser feito. A paixão pela educação tem de continuar e de ser melhor sucedida.