Carla Loureiro
NC/Urbi et Orbi


Cegos receberam acções de formação sobre o euro

A entrada em circulação da nova moeda, o euro, trouxe algumas complicações para as pessoas. E os invisuais foram, talvez, dos mais afectados com a sua chegada. Durante a fase de desenvolvimento da nova moeda, os peritos em artes gráficas consultaram a União Europeia de Cegos. Como resultado dessas consultas, foram incluídos vários elementos nas notas e moedas para ajudar os invisuais e Amblíopes a reconhecerem facilmente pelo tacto as diversas denominações.
Antes do Euro entrar em circulação, todas as delegações da Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO) tiveram acções de formação com réplicas das novas notas e moedas. A iniciativa também passou pelo núcleo da Beira Interior. Segundo o seu presidente, Gil Cabecinha da Cruz, "nas acções de formação tínhamos cartas em escudos e euros codificadas em braille para ficarmos a saber como era a nova moeda". Nestes encontros foi ainda facultada aos invisuais uma cassete que, repetidamente, dizia o valor do Euro. "Preparámo-nos o melhor possivel", afirma Cabecinha da Cruz.
No entanto, os cegos portugueses, à semelhança daquilo que acontece como os seus congéneres espanhóis e belgas, podiam usufruir de um conversor sonoro para a nova moeda. A falta de apoio financeiro e o conhecimento tardio da existência destas máquinas são as principais razões para que os cegos do nosso País não tenham acesso a estes conversores. Mas para o presidente do núcleo da Beira Interior, "os cegos já não têm qualquer problema com a nova moeda. O que ainda é dificil e que acontece com quase toda a gente, invisual ou não, é a conversão. Esses conversores não íam fazer diferença nenhuma".

"Sede social da ACAPO é na Covilhã"

O Euro é, todavia, uma ínfima parte de todos os problemas com que os invisuais da Beira Interior se deparam. A inexistência de emprego, as falhas de informação em braille, e, principalmente, a falta de sensibilização da comunidade para os problemas que afectam os cegos, são as maiores queixas do presidente do núcleo da ACAPO da Beira Interior. "O Governo e as entidades locais não se interessam se temos ou não emprego. Há que chamar a atenção aos empresários, pois eles têm muitos benefícios fiscais se derem trabalho a uma pessoa invisual", alerta Gil Cabecinha da Cruz.
Fundada em 1996, a delegação local da Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal, foi a primeira do País. Porém este estatuto não trás satisfação ao responsável do núcleo da Beira Interior. "Hoje sinto-me triste porque estamos a ser ultrapassados por outros núcleos muito mais recentes, uma vez que possuem técnicos, pessoal empregado e nós não". O acordo atípico com a Segurança Social de Castelo Branco e que daría subsistência à delegação, não "anda nem desanda". Esta situação leva a que actividades como orientação e mobilidade, formação na área da informática e a assinatura a negro, estejam comprometidas.
A principal luta de Cabecinha da Cruz é fundar a sede social da Associação na Covilhã: "Enquanto eu estiver à frente da delegação a sede virá para a Covilhã, mas com uma extensão em Castelo Branco", defende. O responsável avança que já remeteu, em Dezembro de 2001, uma proposta à Câmara Municipal covilhanense para que a autarquia contribuisse na construção da sede. "Tivemos a palavra e o compromisso do vereador Joaquim Matias de que a Câmara nos iria ajudar", explica Cabecinha da Cruz.
Já no dia 2 de Fevereiro, o núcleo vai a eleições para o triénio 2002/2004.